Nesta quarta-feira (19), Bragantino e Fluminense medem forças pela 4ª rodada do Brasileirão Assaí 2020. E foi justamente no mais importante campeonato nacional que, há 29 anos, as equipes batalhavam por uma vaga na grande final em um duelo histórico. Para relembrar esse confronto, o mais importante entre os dois clubes até hoje, o site da CBF conversou com exclusividade com o lateral-esquerdo Biro Biro, do Massa Bruta, e com o zagueiro Alexandre Torres, do Tricolor das Laranjeiras – filho do eterno ‘Capita’ da Copa do Mundo de 70, Carlos Alberto Torres.
Em 1991, a forma de disputa do Campeonato Brasileiro era diferente da atual. A primeira fase, de pontos corridos, classificava os quatro melhores colocados para o mata-mata final. Bragantino e Fluminense terminaram em 2º e 3º, respectivamente. E por isso, se cruzaram nas semifinais da competição. São Paulo, 1º colocado, e Atlético-MG, 4º, mediram forças na outra chave da fase final.
Os números da Primeira Fase demonstravam bem a força das duas equipes. Com 28 gols marcados, o Fluminense chegou para a semifinal com o segundo melhor ataque da competição – atrás apenas do Atlético-MG, que anotou 29. O Bragantino, por sua vez, chegou no mata-mata com a melhor defesa, ao lado do São Paulo, com apenas 14 gols sofridos.
Estilos de Jogo Parecidos
A semifinal entre Fluminense e Bragantino era prevista com bastante equilíbrio na época, e não é para menos. Afinal de contas, ambas equipes atuavam com um estilo de jogo bem semelhante dentro de campo: foco na parte defensiva e com investidas perigosas nos contra-ataques, como bem lembraram Alexandre Torres e Biro Biro.
“Tínhamos um time que tinha um contra-ataque muito rápido. Jogadores com qualidade no meio de campo como Bobô e Renato. Era um ataque bem rápido com uma defesa que era boa, a zaga era eu e Válber, tínhamos uma boa saída de bola. Nossos laterais eram bons defensores, e do meio para frente tínhamos jogadores bem rápidos. Era essa a tônica do nosso time, se defendia bem e atacava rápido”, definiu o ex-zagueiro tricolor.
Alexandre Torres defendeu o Flu durante anos e foi campeão carioca em 1985
Créditos: Divulgação/Fluminense
“Tínhamos uma defesa muito boa. A defesa era basicamente a mesma desde 89, quando fomos campeões brasileiros (da série B). Com essa base, mantivemos jogadores muito bons de marcação, como era o meu caso, do Gil Baiano e do Mauro Silva. Foi o Luxemburgo que montou essa característica, de marcação forte e contra-ataques perigosos. E ele deixou para o Parreira essa base. O Parreira trabalhou mais a nossa parte técnica, com repetições. Os dois foram muito importantes”, relembrou o ex lateral-esquerdo do time de Bragança Paulista.
Biro Biro viveu seu auge no Bragantino e venceu a Bola de Prata em 1990
Créditos: Arquivo Pessoal
Motivação Extra em Bragança
A expectativa para o confronto era grande, mas pode-se dizer que do lado paulista, a rivalidade tinha uma pitada a mais, e era pessoal. Isso porque, oito jogadores daquele elenco do Bragantino haviam sido recentemente liberados pelo Tricolor das Laranjeiras. Desta forma, esses atletas, além de estarem obstinados a passarem para a grande final, queriam provar seu valor ao time que havia aberto mão deles.
E, coincidentemente ou não, quem anotou os dois gols do Bragantino nas duas partidas das semifinais diante do Fluminense foi atacante Franklin, pertencente ao grupo dos que tinham deixado o Tricolor das Laranjeiras há pouco tempo.
“Teve uma motivação a mais sim (em vencer essa semifinal), principalmente os jogadores que foram liberados por não terem muita utilidade no Fluminense. O próprio Silvio, o Ronaldo Alfredo, o Robert, o Franklin. Nós fomos lá no Maracanã e vencemos por 1×0 com gol do Franklin, que deu a classificação para nós. Além de estarmos focados na equipe do Fluminense, a motivação deles era ainda maior. Quando você joga contra a ex-equipe, acontece isso. Essa motivação extra foi fundamental, de mostrar para o Fluminense o que eles perderam”, admitiu Biro Biro.
Regulamento debaixo do braço
Na Fase Final, o regulamento da época concedia algumas vantagens para o time de melhor campanha – no caso deste duelo, o Bragantino. A equipe do interior de São Paulo jogava por dois empates e, além disso, poderia se classificar automaticamente para a final em caso de vitória no primeiro jogo, disputado nos domínios do Fluminense, no Maracanã.
Com essa possibilidade em mente, o Massa Bruta entrou em campo no dia 26 de maio de 1991 disposto a fazer história no maior palco do futebol mundial. Com uma performance sólida, a equipe de Bragança surpreendeu o Fluminense no Maraca e venceu por 1×0 com gol de Franklin – liquidando, assim, a fatura.
“Sim, o Parreira quis jogar com o regulamento. E essa possibilidade de classificar direto (em caso de vitória no Maracanã) era importantíssima. Aí ele fez uma espécie de palestra antes do jogo. Mas deixou bem claro que era para a gente focar primeiramente no Fluminense, e depois no regulamento. E aquela vitória por 1×0 acabou sendo fundamental para nós”, destacou o defensor do Bragantino.
No jogo da volta, com o confronto já definido, o duelo foi mais aberto e franco. O Tricolor chegou a abrir o placar com o artilheiro Ézio, mas cedeu o empate em seguida – com outro gol de Franklin. A equipe carioca viajou quase que a passeio para disputar aquela partida em Bragança, como bem lembra Alexandre Torres.
“Essa semifinal foi um pouco diferente. Até hoje não entendo direito esse regulamento. Porque a gente perdeu o primeiro jogo e ficou sem chance (de ir para a final). Qualquer resultado fora de casa, pelo que eu me lembro, a gente não ia conseguir passar para a próxima fase. A gente perdeu o jogo aqui, e já fomos para lá (Bragança) sem chances de avançar para a final. Eu lembro disso que a gente já foi para lá naquela de ‘não adianta’, em clima meio amistoso. As pessoas na época até criticaram isso (regulamento), porque 1×0 você consegue reverter, inclusive saímos na frente lá. Mas nesse caso, não iria adiantar. Não era como se caso fizéssemos dois gols, avançaríamos para a final…”, declarou Alexandre Torres.
Coroação de uma Geração Histórica
Com a classificação garantida para a final da Séria A – a primeira e única da história do clube -, aquele time do Bragantino ficou marcado, assim como aquela geração, como o mais importante de todos os tempos. E para alcançar essa façanha, a manutenção da base foi fundamental.
A base da geração mais importante da história do Bragantino postulada
Créditos: Arquivo Pessoal
Com a mesma espinha dorsal que o Massa Bruta foi campeão da Série B do Campeonato Paulista em 1988, campeão da Série B do Campeonato Brasileiro em 1989, campeão da Séria A do Campeonato Paulista em 1990 e vice-campeão brasileiro na elite do futebol em 1991. Foi, de fato, uma época gloriosa, da qual Biro Biro se orgulha de ter feito parte.
“A sensação (de chegar na final) é maravilhosa, não só porque foi um Brasileiro em si. Mas porque já vínhamos de muita alegria. Fomos campeões durante anos seguidos, em 88, 89 e 90. E ainda chegar no Brasileiro de 91 e ser vice, com a mesma base nesses anos. Fico muito feliz por ter feito história, ainda mais em um time do interior. Tínhamos essa motivação de brilhar e fazer história no Bragantino. Conseguir fazer isso num clube como esse é muito importante”, concluiu.
Fonte: CBF