O genoma do novo coronavírus de amostra coletada do primeiro paciente diagnosticado no Brasil é diferente do genoma do segundo paciente que teve confirmação para a doença no país. Além disso, eles são diferentes do sequenciamento feito em pacientes na China. Isso é o que confirmou a pesquisa feita por cientistas do Instituto Adolf Lutz em parceria com o Instituto Tropical da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Isso indicaria, segundo os pesquisadores, que está ocorrendo transmissão interna nos países da Europa.
“O primeiro isolado se mostrou geneticamente mais parecido com o vírus sequenciado na Alemanha. Já este segundo genoma assemelha-se mais ao sequenciado na Inglaterra. E ambos são diferentes das sequências chinesas. Tal fato sugere que a epidemia de coronavírus está ficando madura na Europa, ou seja, já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus. Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados”, disse Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP, em uma entrevista dada à fundação que apoia a pesquisa.
O primeiro caso do novo coronavírus em um morador do Brasil foi identificado no dia 26 de fevereiro. Dois dias após a confirmação, os pesquisadores conseguiram fazer o primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus (o Covid-19) da América Latina. O segundo caso do novo coronavírus no Brasil foi confirmado no dia 29 de fevereiro. Ambos os pacientes são moradores de São Paulo, mas estiveram recentemente na Itália.
Segundo a Fapesp, o sequenciamento completo do segundo caso isolado viral foi concluído em 24 horas. Os dados do estudo serão divulgados em breve.
O trabalho tem sido conduzido com apoio do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde) – uma rede de pesquisadores dedicada a responder e analisar dados de epidemias em tempo real.
Para fazer o sequenciamento, com monitoramento em tempo real, o grupo faz uso de um equipamento portátil conhecido como MinION, usado pela primeira vez no país em 2016 para mapear a evolução do zika vírus.
Segundo Sabino, a principal vantagem de se monitorar em tempo real uma epidemia é a possibilidade de identificar de onde exatamente veio o vírus que chegou ao país, o que ajuda na promoção de ações para reduzir a disseminação da doença.
Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, disse que a intenção é sequenciar os genomas dos vírus em todos os casos que forem confirmados no país. Mas se os casos positivos começarem a se multiplicar em larga escala, o trabalho vai passar a ser orientado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde, que também integra o Projeto Cadde. “Nesse caso o sequenciamento passará a ser feito por amostragem e com base em métodos estatísticos, de modo a garantir que os casos amostrados sejam representativos do total”, disse o pesquisador.
Fonte : Agência Brasil de Comunicações