Este domingo, 10 de maio, marca a passagem de três décadas de funcionamento da Agência Brasil (ABr). O serviço de notícias da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) recebeu entre janeiro e abril deste ano mais de 54 milhões de visualizações em sua página na internet.
A agência publica em média 60 matérias por dia. Esse material está disponível a todos os cidadãos gratuitamente e pode ser utilizado livremente por qualquer veículo de comunicação, sem necessidade de autorização ou cadastramento prévio, desde que a ABr seja creditada como fonte de informação. Além de matérias em português, a Agência Brasil fornece textos em inglês e espanhol.
No mês de março, conforme o monitoramento AB Tracker feito diariamente junto a 605 sites, 1.667 matérias foram publicadas. Dessas, 1.649 foram replicadas por 308 sites, 98,9% do material posto no ar. No total daquele mês, o número total de replicações atingiu 40,5 mil. Boa parte das pautas está relacionada à prestação de serviço, como, atualmente, informações sobre o saque do auxílio emergencial de R$ 600. Muitas coberturas renderam prêmios jornalísticos à Agência Brasil (veja quadro).
Prêmios da Agência Brasil
2019 | 7º Prêmio Ação pela Água |
2019 | Prêmio Abmes de Jornalismo |
2019 | 36º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo |
2019 | 35º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo – Menção honrosa |
2018 | International Center for Journalists (ICFJ) & United Nations (UN) Foundation Journalism for Climate Change |
2016 | Prêmio Banco do Nordeste de Jornalismo |
2015 | Prêmio Petrobras de Jornalismo |
2015 | Prêmio SBR/Pfizer de Jornalismo – 2º lugar |
2015 | Prêmio Amigo da Criança – Andi – Reconhecimento pela atuação em defesa dos direitos da crianças e adolescentes |
2015 | II Prêmio Adep-DF de Jornalismo – 3 premiações (1º, 2º e 3º lugares) |
2013 | 1º Prêmio de Jornalismo do TRE-RJ – 1º lugar |
2013 | Prêmio Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) de Jornalismo |
2012 | Prêmio de Jornalismo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica |
2012 | VII Prêmio Orgulho Autista – fotografia |
2011 | Prêmio Abdias Nascimento de Jornalismo |
2009 | 31º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos |
2008 | 30º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos |
No caso das imagens fotográficas, o número de downloads é de 150 a 200 fotos por dia. Nos últimos três meses, cerca de 10 mil downloads foram feitos das imagens produzidas pelos fotógrafos da ABr.
Esses dados não somam o uso das matérias ou fotos em redes sociais e em jornais impressos. Também não é contabilizada a produção da ABr aproveitada pelas emissoras de rádio e de televisão. Além disso, os números ainda não consideram a reutilização na produção de livros didáticos e publicações acadêmicas, como ocorre tanto com textos quanto para fotos.
“Guardo com carinho as solicitações que recebi por fotos nossas das universidades de Oxford [Inglaterra] e Pittsburgh [Estados Unidos]”, conta Marcello Casal Jr., coordenador de Imagem da Agência Brasil, que além de fotos atuais, torna disponível material de acervo histórico da EBC com imagens desde 1964. Há fotos históricas, compartilhada por todos os veículos do Brasil, como a do presidente Tancredo Neves ladeado pelos médicos no Hospital de Base, em Brasília, feita por Gervásio Baptista em março de 1985.
Capilaridade
Para o presidente da EBC, Luiz Carlos Pereira Gomes, o intenso aproveitamento do material da Agência Brasil é indicador da qualidade do serviço prestado. “O jornalismo realizado pela agência é de excelência em razão da qualidade dos conteúdos que são veiculados. Acima de tudo, o veículo apresenta informações apuradas com fontes idôneas e fidedignas.”
“O trabalho da Agência Brasil também se destaca pelo cuidado no trato das informações e contribui para a credibilidade da EBC, em especial da Agência Brasil junto à sociedade. O material publicado é resultado de um trabalho de apuração minuciosa feita por uma equipe qualificada e experiente e que tem consciência da importância de informar a sociedade com exatidão e imparcialidade”, ressalta o presidente da empresa.
O professor de jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) Pedro Aguiar, especializado em agências de notícia, destaca a capilaridade da ABr. “A Agência Brasil tem uma importância imensa pelo fato de fornecer material gratuitamente, fotos e textos, para quem quiser usar. Por causa disso, ela adquiriu uma capilaridade imensa. Tenho certeza de que é um dos maiores canais de comunicação do Estado brasileiro.”
“Dentro da cadeia informativa, considerando o Brasil do tamanho que é, e que muitos jornais não têm condições de ter alguém trabalhando em Brasília , o material que a Agência Brasil fornece tem muita importância para as redações”, confirma Juliana Lisboa, doutora pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unsinos) com a tese Jornalismo de agência: a prática de agências nacionais nos países lusófonos – Brasil, Portugal, Moçambique e Angola.
Legado e modernização
Juliana Lisboa e Pedro Aguiar são autores de artigo científico que resgata a história das agências públicas brasileiras. Conforme os dois pesquisadores, a Agência Brasil é herdeira da Agência Nacional (1937-1979) e da Empresa Brasileira de Notícias, a EBN (1979-1988), que foi fundida com Empresa Brasileira de Comunicação – Radiobrás (1975-2008) – a antecessora da EBC.
Além do legado, a Agência Brasil carrega a missão de fazer a comunicação pública avançar para o futuro. “É uma agência de notícias que vai sobreviver a governos”, previu o jornalista Marcelo Netto presidente da Radiobras entre março de 1990 e maio de 1991.
Em entrevista à antiga TV Nacional, Netto alinhou a nova agência de notícias à agenda econômica. “A criação da Agência Brasil partiu do princípio de que o capitalismo vai sofrer uma modernização uma atualização neste governo, e que seria necessário a criação de uma agência de notícias compatível com esse projeto de desenvolvimento do capitalismo brasileiro. O que estamos lançando aqui hoje são as bases, é o esboço, é a semente, de uma futura agência de notícias internacional, nacional, e principalmente, independente.”
Assista à entrevista de Marcelo Netto:
A ABr surgiu durante o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Em depoimento à reportagem, o ex-presidente avalia que a criação da Agência Brasil se deu dentro da concepção do governo que desejava a “modernização de todos os aspectos da vida nacional, sobretudo na questão da sua administração”.
Inicialmente, o projeto do presidente Collor de modernização da administração pública federal incluía a privatização da Radiobras, como lembra o jornalista Cláudio Humberto, ex-porta-voz da Presidência da República, durante o governo Collor. Segundo ele, a ideia tinha sido tratada pela equipe de preparação do novo governo.
Antes da posse em 15 de março de 1990, o presidente eleito viajou a diferentes países. Acompanhando Fernando Collor na Rússia, Cláudio Humberto encontra-se com o também jornalista Luiz Recena, ex-superintendente da EBN que àquela altura trabalhava para a agência russa Tass e com quem comentou os planos de privatização da Radiobras.
“Eu tive uma conversa que foi definitiva para a desistência desse projeto. Ele acabou me convencendo disso”, lembra o ex-porta-voz sobre o encontro com o colega brasileiro na Rússia.
Recena foi persuasivo: “Eu disse a ele [Cláudio Humberto] o que penso até hoje. Todo governo precisa ter sua estrutura de comunicação. A estrutura de comunicação que vocês têm é um canhão. Vocês chegam a lugares a que ninguém chega”, rememorou à reportagem.
Dissuadido quanto à privatização da Radiobras, Cláudio Humberto conta que também argumentou com o presidente eleito e começou a conceber a reestruturação de Radiobras e tratar da recriação de uma agência de notícias. “Fiquei pensando em formas de valorizar a empresa. Quando voltei para o Brasil, eu convidei o Marcelo Netto para presidir a Radiobras e combinei com ele a criação de agência de notícias com esse nome Agência Brasil”, resume.
Para Recena, que depois do encontro com Cláudio Humberto passou pela Radiobras (governo Itamar Franco) e pela EBC (governo Michel Temer), “a Agência Brasil continua provando a sua necessidade”. “Ela tem a função de suprir deficiências de cobertura do noticiário de governo, que não é o noticiário do presidente de plantão, mas sobre aquilo que influi na vida do cidadão de sul a norte, leste a oeste. Produz um noticiário seco respondendo às perguntas básicas do contribuinte, que é quem nos paga, sobre o que está acontecendo.”
Marcelo Netto convidou a jornalista Miriam Tereza Chagas de Moura para ser diretora da Área de Notícias da Radiobras e executar o projeto de criação da Agência Brasil, que além de editorias tradicionais, como economia, agregou novas áreas como meio ambiente, ciência e tecnologia.
“Tínhamos carta branca. O interesse é que fizéssemos um trabalho jornalístico”, assinala Miriam Moura, que ficou na empresa até junho de 1991. Ela se recorda de coberturas especiais que foram capitaneadas pela Agência Brasil como o julgamento dos assassinos de Chico Mendes, em Xapuri, no Acre, e a entronização do imperador Akihito do Japão, ambos em 1990.
Atualização tecnológica
O jornalista Fernando Fraga foi testemunha de todas essas transformações. Ele trabalhou na EBN, participou do processo de fusão da antiga agência de notícias com a Radiobras e da transformação da estatal em EBC. Ocupou diversas posições na redação – desde repórter até gerente responsável pela Agência Brasil.
Em quase 40 anos no noticiário diário, com direito a plantões no fim de semana, Ferdy, como é conhecido, ainda sente prazer em trabalhar na ABr, onde hoje é editor. “Eu gosto do que faço. Esse é meu prazer. Eu ensinei muita gente. Tenho o maior orgulho”, conta.
Ferdy sente falta, no entanto, de mais reportagem de rua, de ficar “cara a cara” com a fonte. “Isso dá credibilidade”, aponta entendendo que a tecnologia facilitou acesso à informação, mas distanciou o repórter dos entrevistados. “Hoje a fonte manda e-mail”, comenta.
Wladimir Costa Teixeira, contemporâneo dos tempos de EBN, tem uma visão menos nostálgica. “Antes da internet, ficávamos 16 minutos para transmitir uma foto em preto e branco”. Ele divide o mesmo orgulho que Ferdy: “Todo mundo recorre a nós. Sempre tivemos fotos boas, de qualidade e de graça.”
Outras gerações também trabalham com satisfação na ABr. Repórter há oito anos da Agência Brasil na sucursal do Rio de Janeiro, Akemi Nitahara fez de sua ocupação objeto para trabalhos acadêmicos. A reprodução das matérias da agência foi tema de trabalho final em curso de MBA na UFF, em 2013, e assunto da dissertação de mestrado concluída em dezembro passado.
Segundo Akemi, a tecnologia não mudou a essência do serviço prestado pela ABr. “Apesar de a cada dia o site da Agência Brasil ter mais acesso do público leitor diretamente, ela ainda cumpre um papel muito relevante na distribuição de notícias mesmo, papel típico de agência.”
Para a gerente executiva de Web Agência Brasil, Narjara Carvalho, a tecnologia impõe um moto-contínuo de inovação e adaptação aos jornalistas da ABr para levarem informações aos leitores.
“O desafio é conseguir se reinventar dentro do processo de desenvolvimento tecnológico. A cada dia surgem novas formas de transmitir e de consumir informação”, ressalta Narjara.
Neste ano em que comemora 30 anos, a Agência Brasil mudou o site, que adquiriu uma apresentação mais moderna e interativa. “Isso proporciona leitura mais intuitiva e oferece ao leitor a oportunidade de consumir uma mesma notícia em diferentes formatos”, assinala Narjara, que quer mais espaço nas redes sociais e destaca ainda o trabalho de crossmedia para reunir conteúdos de texto, vídeo e áudio no site da agência.
Edição: Juliana Andrade