Poucas modalidades têm uma supremacia tão grande de um único país como o futsal feminino, dominado pelo Brasil. Além de líder do ranking mundial, a seleção venceu praticamente todos os torneios que disputou, entre eles os seis Mundiais já realizados e outras seis Copas América, a última no ano passado. Em nível de clubes, não é diferente. A taça ficou por aqui nas seis edições da Libertadores, que, assim como a dos gramados, é organizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
Trazer o sétimo troféu continental para o Brasil, mas como a primeira equipe fora da região Sul, era o principal objetivo do Taboão da Serra para 2020. No ano passado, o clube paulista foi o oitavo melhor do mundo em eleição do site Futsal Planet, referência na modalidade, ficando na liderança entre os times femininos. Além disso, chegou à final nos dois principais torneios no país, sendo vice na Taça Brasil e campeão da Copa do Brasil. Nas duas decisões, o mesmo rival: o Leoas da Serra, de Lages (SC), da ala Amandinha, melhor jogadora do mundo nos últimos seis anos.
Para alcançar a Libertadores, o Taboão precisava vencer a Supercopa Feminina, novamente contra o Leoas. Na partida de ida, no último dia 14 de março, em Taboão da Serra (SP), as catarinenses venceram por 2 a 1. Mas a pandemia do novo coronavírus (covid-19) veio e suspendeu treinos e jogos de uma vez só, além de causar o cancelamento da edição 2020 do torneio sul-americano.
A preparação para o duelo de volta, em Lages, nem pôde começar. “Estávamos treinando a todo vapor, tomamos um gol no finalzinho [na partida]. Uma pena. Mas não conseguimos retornar, porque logo depois começou a pandemia”, diz Priscila Silva, supervisora do Taboão, à Agência Brasil. “Esperamos uma semana, uma semana e meia e dispensamos as meninas”, completa.
A ala Drika, por exemplo, voltou para Serrana, município a mais de 320 quilômetros de Taboão, no interior paulista. Em casa, os cuidados tiveram que ser redobrados, já que tem uma mãe enfermeira, que está na linha de frente no combate ao coronavírus. “Cada plantão é uma agonia, mas ela tem se cuidado muito. O hospital [em Ribeirão Preto, cidade vizinha a Serrana] é maternidade, então não tem tanto contato com casos confirmados. O que não deixa de dar medo, porque ela ali tem contato com pessoas diretamente”, afirma à Agência Brasil.
O jeito foi adequar os treinos físicos à rotina de casa, com instruções on-line. A criatividade se fez necessária. “Utilizei desinfetantes como peso para fazer exercícios de fortalecimento muscular, cadeiras e bancos para exercícios preventivos de lesão, azulejos como escadinha coordenativa e chinelo e tênis como marcadores”, recorda Drika.
Apesar de a pandemia ter causado a suspensão de alguns patrocínios, Priscila diz que não foi preciso mexer no salário das atletas. “Apertamos as contas e pegamos as economias para elas não terem déficit”, afirma. Entre os apoios mantidos, está o master, da Magnus, empresa de produtos para animais de estimação, que também patrocina o Sorocaba, tricampeão mundial de futsal masculino. A parceira foi firmada em março e vai até 2021.
Volta gradual
As jogadoras que não são de Taboão, como a ala, começaram a retornar à cidade há cerca de um mês. As que ficaram, participaram de uma doação de alimentos em bairros carentes do município e até puderam matar um pouco da saudade de estar em quadra, mesmo que só para ajudar a higienizar o ginásio. As atletas passaram pelos testes da covid-19 e, segundo Priscila, a maioria mora no alojamento da equipe. “Elas estão evitando ao máximo as aglomerações”, afirma.
Quase cinco meses depois, as atividades presenciais ainda têm restrições. “São grupos reduzidos de três meninas, com treino na academia e a Cris [Souza, técnica] fazendo algumas coisas da parte física na quadra. Todas usamos máscara e [passamos] álcool em gel. Nos primeiros dias, treinar de máscara foi horrível, parece que sufoca. Chegamos a exaustão mais rápido, mas vamos nos adaptando”, conta, à Agência Brasil, a fixa Fernanda.
A volta aos treinos para valer depende do governo paulista. Segundo a Secretaria de Esportes do estado, no caso do futsal, estão liberadas atividades individuais, mesmo em municípios da Fase Amarela, a terceira (de cinco) do Plano São Paulo, de reabertura da economia em meio à quarentena. É o caso de Taboão da Serra, que fica na região metropolitana da capital.
O time espera autorização não só para os treinos com bola, como a confirmação do calendário para 2020. Por ora, o único compromisso é a partida de volta da Supercopa, remarcada para 25 de outubro. O Taboão precisa vencer por dois gols de diferença, pelo menos, para ser campeão. Se a vitória for por um gol, o jogo terá prorrogação. Caso o tempo extra termine empatado, a decisão será nos pênaltis. “Infelizmente, talvez seja o único evento do ano”, reconhece Priscila.
“É muito importante que as competições aconteçam, pois vivemos do futsal e nossas famílias dependem dele também. É importante que essas atividades possam voltar, mas, claro, com todos os protocolos e cuidados necessários”, conclui Fernanda.
Edição: Fábio Lisboa