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‘Drive-in da fé’ tem missa sem sair do carro

Chalons-en-champagne (France), 17/05/2020.- Chalon-en-Champagne Bishop Francois Touvet delivers his homily as worshippers attend the mass from their cars during the celebration of the first drive-thru mass in Chalons-en-Champagne, northeastern France, 17 May 2020. France has begun to gradually loosen some of its lockdown restrictions ñ for example, allowing schoolchildren to again attend class in-person ñ though gatherings of ten people or more remain banned, making the drive-thru mass an alternative to the traditional Catholic ceremony inside churches while the pandemic of the COVID-19 disease caused by the SARS-CoV-2 coronavirus continues to rage on in the country. (Francia) EFE/EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

No auge da pandemia, padres católicos de várias regiões do País estão usando o sistema conhecido como drive-in para celebrar missas sem quebrar o distanciamento social.

Com as missas presenciais suspensas em quase todo o País por causa da covid-19, os padres tomaram “emprestado” o sistema pouco convencional nos meios cristãos para se conectar com os fiéis em ambiente seguro. Na Europa, o termo drive-in descreve serviços oferecidos ao cliente em seu carro. No Brasil, também se refere a local para ter encontros dentro do veículo.

Primeiro a celebrar missa drive-in no Estado de São Paulo, o padre Ivanaldo Mendonça, da paróquia de São José, em Olímpia, cidade do interior, reuniu cem carros com cerca de 400 pessoas numa área aberta, defronte à capela de Nossa Senhora Aparecida, no bairro rural de Bela Vista, no Dia das Mães.

“Essa capelinha fica a quatro quilômetros da cidade e anualmente milhares de pessoas fazem uma caminhada até lá, que chamamos de caminho da fé. É um local aberto e bem ventilado”, contou o padre. As pessoas foram cadastradas previamente e orientadas sobre medidas de proteção.

Ele disse que se inspirou em iniciativas semelhantes de igrejas em outros países. Os devotos tiveram de usar máscaras e não puderam sair dos carros. “Na equipe de apoio, que inclusive nos ajudou a dar a comunhão, não havia ninguém do grupo de risco. Todos foram orientados higienizar a mão e estendê-la para fora do carro para receber a hóstia, recolhendo em seguida e usando a outra mão para retirar a máscara.” O padre pediu autorização ao bispo da diocese para fazer a missa.

Cada participante doou um quilo de alimento para o serviço social da paróquia, que atende pessoas vulneráveis. “Tudo foi feito com muita cautela, mas a experiência foi gratificante”, disse. A próxima missa drive-in está prevista para o dia 11 de junho, na celebração do Corpus Christi. “Damos um intervalo de ao menos 15 dias entre uma missa e outra para garantir que ninguém tenha se infectado.”

A paróquia de São José, em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, reuniu mais de 200 carros em duas missas drive-in realizadas na Pousada do Bosque, no último dia 3. O padre Jorge Watthier, que assumiu a paróquia no ano passado, estimou em mais de 500 pessoas nas celebrações. “Foi com muita alegria que pudemos nos reencontrar com os fiéis para celebrarmos juntos a nossa fé.”

Segundo ele, foram respeitadas as normas e orientações do decreto municipal sobre o distanciamento social. “Tivemos o apoio da prefeitura e da Guarda Municipal de Fronteira para organizar a entrada e saída dos veículos.” A próxima missa drive-in ainda está sendo programada. “Talvez precisemos de um espaço mais amplo”, disse.

Em Salvador, o padre Renato Minho, pároco da igreja de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, realizou a missa drive-in no Dia das Mães. Ele lembrou os personagens da série Os Flintstones, ambientada na idade da pedra, em que os personagens iam a um cinema a céu aberto, assistindo ao filme sem sair do carro.

“Fazemos a mesma coisa, só que, em vez da tela do cinema, temos o altar do Senhor. Durante a missa, todos usam máscaras e a comunhão é dada às pessoas sem que saiam do carro”, disse. A celebração reuniu cerca de 40 carros em frente à igreja, no bairro do Comércio.

Outra paróquia da capital baiana, da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, está realizando missas drive-in em todos os domingos de maio, no terreno onde é realizada a Feira da Fraternidade. No domingo dia 10, a missa celebrada pelo padre Luiz Simões reuniu 62 carros. “No anterior, dia 3, tivemos mais participação porque o tempo estava bom. No Dia das Mães, foi embaixo de chuva. Nossa paróquia é marcadamente de idosos, por isso a gente se esmera nos cuidados”, disse.

Segundo o padre, o momento mais esperado é o da comunhão, levada por ele e seus auxiliares até os carros. “Todo mundo de máscara, todos os carros com álcool gel. Apesar de transmitirmos as missas pelas redes sociais, nossos paroquianos sentem falta da comunhão, que é um reconforto para eles.” A aposentada Zenaide Sales Almeida, de 70 anos, acompanhou a missa drive-in do Dia das Mães com o marido. “Não pudemos reunir a família, como era tradição, devido ao coronavírus, mas poder ir à missa nos deixou muito feliz”, disse.

No Distrito Federal, as missas drive-in foram oficializadas por decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB). Ele liberou a realização de cultos, missas e rituais de qualquer credo ou religião, desde que as pessoas permaneçam no interior dos veículos, mantendo distância mínima de dois metros entre cada carro estacionado.

Paróquias que não têm espaço para as missas drive-in estão ministrando sacramentos no sistema drive-thru, em que as pessoas se dirigem de carro até o padre. Uma dessas ações, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba, teve a participação do arcebispo d. José Antônio Peruzzo, no dia 10. Usando equipamentos de proteção individual, d. José e outros celebrantes entregaram a comunhão aos ocupantes dos veículos enfileirados em uma das ruas movimentadas da capital paranaense.

Cuidados

Para o infectologista Carlos Magno Fortaleza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em tempos de pandemia, qualquer iniciativa que leve ao risco de romper o distanciamento social precisa ser vista com cuidado. “Em termos de religião, ela tem importância fundamental na espiritualidade e na própria saúde mental da pessoas. Só acho complicado controlar, pois o ser humano é gregário e tende a se aglomerar. Esse é um ponto que merece toda atenção para se evitar o risco”, disse.

Fonte: Estadão

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