A adolescência já não é considerada uma fase fácil. São muitas transformações, busca pelo autoconhecimento, descobertas. E, para alguns, motivo de frustrações, aflições, que demandam, inclusive, ajuda profissional.
Para atender a esse público, a Assembleia Social promoveu, na ocasião do Setembro Amarelo (campanha de prevenção do suicídio) o projeto “Desabafe. Quem cala só sente!”, na Escola Estadual Fenelon Müller. Além de passar uma tarde com os alunos naquele mês, com especialistas de diferentes áreas da saúde mental, dispôs uma psicóloga para atendimentos.
O atendimento em psicoterapia foi oferecido pela psicóloga parceira Wisliene da Silva Cortez, de outubro a dezembro, e acolheu 43 adolescentes por dois métodos: plantão psicológico e atendimento em grupo. Dentre os que passaram por sessões individuais, 23 precisaram de mais de um encontro.
Segundo a psicoterapeuta, os casos mais registrados foram de automutilação (como cortes nos braços), ideação suicida e conflitos familiares. Dos 43 atendidos, dois precisaram ser encaminhados para a rede de atendimento em saúde mental do SUS – as unidades do Caps, um para tratamento de drogas e outro por crises psicológicas.
“Eu senti melhora entre os adolescentes. Houve um sentimento de coisa nova na vida deles, nenhum havia sido atendido por psicóloga antes. Os próprios alunos identificavam aflição nos colegas e indicavam para terapia”, conta a terapeuta Wisliene.
Isabely Cristine Andrade de Souza, de 14 anos, foi uma das atendidas pelo projeto da Assembleia Social. Ela narrou que tinha crises de choro e atribuiu que era por ver os colegas em aflição e não saber como auxiliá-los. “Tive uma fase sensível, eu ajudava os outros e não me ajudava. E me sentia culpada quando não conseguia”.
Chegou a pensar em se matar, mas não se permitiu nenhuma atitude, porque, em sua religião, “o satanás ganharia”. Para afastar o pensamento, pensava nas pessoas que amava.
A adolescente teve três sessões de terapia com a psicóloga e considera que “saiu do fundo do poço”. “É difícil contar para alguém que está passando um momento ruim, mas ela foi me ajudando e hoje estou muito melhor”.
Outra adolescente, de mesma idade e também do 8º ano, Sulamitha Damares, chegou a cortar os próprios braços. “Eu me sentia sozinha, excluída, me sentia gorda, defeituosa, uma filha irresponsável, uma péssima aluna”, conta, narrando sua baixa autoestima.
Sulamitha foi vítima de bullying e passou a se considerar acima do peso (mesmo não sendo). Precisou, inclusive, ser atendida na UPA em função da automutilação. “Ela [a psicóloga] conversou comigo, me ajudou a me amar, a me respeitar e não sinto mais vontade de morrer. Hoje as pessoas podem até fazer bullying comigo, mas não sinto mais aquela angústia”, conta.
Quando a psicóloga sentia necessidade, acionava os familiares para orientá-los em como proceder com os adolescentes. Marli* é tia de um dos alunos atendidos e tutora legal de um dos alunos, de 13 anos. “Ele sempre foi muito quieto, sempre num canto, se você não conversa com ele, não fala”, contou, creditando tais comportamentos a um abuso sexual do qual fora vítima na primeira infância. E, após conversar com a terapeuta, avalia que está mais preparada para lidar com o filho do coração.
A coordenadora pedagógica da escola, Maria de Lourdes de Figueiredo, enalteceu a parceria e destacou que foi visível a melhora no comportamento dos alunos. “Teve uma menina com muitas crises de choro e hoje eu a vejo alegre, feliz. Para nós [da escola], foi maravilhoso!”, comemora.
“Nós sabemos quão importante é saúde mental e respeitamos o trabalho dos profissionais dessa área. Ficamos muito felizes com o expressivo resultado do projeto aqui nesta escola, mesmo em pouco tempo, que estamos pensando em novos formatos para 2020. A ideia é seguir incentivando o autoconhecimento e a autoestima para todos os grupos, especialmente o de jovens, com tantos conflitos internos”, vislumbrou a diretora da Assembleia Social, Daniella Paula Oliveira.
Fonte Assembleia Social