O II Encontro Mato-grossense de Aleitamento Materno (Emama) debateu, nesta segunda-feira (03.08), os impactos que a substituição do leite humano por alimentos processados e ultraprocessados podem ocasionar ao meio ambiente e à saúde da criança. O evento é realizado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) e transmitido pelo Telessaúde, por meio do canal Tele Educa Mato Grosso, no YouTube.
“Sabemos das dificuldades na realização deste evento diante do cenário de pandemia pelo novo coronavírus em que vivemos, mas as ferramentas tecnológicas nos possibilitaram esse encontro para discutirmos o aleitamento materno como estratégia natural da saúde e eu considero como a primeira vacina dada nas primeiras horas de vida”, avalia o secretário Adjunto de Atenção e Vigilância em Saúde da SES, Juliano Melo.
Conforme dados da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil), 60% das crianças do mundo estão sem acesso à amamentação, ou seja, tiveram o leite materno substituído por outros alimentos, fato que, segundo a nutricionista e mestre em Educação e Saúde Pública, Regicely Aline Brandão, membro do IBFAN Brasil, pode contribuir para mudança climática e, consequentemente, prejudicar a vida humana na terra.
“A maneira como as famílias decidem alimentar seus filhos terá impacto positivo ou negativo ao meio ambiente, porque a escolha pelo uso de substituto do leite materno pelo leite de vaca, por exemplo, vai contar com produção de gado, que provoca o desmatamento, emite gás carbono e utiliza recursos hídricos; temos ainda o uso do material plástico para comercialização do leite. Então, para produzir uma lata ou uma mamadeira foi necessário toda uma cadeia, que da fabricação ao descarte contribuirá para a mudança climática e já sabemos que o excesso de plástico chegou em um nível alarmante à sociedade”, explicou Regicely durante palestra virtual.
Para evitar as consequências ambientais, a Rede IBFAN Brasil, representada pela nutricionista, defende que o aleitamento materno é uma das muitas soluções sustentáveis para a saúde do planeta. “A produção de leite materno requer apenas alimentos adicionais que a mãe precisa consumir, portanto, usando recursos naturais e resultando em quase nenhum desperdício”, lembrou.
Alimentação complementar
Os benefícios do leite humano na saúde da criança nas primeiras horas de vida, mantendo-se de forma exclusiva por seis meses e complementado até os dois anos de idade ou mais, são reconhecidos mundialmente. Entre os bons resultados, está a prevenção de anemias, o fortalecimento do sistema imunológico, a redução da chance de desenvolver obesidade e a contribuição para o desenvolvimento cognitivo dos bebês.
Para a coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Giseli Bortolini, além do impacto ambiental, a substituição do leite materno também causa consequências muitas das vezes irreversíveis à saúde humana. Durante apresentação no primeiro dia do EMMA, ela explanou o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos, do Governo Federal. “O Ministério da Saúde olha com olhar especial para construir o pleno desenvolvimento infantil, com intuito de tentar formar hábitos saudáveis que possam perdurar por toda vida”.
O Ministério orienta que, dos seis meses a dois anos, a criança introduza alimento saudável para completar o leite materno. “Hoje temos um grande desafio que é diminuir o consumo de alimentos ultraprocessados em criança. Além do excesso de peso, temos ainda um o desafio que é a perda ou diminuição da tradição de cozinhar, pois queremos que as pessoas descasquem mais e desembale menos. As crianças devem comer mais alimentos in natura e minimamente processados”, informa.
Além do leite materno, dos seis meses a 2 anos de idade, a criança já pode receber frutas, raízes, tubérculos, como mandioca, batata doce, inhame, ou do grupo de cereais, como o pão (caseiro ou francês), legumes verduras, carnes e ovos – in natura. O ideal é que a criança não receba alimentos ultraprocessoados para um desenvolvendo pleno. Deve-se evitar biscoitos, bolachas, cereais matinais, gelatinas, iogurtes, empanados de frango, macarrão instantâneo, entre outros.
Para saber o alimento recomendado para cada mês de vida dentro da faixa etária de 0 a 2 anos, acesse a versão mais recente do Guia do Ministério da Saúde neste link.
Também participaram da atividade Celina Valderez Feijó Kohler, da Rede IBFAN Brasil; Alianna Cardoso e Cristiano Siqueira Boccolini, da Fiocruz, Gláubia Rocha B. Relvas, do Escritório Regional de Saúde de Barra do Garças; Gisela Soares Brunken e Josemara Gomes da Silva Lima, do Grupo de Apoio Super Mães; as doutoras Lorena Barbosa Fonseca, Tatiana Bering e Bruna Teles, da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Janaína Vasconcellos Ribeiro de Souza, da SES-MT.
O evento
As atividades do II Emama ocorrerão até sexta-feira (07), das 9h às 17h, com pausa durante o horário do almoço. O evento é aberto aos profissionais da saúde e às pessoas que tiverem interesse na temática. Para participar, basta acessar, no dia e horário de cada atividade da programação, o canal do Tele Educa Mato Grosso no YouTube, por meio deste link. Ao final de cada período (manhã/tarde), os participantes receberão um certificado eletrônico correspondente à atividade assistida.
Em paralelo ao II Emama, será realizado o Encontro Mato-grossense de Alimentação Complementar Saudável e a Mostra Regional de Experiências Bem-Sucedidas em Alimentação Adequada e Saudável na Primeira Infância.
Conforme o coordenador técnico do encontro e um dos responsáveis técnicos pelas ações de promoção, proteção e apoio ao Aleitamento Materno na SES, Rodrigo Carvalho, o objetivo é promover o diálogo com os municípios mato-grossenses, favorecendo a divulgação de suas ações fortalecedoras da promoção, proteção e apoio à amamentação realizadas no último triênio.
Veja a programação completa anexada!