No fim de semana, o afastamento entre o presidente e Mandetta ficou ainda mais evidente, com a referência de Bolsonaro a que sua caneta não pouparia ministros que estão “se achando” e que de “normais” viraram “estrelas” – ao ser questionado sobre as declarações, Mandetta respondeu que estava “dormindo”. Bolsonaro reiterou também, em live ontem, que a “histeria” sobre o coronavírus foi “pregada junto ao povo brasileiro”. No lugar de Mandetta, conforme relato de O Globo, assumiria o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, também médico, mas afinado a Bolsonaro sobre o que tem de ser feito. Terra vinha comparando a Covid-19 ao H1N1, um vírus respiratório bem menos agressivo. No fim da tarde, veio a informação de que Bolsonaro teria sido convencido a não demitir Mandetta, ao menos por enquanto.
“Essa notícia da demissão, se vier a se confirmar, é deletéria. Contribuiria para um isolamento ainda maior do governo, dificultando a relação com o Congresso e os governos estaduais. Ainda que o presidente deseje uma mudança de rumo na Saúde, não acredito que os estados afrouxarão as medidas – no limite, o STF terá a palavra final, e tem se mostrado alinhado ao isolamento social”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. “Por enquanto, o mercado aqui continua muito correlacionado ao exterior, na medida em que os preços caíram muito. Mas quando estabilizar lá, a tendência é olhar mais o doméstico e aí poderemos sofrer. Os ruídos políticos certamente atrapalham a recuperação econômica”, acrescenta.
Os sinais de desaceleração da doença nos países mais afetados da Europa, como Itália, Espanha e França, contribuíram para o bom humor e o apetite por risco nesta segunda-feira nos negócios internacionais.Alguns países europeus, como Áustria, começaram a falar, no fim de semana, sobre volta gradual à normalidade. Em Nova York, os ganhos nesta tarde se mantiveram acima de 5%, apesar de as próximas duas semanas serem consideradas críticas para a curva do coronavírus nos EUA, especialmente na capital financeira do país, muito atingida pela doença.
Por aqui, “desde que superou os 72 mil pontos, o Ibovespa tem mostrado viés de alta”, diz Rodrigo Barreto, analista gráfico da Necton. A linha de resistência mais próxima está agora em torno de 75.240 pontos. Caso o Ibovespa consiga se sustentar acima dela, o ponto relevante seguinte está aos 77,7 mil pontos, diz o analista gráfico.
“Mas o que o mercado está olhando mesmo é a linha de 79 mil. Se atingida e rompida, será um ponto de virada, com os vendidos passando a zerar posições; os que estavam à margem, ingressando nas compras; e os que já estavam comprando, passando a comprar mais”, enumera. “Aos 79 mil pontos, teremos de fato uma força compradora”, resume o analista gráfico da Necton.
Para que o movimento seja sustentável, ele considera que o melhor seria que, nas próximas sessões, o Ibovespa passe por uma “correção lateral”, entendida como um movimento de até 2 mil pontos, para baixo ou para cima. “Hoje, era de se esperar que limitasse um pouco a alta em direção ao fechamento, o que foi bem-vindo”, diz Barreto. Por outro lado, observa o analista, caso o Ibovespa perca o nível de 71 mil a 72 mil pontos, que tem se mostrado relevante, haveria preocupação com uma correção direcional que levasse o Ibovespa aos 67 mil pontos, nível a partir do qual poderia buscar os 61 mil, em torno da mínima do ciclo de ajuste do índice ao coronavírus.
Nesta segunda-feira, destaque para as ações de bancos, com Bradesco ON em alta de 10,13%, a unit do Santander, de 10,81%, Banco do Brasil, de 9,25%, e Itaú Unibanco, de 7,36%. Também entre as blue chips, Petrobras ON subiu 5,42%, e a PN, 2,80%, com Vale ON em alta de 6,49% no encerramento.