O PL substituiu medida provisória editada em 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro que permitia regularizar até 15 módulos fiscais por autodeclaração, ou seja, sem a necessidade de vistoria.
Conforme o documento, elaborado por servidores do Incra e entidades representativas, o projeto traz um “perigoso conjunto de medidas que se aprovadas vão facilitar a legalização da grilagem de terras, piorando enormemente o cenário de deterioração fundiária e ambiental em grandes áreas da União, com sérias e negativas consequências sociais para o Brasil”.
De acordo com as entidades, “é inaceitável a apresentação deste projeto de lei quando a prioridade são as políticas públicas de saúde, providências sanitárias e de proteção econômica e social num cenário de excepcionalidade, provocado pela pandemia de Covid-19”.
Na avaliação delas, caso seja aprovado, o PL 2.633 poderá provocar a expansão da pandemia em regiões da Amazônia, em razão do aumento do desmatamento e do assédio a territórios de povos e comunidades tradicionais, “como já vem se verificando nos últimos meses”.
Segundo o documento, sob o pretexto de regularização fundiária está explícito o interesse de descumprir normas, prevendo até a autodeclaração de ocupantes irregulares. “Além de não beneficiar os pequenos produtores, a nova legislação prejudica o Estado e toda a sociedade ao possibilitar a venda de milhões de hectares de terras públicas a preços bem abaixo do mercado”, diz a nota.
As entidades destacam ainda que as políticas públicas para enfrentar a desigualdade e os conflitos no campo são a reforma agrária, a criação de unidades de conservação e o reconhecimento de terras indígenas e territórios quilombolas; a titulação dos posseiros propriamente ditos; a reversão de grandes áreas públicas ocupadas ilegalmente. No documento, consideram inaceitável a tramitação de leis de tão grande impacto sem debates prévios e democráticos, “sem que se considerem as questões técnicas, jurídicas e sociais envolvidas”.
Para Aguiar, o PL está associado com a ideia da ‘boiada’ do ministro do Meio Ambiente. Na reunião ministerial do dia 22, que teve o vídeo divulgado por ordem do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, Salles defendeu mudar regras enquanto a imprensa se concentra na covid-19.
O ministro disse que considerava o momento uma oportunidade para modificar normas que podem ser questionadas na Justiça, sugerindo fazer uma “baciada” de alterações e “passar a boiada”
Para o representante dos servidores do Incra, “possivelmente eles querem engavetar qualquer ação que possa prejudicar os ruralistas e, consequentemente, quem destrói o meio ambiente. Nosso temor é que no meio desse PL vá uma emenda, alguma coisa que possa ser enquadrada como a ‘passada de boiada’ do ministro. Esse projeto de lei pode servir de cavalo para levar alguma coisa que possa facilitar a vida dessa galera que destrói o meio ambiente e faz grilagem de terras”.
A reportagem entrou em contato com o Incra e com o Ministério do Meio Ambiente, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.