A Polícia Civil e a Perícia Técnica e Identificação Oficial (Politec) realizaram, na noite desta terça-feira (18), a reconstituição da morte da adolescente Isabele Ramos, de 14 anos, no condomínio Alphaville, em Cuiabá.
A garota morreu no dia 12 de julho com um tiro no rosto disparado pela arma que era segurada pela melhor amiga, da mesma idade.
Marcado para as 18h30, o trabalho começou apenas por volta das 20 horas. Os policiais e peritos começaram a chegar ao local por volta das 18h20.
A imprensa ficou do lado de fora do condomínio, que é fechado. Além disso, dentro do Alphaville, os policiais também limitaram o acesso à rua onde fica a casa da família Cestari, local da tragédia.
Cerca de 40 pessoas – entre policiais e peritos – participam do procedimento. Além deles, estão no imóvel os advogados da família da vítima, da garota que atirou e do namorado dela.
Também participaram da simulação os pais da adolescente que atirou contra amiga, os empresários Gaby e Marcelo Cestari e a mãe da adolescente morta Patricia Guimarães Ramos.
A reportagem apurou que a reconstituição não se resume apenas ao que ocorreu dentro do closet e do banheiro onde a adolescente morreu. Todos os acontecimentos daquele dia que contribuíram para a morte de Isabele serão repassados.
Segundo a Polícia Civil, a reconstituição tem o objetivo de esclarecer dúvidas que ainda existam na investigação quanto às versões apresentadas pelos envolvidos.
Será reproduzido cada movimento efetuado pelas partes, para apontar a compatibilidade das versões apresentadas na investigação. Na reprodução será verificada se a versão da adolescente é possível e compatível com os laudos da perícia.
Para que a reprodução chegue o mais próximo do real, a Polícia Civil providenciou atrizes, com estaturas e pesos compatíveis, que representarão as duas adolescentes. Isso porque, a defesa da adolescente que atirou apresentou um laudo psiquiátrico alegando a impossibilidade da presença dea no procedimento.
Todos os atos que compõem a reprodução serão registrados em imagens (fotografia e vídeo) pela Politec.
Versões apresentadas
Isabele Ramos foi atingida com um tiro no rosto, por uma arma que estava sendo segurada pela melhor amiga, também de 14 anos.
À Polícia, a adolescente que atirou disse que foi à procura da amiga no banheiro do seu quarto – que fica dentro de um closet – levando em mãos duas armas. Em determinado momento, as armas, que estavam em um case, caíram no chão.
“A declarante abaixou para pegar os objetos, tendo empunhado uma das armas com a mão direita e equilibrado a outra com a mão esquerda em cima do case que estava aberto”, revelou a menor em depoimento.
“Que em decorrência disso, sentiu um certo desequilíbrio ao segurar o case com uma mão, ainda contendo uma arma, e a outra arma na mão direita, gerando o reflexo de colocar uma arma sobre a outra, buscando estabilidade, já em pé. Neste momento houve o disparo”, acrescentou.
O laudo pericial do local, realizado pela Politec, apontou outra versão para a dinâmica da morte de Isabele. De acordo com os peritos, o disparo foi executado “mediante o acionamento regular do gatilho da pistola Imbel com o atirador na porção esquerda do banheiro”.
“No ato do disparo, o agressor posicionou-se frontalmente em relação à vítima, sustentou a arma a uma altura de 1,44 m do piso com alinhamento horizontal e uma distância entre 20 e 30 centímetros da face da vítima”, consta em trecho documento.
O levantamento ainda mostrou que o disparo foi realizado de dentro do banheiro, e não da porta do cômodo, como a adolescente havia declarado pela polícia.
“Em momento seguinte, um(a) atirador(a), que este perito não pode identificar, postou-se na região interior do banheiro, na parte esquerda, com a pistola Imbel apontada para a face da vítima, contra a qual efetuou disparo acionando o gatilho”, diz trecho do documento.
Conclusão do inquérito
Após a reconstituição, os delegados da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA) e da Delegacia dos Direitos da Criança e do Adolescente de Cuiabá (Deddica), que presidem o inquérito, irão analisar se serão necessários novos depoimentos.
O delegado Wagner Bassi estima que a conclusão do inquérito deva ocorrer em dez dias após o laudo pericial da reprodução. Este prazo pode variar de acordo com a complexidade do ato.
A partir da entrega do laudo, será realizada a análise do conjunto probatório que compõem o inquérito incluindo todos os laudos periciais produzidos (necropsia, local de crime, confronto balístico e reprodução simulada), depoimentos, relatórios de aparelhos de telefonia celular, relatório de vídeos e imagens, entre outros atos investigatórios, quando então será feito o relatório de conclusão do inquérito policial, bem como do Auto de Apuração do Ato Infracional.
As perícias complementares solicitadas pelo advogado de defesa estão sendo analisadas pelos delegados responsáveis pelas investigações.
Os aparelhos de telefonia celular apreendidos foram submetidos a procedimento de extração de dados e posterior confecção de relatório de análise formalizado pela Diretoria de Inteligência, conforme quebra de sigilo telefônico determinada judicialmente. Em análises de aparelhos foram constatadas mensagens apagadas.
Medidas técnicas estão sendo adotadas a fim de recuperar essas mensagens.