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Carnavalesco cria Barracão Solidário para ajudar quem faz a festa

© Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Quando a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) decidiu que ia esperar até setembro para tomar alguma decisão em relação ao carnaval de 2021, o carnavalesco Wagner Gonçalves, à frente este ano da Escola de Samba Estácio de Sá, resolveu promover a campanha Barracão Solidário, em benefício dos trabalhadores do carnaval carioca.

Aderecistas, ferreiros, pintores, seguranças, costureiras, carpinteiros, vidraceiros estão enfrentando sérias dificuldades financeiras em função da indefinição sobre a realização dos desfiles das escolas de samba devido à pandemia do novo coronavírus.

Wagner Gonçalves disse que considera a atitude da Liesa prudente, porque não há interesse em fazer um carnaval irresponsável que resulte na disseminação da covid-19 e em mortes pela doença. Caso o evento venha a ser adiado, ele defendeu que isso deve ser feito com responsabilidade. “Mas cancelado, jamais. Tem muita gente envolvida. O carnaval é um evento muito importante para a nossa cidade, não só como produção de arte e cultura, mas também como cadeia produtiva e social para essa galera que precisa muito e vive disso”.

Segundo Gonçalves, até que os governos fluminense e municipal definam como e quando ocorrerá a flexibilização do setor da cultura e entretenimento, a mão de obra voltada para o carnaval não está sendo aproveitada. “A gente, como carnavalesco, realiza o carnaval mas, sem costureira, sem aderecista, escultores, nada disso seria possível. Todos os carnavalescos reconhecem isso e a gente precisa muito dessa galera”, argumentou.

Desdobramento

Gonçalves criou a campanha Barracão Solidário,que visa à arrecadação de doações, a serem revertidas na compra de cestas básicas para esses profissionais das escolas de samba do Rio. As doações serão entregues no dia 14 de setembro, quando se comemora o nascimento do sambista Ismael Silva. Wagner Gonçalves já pensa em fazer um desdobramento do projeto, a partir da união de todos os carnavalescos.

A ideia é todo mundo pensar junto como pode aproveitar esses profissionais que necessitam, além de alimentação, de renda para pagar suas contas de luz, remédios e até aluguel. “O que é emergencial para um não é para outro. A gente vive um cenário de desigualdade muito latente aqui no nosso estado, no nosso município”.

A partir de 14 de setembro, os profissionais que trabalham no carnaval serão cadastrados e apresentarão suas necessidades, para que possam ser ajudados. “Só que, sem carnaval, eles não têm como produzir”. Gonçalves pretende firmar parcerias com outras áreas do setor cultural que possam abraçar esses talentos artísticos, para ver se consegue inseri-los no mercado de trabalho de alguma forma. Ele lembrou a importância de, neste momento de pandemia, cuidar não só da saúde física das pessoas, mas também da saúde mental.

Na expectativa

Desde os 15 anos de idade, Raphael Aguiar passou a acompanhar o pai no trabalho como vidraceiro, nos barracões de carnaval, cuidando dos espelhos que enfeitam desde os carros alegóricos até as fantasias. Hoje, com 26 anos, Aguiar disse, com orgulho, que ele, o pai e três irmãos, cuidaram dos espelhos de quatro agremiações no carnaval passado: Portela, Vila Isabel, Viradouro e Inocentes de Belfort Roxo. “Tudo que o carnavalesco pede, a gente inventa”. Para o ano que vem, entretanto, ainda não há definição.

Devido à pandemia, a família decidiu guardar o dinheiro que ganhou para poder se manter e adiou o sonho de abrir uma vidraçaria. “Mas só gastando, o dinheiro acaba. É conta, é aluguel, é compra”. Raphael Aguiar disse que em casa, “é sua mulher que está segurando a barra”. O pai dele conseguiu receber o auxílio emergencial e um dos irmãos está trabalhando como motorista de aplicativo. Aguiar afirmou que a possibilidade de desdobramento do projeto Barracão Solidário é “muito interessante”. Completou que se não tiver nada relacionado a espelho, ele está disposto a pegar qualquer outro tipo de trabalho. “A gente não pode ficar parado”.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

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