A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) está atuando na região central da cidade de São Paulo para conter os efeitos da pandemia de coronavírus. A entidade desenvolve normalmente ações em situações de grave crise humanitária, como guerras, epidemias e catástrofes. “Nosso âmbito não costuma envolver lugares como São Paulo ou o Rio de Janeiro”, diz a coordenadora dos trabalhos na capital paulista, Ana Leticia Nery.
No Brasil, a organização tinha apenas um ponto de atuação, em Boa Vista, Roraima, onde atende aos imigrantes venezuelanos. Porém, a chegada do coronavírus fez com que os Médicos Sem Fronteiras vissem a necessidade de ação nas duas maiores cidades brasileiras.
“O nosso medo é que a pandemia acabe exacerbando a desigualdade no acesso à saúde, que já existe hoje. As populações vulneráveis, que já têm dificuldade em acessar o sistema de saúde, vão ter ainda menos acesso a ele no contexto da pandemia e vão acabar tendo uma mortalidade e transmissão desproporcionais à população geral”, explica Nery.
Vulnerabilidades
Por isso, um dos focos do trabalho da organização na capital paulista tem sido as 24,4 mil pessoas em situação de rua da cidade. “São pessoas mais velhas, 30% têm mais de 50 anos. São pessoas que têm doenças prévias significativas, que podem ser fatores de risco para coronavírus, como problemas pulmonares, o uso de crack, que é uma droga que afeta bastante a estrutura pulmonar”, diz médica sobre as condições que deixam essa população particularmente vulnerável ao vírus.
As equipes do MSF têm visitado albergues e locais onde há distribuição de comida, para conseguir atender tantos os que usam os abrigos públicos, quanto aqueles que dormem exclusivamente nas ruas. Os profissionais de saúde oferecem orientações e buscam identificar gente que tenha sintomas da doença. Os casos mais graves são encaminhados aos serviços de saúde.
Na semana passada, foram atendidos 278 pacientes. Desses, 37 tinham sintomas de coronavírus, sendo que três casos foram considerados graves e encaminhados a hospitais.
Nery lembra que para as pessoas que dormem nas calçadas e abrigos públicos, várias recomendações essenciais para evitar a disseminação do vírus não se aplicam. “Não existe o fica em casa, não existe o distanciamento. Eles vão continuar tendo que dormir nos albergues e nos abrigos, vão continuar dormindo na rua”, ressalta. Assim, a médica defende que a prefeitura e o governo estadual criem a possibilidade de isolar os casos identificados da doença, como forma de quebrar a cadeia de transmissão.
Além da população em situação de rua, a organização tem buscado atender a migrantes, moradores de ocupações, idosos que vivem em instituições e adolescentes internados na Fundação Casa, onde a organização fez um treinamento com 200 funcionários.
Edição: Graça Adjuto
Agencia Brasil de Comunicação