As medidas de restrição da mobilidade para conter a disseminação do novo coronavírus afetaram fortemente a população ocupada no Brasil, sobretudo a partir de abril deste ano. A informação foi publicada hoje (6) na Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o tema A Evolução do Emprego Setorial em 2020: Quão Heterogêneo Foi o Tombo entre os Ssetores?, de autoria dos pesquisadores da instituição Carlos Henrique Corseuil, Lauro Ramos e Felipe Russo.
De acordo com a pesquisa, os registros administrativos para o setor formal revelam impacto negativo de forma generalizada, mas de intensidade variada nos segmentos. O mais atingido, em termos relativos, foi o setor de alimentação e alojamento, seguido pelo da construção. Os setores de administração pública e de agricultura foram os que tiveram menos impacto com a crise.
“Cabe destacar também que, até aqui, a contração nas admissões teve maior relevância que o aumento dos desligamentos para a queda no emprego formal na maior parte dos setores”, diz a pesquisa.
O pior resultado no crescimento líquido do emprego foi o do setor de alojamento e alimentação, porque, sendo uma exceção, ajustou o emprego tanto nas admissões como nos desligamentos.
Os pesquisadores explicam que, usando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntando o setor informal, foi possível verificar que “os efeitos no nível de emprego por setor são não apenas mais intensos, mas também ocorrem mais cedo, já sendo percebidos em março e de forma mais difusa”.
Segundo a Carta de Conjuntura, entre os segmentos mais afetados, houve impactos também severos no setor de serviços domésticos, caracterizados pela forte presença da informalidade.
O agregado dos primeiros meses de 2020, mostra que houve forte queda do emprego em comparação com o mesmo período do ano anterior. No trimestre terminado em abril de 2020, a Pnad Contínua indicou que a população ocupada no país caiu 3,1 milhões na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
Já os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apontaram também no acumulado de 2020, um saldo negativo de mais de 700 mil empregos formais. “Esse comportamento é ditado, sobretudo, pelos resultados registrados a partir de março, quando é declarado o quadro de enfrentamento da pandemia do novo coronavírus”, afirmam os pesquisadores.
Admissões
Os autores da pesquisa destacam que o fato mais relevante é a acentuada diferença nas comparações inter anuais dos meses de março com as de abril e maio.
Conforme o estudo, as taxas de admissão em março de 2020 superam as registradas em março do ano passado na maioria dos setores. As exceções foram os segmentos de a agricultura e de serviços de alojamento e alimentação. A partir de abril, os impactos da pandemia são mais nítidos, com grandes quedas nas taxas de admissão entre 2019 e 2020 em todos os setores.
“Os setores de indústria e construção exemplificam bem esse padrão”. A Carta de Conjuntura demonstra que, na indústria, as admissões foram responsáveis pelo aumento de 2,93% no emprego de março de 2019 e de 3,20% em março de 2020, revelando crescimento nas taxas de admissão interanuais. Depois daquele mês, o padrão mudou, saindo de um crescimento de 3,18% em 2019 para apenas 1,33% em 2020, em abril, e de 2,87% para 1,45% em maio.
Na construção, a taxa de admissão, que não sofreu impacto em março, recuou cerca de 4 pontos percentuais entre abril de 2019 e 2020. Houve queda semelhante no setor de serviços de alojamento e alimentação, no qual as admissões em março de 2020 cresceram 4,19%, patamar abaixo do de 2019, e apenas 0,74% e 0,88% em abril e maio de 2020.
Com exceção dos setores de agricultura; serviços para empresas de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas; e administração pública, houve queda nas taxas de admissão em abril e maio de 2020 em quase todos os setores em abril e maio de 2020, na comparação com as de 2019. “O efeito maior das medidas de enfrentamento da pandemia sobre as contrações foi em abril último. Por exemplo, os setores de comércio e reparação de veículos e da indústria da transformação contrataram, na ordem, menos cerca de 200 mil e 100 mil trabalhadores em abril e maio na comparação com o ano anterior”.
Desligamentos
Os dados sobre desligamento por setores de atividade indicam similaridade das taxas registradas em abril de 2019 e 2020, o que difere do padrão encontrado para as taxas de admissão setoriais. “Um ajuste mais forte em abril, tanto para contratações como para desligamentos, só é observado para os setores de transporte e armazenagem e também de alojamento e alimentação. Nos demais setores, à exceção da agricultura, apesar de as taxas de desligamento serem maiores na comparação interanual para abril, as diferenças tendem a ser de magnitudes próximas às da comparação para março”, diz o estudo.
Em maio, no entanto, o panorama mudou, e as taxas de desligamento em maio deste ano são menores que as de abril de 2019 e também inferiores às de maio de 2019. “Em termos relativos, o setor mais afetado, por larga margem, é o de alimentação e alojamento, sobretudo em março e abril, quando o crescimento na taxa de desligamentos fica em torno de 4 pontos percentuais. No outro extremo, está a administração pública, com taxas bastante similares em 2019 e 2010”, relataram os pesquisadores.
A publicação do Ipea ressalta que a Secretaria de Trabalho do governo federal apontou um padrão de subdeclaração dos desligamentos nos primeiros meses de 2020, mas diz que os dados apresentados já incluem uma revisão dessa informação com vistas a reduzir o problema de menor número de notificações dos desligamentos.
“Vale destacar o aumento nas taxas de desligamento entre maio de 2019 e 2020 computado para os setores de transporte e armazenagem e, também, de alojamento e alimentação. Esses setores já haviam apresentado trajetória preocupante para as taxas de admissão entre abril de 2019 e 2020”, ressalta ainda a Carta de Conjuntura.
Saldo líquido do emprego
Ainda com base nos dados do Caged, além ds movimentações de admissões e desligamentos, o cadastro informa o saldo líquido, que é o contraste entre número de de trabalhadores admitidos e desligados.
O saldo foi usado pelos pesquisadores para construir uma taxa de crescimento líquido do emprego setorial. “Em virtude do padrão reportado de diminuição nas taxas de contratação e de aumento nas taxas de desligamento nos últimos meses de 2019, devemos esperar que taxas de crescimento líquido do emprego com valores negativos sejam predominantes nesse período mais recente”, ressalta o estudo.
Fonte: Agencia Brasil