Realizada no âmbito do Edital de Inovação para a Indústria, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) selecionou dez propostas de soluções de impacto contra a pandemia do novo coronavírus, para participar da iniciativa batizada de Missão Covid-19.
Em duas etapas anteriores, a entidade contemplou 15 projetos, todos na forma de consultorias, metrologias, ensaios e análises e ações de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) que oferecem respostas à causa.
No total, será destinado um aporte de R$ 24,5 milhões aos projetos. O valor máximo reservado para um único projeto é de R$ 2 milhões. O edital é financiado conjuntamente pelo Senai, pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Um dos projetos escolhidos é da fabricante de eletrônicos Novus. Com um sistema composto por câmeras e de medição de índices corporais, como temperatura e frequência respiratória, o dispositivo visa reduzir a contaminação de profissionais de saúde durante a triagem de paciente. Os dados coletados pelo dispositivo poderão ser utilizados para auxiliar as equipes de atendimento a mapear o perfil dos pacientes que dão entrada nas unidades, usando recursos de inteligência artificial.
Outro projeto aprovado no edital consiste em um revestimento antiviral, cujo componente principal é a prata. O produto deverá ser lançado na forma de spray, para que seja aplicado em pontos como maçanetas de portas e balcões de atendimento, facilitando, assim, a esterilização de tais superfícies.
Conforme destaca o diretor-geral da TNS Nanotecnologia, Gabriel Nunes, empresa que irá desenvolver o spray, em conjunto com a Paumar (WEG Tintas), as nanopartículas de prata já são uma técnica presente em produtos disponíveis no mercado. Como exemplos, Nunes cita itens da indústria têxtil, cosméticos e tintas. “O nosso principal ativo nesse produto é a prata. Muita gente conhece a prata por ser um metal precioso. Mas, lá, vindo da época milenar, a utilização de pratas para o uso de talheres ou utensílios doméstico não é só porque é bonito e valioso, mas porque a prata tem uma propriedade natural de eliminar microorganismos”, explica.
Segundo Nunes, tendo em vista as regras do edital e que a equipe irá iniciar o desenvolvimento em maio, o projeto deve estar pronto em novembro, com a apresentação da solução proposta. A ideia é de que o spray seja vendido em farmácias e supermercados, tanto no Brasil como no exterior.
Perguntado pela Agência Brasil sobre como funcionam as certificações necessárias para que o produto possa ser lançado e comercializado, Nunes esclarece que, de forma geral, é necessário comprovar que a substância não faz mal para o organismo, nem em curto, nem em longo prazo. Para tanto, são realizados diversos testes, em que os pesquisadores a submetem a fatores como calor e luz excessivos, simulando mudanças a que pode estar sujeita no tempo.
“Hoje temos que comprovar que essa tecnologia não é tóxica nem citotóxica [que não faz mal a células]. Nós já conseguimos conferir que não é tóxica para as células de rim e pulmonares. Agora, já aplicamos para a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nos fornecer um número de registro, e isso leva cerca de 60 dias para sair, sendo que um laboratório emite um resultado e depois a gente leva para a Anvisa. Nós temos que fazer um teste de envelhecimento acelerado, para comprovar que ,mesmo ao longo dos meses ou anos, o produto não vai se transformar em algum complexo químico”, esclarece.
“Temos que seguir algumas normas e a maioria delas se baseia em princípios como envelhecimento por lâmpada UV [ultravioleta], para simular que o sol está incidindo sobre aquele material, só que a gente coloca sob uma intensidade muito forte, para simular que você está naquele sol do meio-dia, do verão. Depende do equipamento, mas tem uns em que um dia [de exposição] equivale a uma semana. Além disso, você estressa o produto de maneira anormal, você aquece e esfria, aquece e esfria, várias vezes, e nisso a gente vai verificar se, ao longo do tempo ou dentro de um meio de transporte, um navio, um avião, [o material] vai sofrer alguma alteração. E tem simulação para ver se provoca irritação dérmica. Antigamente, era feito em animais. Hoje, agora só é feito sob simulação. Então, a gente tem que ter todo esse embasamento teórico pronto, para montar um dossiê. Esse dossiê vai para a Anvisa autorizar”, detalhou Gabriel Nunes.
Edição: Aline Leal
Agencia Brasil de Comunicação