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Hamilton prega sustentabilidade na F1 e quer ampliar “legado” de Senna

Lewis Hamilton já está em São Paulo para a disputa do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, no próximo domingo (17) no Autódromo José Carlos Pace (Interlagos). O inglês de 34 anos chega para a prova com o sexto título mundial da categoria assegurado com duas corridas de antecedência, após o segundo lugar na etapa dos Estados Unidos, em Austin, no último dia 3 de novembro.

O hexacampeonato o deixa a um título de se igualar ao maior ganhador da história da categoria, o alemão Michael Schumacher. Porém, o piloto que motiva Hamilton é outro. O brasileiro Ayrton Senna, tricampeão mundial, é o maior ídolo do inglês.

“Sempre fui motivado e impulsionado pela lenda Ayrton. Até hoje sinto falta de vê-lo nas corridas. Sempre quis fazer algo semelhante ao que ele fazia. Chegar aos mesmos três títulos era um sonho. É como em uma prova de revezamento: Quando alguém te passa o bastão, você tem de continuar. Então, acho que tenho que ampliar o legado de Ayrton”, disse Hamilton em entrevista coletiva realizada em um hotel na zona sul da capital paulista nesta quarta (13).

“Sinto a presença de Ayrton em todo lugar. Todo ano tento fazer alguma homenagem a ele em meu capacete. E farei novamente neste fim de semana”, prometeu.

Outra razão que faz o inglês ter um carinho especial pelo Brasil é que foi em Interlagos, há 11 anos, que ele conquistou seu primeiro título, ironicamente superando um brasileiro. Apesar de a prova ter sido vencida por Felipe Massa, concorrente direto pelo troféu, o quarto lugar do então piloto da McLaren (com a uma ultrapassagem na última curva da volta final para cima do alemão Timo Glock) fez Hamilton encerrar o campeonato um ponto à frente de Massa, naquela ocasião na Ferrari.

“Mesmo quando corri contra brasileiros, vejo que o carinho e o respeito que tenho aqui só cresceram. Essa é uma das corridas mais clássicas, com a participação de muitos fãs”, comentou.

Maior da história?

Hamilton também está próximo do recorde de vitórias na principal categoria do automobilismo: 91 (também de Schumacher). Com 83 triunfos, e mais uma temporada de contrato com a Mercedes, ele pode superar essa marca em 2020, assim como a de pódios (155 a 150 para o alemão). Hoje o hexacampeão já lidera a estatística de pole positions (87). Ele, porém, não considera que bater esses feitos o torne necessariamente o maior nome da categoria.

“É um esporte complicado. Sempre há elementos desenvolvidos em equipe. A nossa tem quase duas mil pessoas. Se não tivéssemos a melhor equipe, talvez eu não alcançasse o que alcancei”, ponderou.

“Quero viver o momento. É claro que a pessoa pode sonhar, ter aspirações. Porém, a semana passada já foi. Agora estou pensando nas próximas corridas, como posso melhorar. Claro, quero ganhar mais um campeonato, ainda estou muito determinado. Mas, nada é certo. Ano que vem a briga será ainda mais acirrada”, completou.

Na atual temporada Hamilton teve como maior concorrente o finlandês Valtteri Bottas, seu companheiro de equipe (até por isso a Mercedes também chega ao Brasil com o título de construtores garantido). Para 2020, ele vê como potenciais rivais o monegasco Charles Leclerc, da Ferrari, e o holandês Max Verstappen, da Red Bull. Na edição deste ano, a dupla da nova geração está à frente do alemão tetracampeão mundial Sebastian Vettel.

“Tive mais oportunidades de disputar com Max do que com Charles. Quando se encontra pilotos desse tipo, você entende cada vez mais como eles trabalham. Se freiam antes, como entram nas curvas. São agressivos, e eu não mudaria isso. Espero que, enquanto estiver aqui, eu ainda possa detê-los (risos). Fico ansioso de pilotar com eles, o desafio é maior”, analisou.

Categoria sustentável

Fora das pistas, mas ainda na Fórmula 1, Hamilton tem levantado a bandeira da sustentabilidade. Na última terça (12) foi anunciado um projeto para eliminar a emissão de carbono até 2030. Chase Carey, diretor executivo da categoria, afirmou que a unidade de potência híbrida já faz dos carros que disputam o circuito os “mais eficazes do mundo, com maior potência e menos gasto de combustível e, portanto, menor emissão de gás carbônico”.

O plano é considerado “ambicioso”, mas “totalmente realizável” pelos organizadores, e foi desenvolvido após 12 meses de trabalho em parceria com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Hamilton considerou o prazo “razoável”, mas avaliou que há condições para tornar a Fórmula 1 ecologicamente mais sustentável em menos tempo.

“Por que não fazer as coisas acontecerem agora? Viajamos muito, é um circo gigante indo de corrida para corrida. Seria bom aliviar a carga de etapa para etapa. Nas pistas há muito plástico e lixo gerado durante o fim de semana. Devemos ser mais sustentáveis, utilizar produtos recicláveis. Evitarmos plástico, por exemplo. Acho que a Fórmula 1 tem feito bastante com seus motores. Há alguns anos, eles eram V8. Não acho que sairá de V6 para um V4 tão cedo, mas espero que continuemos nessa trajetória”, disse.

A questão ambiental também é o motivo que faz Hamilton não se mostrar favorável à mudança do Grande Prêmio do Brasil de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde há a expectativa de construção de um novo autódromo em Deodoro, zona oeste da capital fluminense.

“Se já temos um circuito histórico (Interlagos), não é preciso cortar mais árvores. Acho que o dinheiro pode ser usado para coisas melhores. Ainda temos muita pobreza no Brasil. E há muita gente, muito talento. Se fosse o meu dinheiro, usaria em causas melhores. Educação é fundamental. Por exemplo, tenho engenheiros jovens, mas poucos são brasileiros. Deveríamos ter mais”, afirmou.

Esporte caro

O acesso restrito à Fórmula 1 é outra preocupação de Hamilton. Único piloto negro no grid e referência para atletas de diferentes etnias no automobilismo, ele lamentou que o custo para iniciação nos esportes a motor estejam cada vez maiores: “Se voltasse ao meu início, no cenário de hoje talvez eu não chegasse onde estou. Éramos uma família de classe média. O esporte está caminhando na direção errada. Não sei porque tem que ser tão caro comprar um kart”.

O inglês defendeu, porém, que competições e testes de jovens pilotos não se sobreponham à escola: “Eu diria que 95%, talvez 98%, dos jovens que estudaram comigo jamais chegariam na Fórmula 1. E o aprendizado deles acabou afetado pelo tempo dedicado à pilotagem. A FIA não deveria dar licenças a crianças que não concluíram sua educação. São coisas com as quais eu quero me envolver”.

Fonte EBC

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