Cautela externa e cenário político interno empurram o Ibovespa para o negativo

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Cautela externa e interna impede o Ibovespa de emplacar o terceiro dia consecutivo de alta, em meio a temores de uma nova escalada na tensão comercial entre Estados Unidos e China. Além disso, a cena política não enseja otimismo e hoje há grande expectativa com a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, que comprovaria a acusação do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro tentava interferir politicamente na polícia federal. O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), deve apresentar o conteúdo – parcial ou na íntegra – até as 17 horas.

Nesta manhã, surgiu uma informação na seara política, deixando ainda mais os investidores locais na defensiva. Celso de Mello enviou à Procuradoria Geral da República (PGR) três notícias-crimes relacionadas à investigação sobre a suposta interferência de Bolsonaro na PF.

Entre as medidas solicitadas estão a busca e apreensão do celular do presidente e de seu filho, Carlos Bolsonaro, para perícia.

“A Bolsa sofre, puxada pela queda de ações ligadas a commodities, mas também reage a essa intranquilidade política. Isso não tem ajudado”, diz um operador. Em Nova York, as bolsas cedem até 0,50%. Segundo o operador, como ontem lá houve declínio e o Ibovespa subiu mais de 2%, há essa diferença. “Mas a queda das ações de commodities está penalizando a Bolsa”, diz, citando recuo de mais de 4% de Petrobras PN e de quase 2% de Vale.

Internamente, o avanço da pandemia do novo coronavírus no País também preocupa, o que pode dificultar a retomada em breve das atividades e piorar adicionalmente o cenário para este ano, observa em nota o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada. Neste contexto, escreve, após um importante período de melhora nos últimos dias, os ativos devem ter uma sessão negativa nesta sexta, mas sem reverter a maior parte dos ganhos recentes acumulados.

Até o momento, o Ibovespa acumula alta semanal de 7,05%, devendo fechar o período com desempenho histórico para uma mesma semana de maio. A despeito disso, o movimento é avaliado com ponderação por analistas, dado o momento pelo qual passa o Brasil, que enfrenta uma pandemia cujos casos de covid-19 só crescem e ainda não tem um titular para o Ministério da Saúde, e a contabiliza perdas na atividade. “Em um cenário macroeconômico como atual, isso perde a relevância”, pondera um operador.

O clima ruim externo e que atinge o mercado interno vem após a China anunciar que imporá novas leis de segurança nacional em Hong Kong, o que pode elevar os conflitos com os EUA. O presidente Donald Trump já se manifestou, dizendo que haverá uma “reação muito forte” de Washington se a China seguir adiante com seu plano de aumentar o controle sobre Hong Kong.

Além disso, o governo chinês decidiu que não fixará uma meta para o PIB em 2020. A notícia eleva o temor sobre o impacto do coronavírus na atividade da China que no primeiro trimestre deste ano teve a primeira contração do PIB em mais de 40 anos, de 6,8%.

Às 11h07, o Ibovespa caía 1,58%, aos 81.719,30 pontos, perda de pouco mais de 1.200 pontos ante o fechamento ontem (83.027,09 pontos).

Fonte: Estadão