O governo vive um dilema na tramitação da reforma da Previdência na comissão especial criada na Câmara exclusivamente para analisar as proposta de mudanças nas regras de aposentadoria.
De um lado, sabe que precisa acelerar o cronograma para evitar o surgimento de novos focos de resistência que possam desidratar ainda mais a proposta original. Do outro, tem a consciência de que não pode correr demais na comissão especial porque sabe que ainda está longe de ter os 308 votos em plenário.
O governo já recebeu a sinalização de várias propostas de mudanças ao texto original. E tenta resistir ao máximo para flexibilizar apenas nos pontos de maior repercussão, como as mudanças na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC).
No entanto, integrantes da equipe econômica já não escondem mais a preocupação com novos movimentos, como o do MDB, que informou que quer manter o atual modelo de aposentadoria especial dos professores.
“Quanto mais tempo de debate na comissão especial, mais propostas surgirão para mudar o texto do governo”, disse ao Blog um ministro.
O Executivo sabe que precisará de uma margem de gordura de uns 330 votos em plenário para não correr o risco de não aprovar a reforma da Previdência, como aconteceu em 1998. Na ocasião, a idade mínima não passou no governo Fernando Henrique Cardoso por um voto.
À época, o então deputado Antonio Kandir votou errado pela abstenção. Para uma PEC, é necessário um placar mínimo de 308 votos.
Diante deste impasse, o Palácio do Planalto sabe que terá que negociar com os partidos do chamado Centrão. O governo está disposto a negociar inclusive cargos e liberação de emendas, mas reconhece que haverá uma dificuldade maior, já que os líderes estão resistentes depois de um tratamento distante recebido pelo governo no primeiro momento.
Por Gerson Camarotti