Ao fim deste ano, economia da região estará 0,6% maior do que em 2014, último ano em que o Brasil cresceu, segundo estudo da Tendências. Nordeste tem pior resultado e ainda vai acumular queda de quase 5% desde o início da crise.
O Norte deve ser a única região que conseguirá, ainda este ano, superar de vez os estragos provocados pela crise. Ao fim de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) da região estará 0,6% maior do que o observado em 2014, último ano em que a economia do Brasil cresceu antes do começo do período recessivo.
Os dados são de um estudo da consultoria Tendências. O levantamento mostra que, além da recuperação mais rápida do Norte, há uma disparidade significativa no desempenho entre as regiões.
A economia do Nordeste, por exemplo, é a que tem apresentado a menor força de recuperação – o PIB nordestino estará quase 5% inferior ao patamar de 2014 no fim deste ano. Sudeste e Sul ainda terão queda acumulada de 3,8% e 1%, respectivamente.
Por fim, o Centro-Oeste caminha para superar os efeitos da crise, mas a economia da região ainda será 0,1% menor do que a apurada em 2014.
Norte é destaque — Foto: Arte/G1
Quando se analisa a economia brasileira de forma geral, o PIB do país deve encerrar o ano 2,7% abaixo do patamar anterior ao início da crise.
Durante o período de recessão enfrentado pelo Brasil, a economia do Norte chegou a recuar 4,6% em 2016. A região foi fortemente afetada pelo fraco desempenho do setor de eletroeletrônico e pela restrição das contas públicas dos estados – no Norte, 31,9% dos ocupados estão no setor público, segundo a Tendências. Portanto, o desempenho de municípios e governos estaduais tem papel fundamental na dinâmica da atividade local.
Como comparação, na média do país, 20,7% dos ocupados estão no setor público.
Agora, são vários os fatores que beneficiam a região Norte, de acordo com o levantamento:
- No Pará, houve a maturação de projetos de mineração, o que ajuda a dinamizar a região;
- Retomada da Zona Franca de Manaus;
- Com a região se tornando uma área de fronteira agrícola, a agropecuária dá sinais de força.
Em Carajás, no Pará, o complexo de mineração S11D da Vale – batizado de Eliezer Batista – começou a operar há quase dois anos. Ele pode produzir até 90 milhões de toneladas e já opera com 70% da capacidade. No segundo semestre de 2018, a produção na região superou o volume produzido em conjunto pelos sistemas Sudeste e Sul da companhia.
Já a Zona Franca de Manaus costuma acompanhar os ciclos econômicos e tem se beneficiado da volta da retomada – ainda que bastante modesta – da economia brasileira.
Recentemente, o país se viu em uma polêmica envolvendo a Zona Franca de Manaus. No fim de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou um incentivo tributário para as companhias que compram produtos da região. A decisão reconheceu o direito de contribuintes de obter créditos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Com a decisão, o crédito gerado na venda de insumos pode ser usado pelo contribuinte para abater outros tributos, como o Imposto de Renda. O governo estima um impacto de R$ 16 bilhões para as contas públicas.
“Entre 2017 e 2018, o Norte foi destaque por conta da indústria extrativa e também da recuperação dos setores fortemente impactados pela crise, concentrados na Zona Franca de Manaus”, aponta a economista da Tendências e responsável pelo levantamento, Camila Saito.
Mina do projeto S11D, da Vale, em Canaã dos Carajás (PA) — Foto: Agência Vale
Os números mais favoráveis do Norte ajudam a criar um ambiente positivo para a economia da região como um todo. Neste ano, a fatia do consumo do Norte no bolo nacional será de 6,25%, segundo a consultoria IPC Marketing. É participação mais baixa entre as grandes regiões do país, mas o número esperado deve ser acima do observado em 2018, quando foi de 5,89%.
Ao todo, o potencial de consumo do Norte é estimado em R$ 282 bilhões.
“Apesar do resultado mais favorável, a economia do Norte ainda apresenta alguma instabilidade. Isso se explica pelo fato de a região ter uma extensão geográfica grande e locais com difícil acesso”, afirma Marcos Pazzini, responsável pelo estudo da IPC Markteing.
Nordeste em dificuldade
Os dados da atividade econômica regionalizados mostram uma dificuldade do Nordeste em apagar os efeitos da recessão. Um quadro bastante diferente do vivenciado pela região no início dos anos 2000, sobretudo entre 2003 e 2014, quando exibia taxas de crescimentos acima da média nacional.
No período de forte crescimento, a região se beneficiou de investimentos públicos em setores como petroquímico, energia renovável, petróleo e gás. Um mapeamento da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan) com base em dados dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dá um indício dessa dessa perda de dinamismo da região. Em 2014, os desembolsos para projetos da região somaram R$ 24,3 bilhões. No ano passado, recuaram para R$ 11,9 bilhões.
“O impacto da crise econômica e política que assolou o país chegou de forma mais significativa em 2015 no Nordeste e coincidiu com a desmobilização dos investimentos”, diz o economista e sócio da Ceplan, Paulo Guimarães. “O final da implantação de grande parte dos empreendimentos estruturadores e dispensa massiva de mão de obra fez a taxa de desemprego aumentar rapidamente e, obviamente, reduzindo expressivamente a renda média das famílias.”
Os programas de transferência de renda e o aumento real do salário mínimo – que impacta o valor das aposentadorias – também tiveram uma contribuição importante para o crescimento do Nordeste em anos passados. Na região, segundo a Tendências, 23,8% da renda familiar tem origem no INSS e 3% vem do programa Bolsa Família.
“Os programas de assistência social, como o Bolsa Família, também são considerados importantes no dinamismo econômico local. Embora o programa seja nacional, aproximadamente metade dos beneficiários está no Nordeste”, afirma Guimarães.
Na leitura dos economistas, para se recuperar, a economia do Nordeste tem como objetivo atrair a participação de agentes privados nos financiamentos de projetos – como em iniciativas que envolvam a Parcerias Público Privadas (PPPs) e em programas de concessões. “Para tanto é necessário criatividade na engenharia financeira para que se reduza o risco associado ao menor dinamismo econômico regional”, diz Guimarães.
Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1