A infecção pelo novo coronavírus é cada vez mais frequente na Espanha entre os jovens, o que está associado a poucas precauções em festas e atividades noturnas, confiantes erroneamente de que são imunes e que a doença afeta principalmente os idosos.
“Eles abraçaram a ideia de que o vírus afeta principalmente pessoas idosas, com patologias anteriores, e que se eles sofrem da doença, é menos grave neles”, afirmou à Agência Efe a psicóloga Amaya Prado, especializada em temas educacionais e de família.
O comportamento também é influenciado pelo desenvolvimento evolutivo dos jovens. “Eles pensam que não vai acontecer com eles, que eles têm muita vida pela frente”, declarou Amaya.
E tudo isso apesar do fato de que os avisos começaram há algum tempo, pouco depois que a pandemia foi declarada. “Você não é invencível, este vírus pode levá-lo ao hospital ou mesmo matá-lo”, advertiu o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em 20 de março.
Infectados de menos de 40 anos
Na Espanha, a epidemia atingiu os idosos nos momentos mais difíceis, quando o sistema de saúde era incapaz de cuidar de todos os doentes. Entre março e abril, 85% dos que morreram tinham mais de 70 anos, muitos com patologias anteriores. A idade média dos infectados era então de entre 62 e 63 anos, de acordo com dados oficiais.
Desde 21 de junho, quando o estado de alarme terminou e a atividade comercial e as relações sociais se intensificaram, a idade dos contagiados pelo vírus SARS-CoV-2 começou a cair, para 36 anos no caso das mulheres e 38 anos no caso dos homens nas últimas três semanas. Isso também está acontecendo em países como França e Japão.
Vida noturna é foco de contágio
A infecção continua ativa na Espanha em cerca de 500 surtos, 70% deles são de menos de dez pessoas e 60% são casos assintomáticos. Nesta sexta-feira, houve mais de 1,5 mil novos casos, de acordo com dados oficiais.
“Estamos em um cenário de controle dos surtos”, declarou neste sábado o ministro da Saúde, Salvador Illa, que pediu novamente aos jovens que obedeçam as recomendações sanitárias. Ele também reiterou que a Espanha é um destino turístico seguro, se os protocolos de higiene e prevenção forem aplicados.
A origem das infecções está, sobretudo, em reuniões familiares, festas particulares e estabelecimentos de lazer, bem como em encontros noturnos ilegais de jovens ao ar livre para consumir bebidas alcoólicas. Essas são atividades nas quais as medidas preventivas como o uso de máscaras e a distância interpessoal são relaxadas.
O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, pediu ontem às autoridades regionais que prestassem a máxima atenção à vida noturna e às comemorações.
Já existem restrições quanto ao número de clientes e ao horário de funcionamento em hotéis, casas noturnas e pubs, apoiadas pelo Ministério da Saúde. Porém, as autoridades também têm que combater a rebeldia daqueles que permanecem envolvidos nas celebrações ou se recusam a respeitar o isolamento e a serem submetidos a testes de diagnóstico quando um caso é detectado.
Como sensibilizar
Contra esse pano de fundo, é apropriado sensibilizar os jovens. “Você não só fica doente, mas pode infectar as pessoas que mais ama, seus avós ou seus pais, que podem adoecer e até morrer”, é a mensagem proposta por Amaya.
Ela propõe campanhas que mostram através de vídeos, por exemplo, como o vírus é transmitido e como se proteger. E é essencial que elas sejam divulgadas em redes sociais, o canal de comunicação mais comum para os jovens.
Outro aspecto que, segundo a especialista, pode influenciar algumas pessoas mais novas é que elas dão muito mais importância às relações sociais do que ao risco que elas representam.
Em outras palavras, os amigos são a prioridade máxima, especialmente depois que a Espanha suportou um duro confinamento em casas por mais de três meses, entre março e junho, sem que fosse permitido que se vissem pessoalmente.
E na visão da psicóloga, para que o comportamento responsável se enraíze entre os jovens, os adultos e os líderes sociais e políticos têm que dar um exemplo impecável para evitar contradições entre o que recomendam e o que fazem, algo que nem sempre acontece.