O estádio do Morumbi guarda grandes momentos da história do Palmeiras. O palco, que já recebeu vários clássicos e decisões do Alviverde, voltará a receber um jogo do clube como mandante neste domingo, no confronto com o Santos, pelo Brasileirão Assaí 2020. Essa será a primeira vez desde 2007 que o Palmeiras atua no Morumbi como dono da casa. Na ocasião, o Verdão derrotou o Corinthians pelo Campeonato Paulista daquele ano.
Teve goleiro sendo canonizado, um Animal inspirado, grandes duelos nas arquibancadas… História não falta para contar nessa relação intensa entre o Palmeiras e o Morumbi. Para ajudar a lembrar algumas delas, o site da CBF conversou com o jornalista Paulo Vinícius Coelho, que destacou algumas passagens mais recentes do Alviverde no estádio.
Dérbis na Libertadores
Na Libertadores de 1999, o Palmeiras enfrentou o Corinthians nas quartas de final. Na época, os times paulistas tinham o costume de jogar os clássicos no Morumbi, por ser maior e permitir a divisão igual entre as torcidas. O Verdão ganhou o jogo de ida por 2 a 0, com gols de Oséas e Rogério, mas acabou perdendo o Dérbi da volta pelo mesmo placar, forçando a decisão por pênaltis. Aquela foi a primeira vez que o Palmeiras eliminou o rival na competição. Além de toda a atmosfera de um clássico e da Libertadores, o jogo ainda marcou a idolatria de Marcos. Ou melhor, São Marcos, como ficaria conhecido depois daquele dia.
“Na Libertadores de 1999, nos pênaltis das quartas de final, contra o Corinthians, o goleiro Marcos foi chamado de “São Marcos” pela primeira vez. Ele fez quatro ou cinco defesas absurdas, que a torcida considerou como milagrosas. E foi ali que ele foi santificado de vez”, recordou o comentarista.
No ano seguinte, Palmeiras e Corinthians se enfrentaram de novo na Libertadores. Mais uma vez, o “Morumba” foi o palco do duelo. Agora, o encontro dos rivais daria uma vaga na final da competição. No jogo de ida, o Timão saiu na frente vencendo por 4 a 3. Mas o Alviverde compensou a desvantagem e ganhou por 3 a 2 levando, novamente, a decisão para as penalidades máximas.
Na marca da cal, o santo operou novos milagres. O mais marcante deles foi na cobrança de Marcelinho Carioca, especialista em bolas paradas do Timão. A defesa garantiu a classificação do Palmeiras e a festa da torcida no Morumbi. Apesar da campanha de 1999 ter rendido o título de campeão da Libertadores para o Palmeiras, Paulo Vinícius Coelho acredita que o Dérbi de 2000 foi o mais marcante e traz uma “história deliciosa” por trás da defesa de Marcos.
“O Carlos Pracidelli, preparador de goleiros, indicava o canto que ele tinha que saltar e ele sempre saltava no outro. Aí o preparador ficava bravo dizendo que o Marcos tinha que bater no local em que ele indicava. Mas o Marcos respondia: ‘ele sabe que eu sei onde ele vai bater, então vai mudar de canto’. O único canto em que ele saltou como o Carlos Pracidelli recomendou foi o canto que o Marcelinho Carioca bateu e ele defendeu. O time do Corinthians era muito melhor que o do Palmeiras em 2000. E mesmo assim o Palmeiras venceu com o Marcos defendendo aquela cobrança de pênalti do Marcelinho Carioca”, contou PVC.
Palmeiras x Corinthians na semifinal da Copa Libertadores 2000
Créditos: Juca Varella
O Animal no Morumbi
O Morumbi também foi cenário de confrontos emblemáticos entre Palmeiras e Corinthians pelo campeonato estadual. Em 1993, o Palmeiras, comandado por Vanderlei Luxemburgo, carregava o peso de estar há 16 anos sem ganhar nenhuma competição. Essa contagem não poderia se encerrar de maneira melhor: em cima do rival e com goleada. No jogo de ida, o Alviverde perdeu de 1 a 0, mas acalmou o torcedor com os 4 a 0 no placar da volta.
Mais cedo, naquela mesma competição, o Palmeiras vencera o Corinthians por 2 a 0, também no Morumbi. A partida marcou um dos primeiros grandes capítulos da história de Edmundo no clube. O atacante havia acabado de chegar ao Porco e fez o primeiro gol da vitória. 14 anos depois, no clássico que teve o Palmeiras como mandante no Morumbi pela última vez, o Verdão também derrotou o Alvinegro, mais uma vez com a marca do Animal, que não só balançou as redes, como o fez em um estilo muito parecido com aquele de 93.
“O primeiro clássico dele contra o Corinthians foi um 2 a 0 em 93, no Morumbi. Uma bola cruzada na direita, ele bate de sem pulo. E esse de 2007, ele faz dois gols e um deles é muito parecido com esse de 93. Também é uma bola que vem da direita e ele bate sem pulo, mas a bola veio um pouco mais fraca. Ele bate bem na bola, com menos força. Era realmente o Edmundo mais velho, 14 anos mais velho,” brincou.
Fim do jejum no Choque-Rei
Não foi só como mandante que o Palmeiras viveu bons momentos no Morumbi. Recentemente, o torcedor comemorou muito uma vitória em especial no estádio. Foi em 2018, pelo Brasileirão, que o Porco encerrou um jejum de 16 anos sem derrotar o São Paulo dentro do Cícero Pompeu de Toledo. Como se não bastasse o fim de uma marca que incomodava a torcida no Choque-Rei, a vitória ainda isolou o Palmeiras na liderança da competição, que terminaria com título do Verdão.
PVC analisou a pressão da torcida Alviverde neste jejum como uma consequência dos novos tempos dos times de futebol. Com cada um possuindo seu próprio estádio, a atmosfera de mandante e visitante se torna um fator extra na rivalidade entre os clubes.
“O jogo contra o São Paulo foi importante porque o Palmeiras ficou 16 anos sem ganhar do São Paulo dentro do Morumbi. É uma época diferente dos clássicos já, época de clássico ‘cada um na sua casa’. Tem essa diferença clara. O Palmeiras não ganhava do São Paulo no Morumbi nem como mandante nem como visitante, e isso foi indo em 2003, 2004, 2005.. depois passou a jogar só no Parque Antártica, Allianz Parque, Pacaembu. E aí consegue essa vitória depois de um longo tempo de espera. É outra atmosfera, um jogo de torcida única, ali tinha um peso muito grande de voltar a ganhar do São Paulo, na casa do São Paulo. Isso era muito forte, para muitos palmeirenses, esse tabu incomodou muito,” contou.
Palmeiras venceu o São Paulo por 2 a 0 no Morumbi
Créditos: Palmeiras
Se atualmente cada time tende a mandar seus jogos em seus estádios próprios, houve uma época em que o Morumbi era conhecido como “palco dos clássicos”. Nostálgico, PVC recorda de vários momentos vividos e testemunhados no Morumbi, em uma época em que a rivalidade se fazia presente até mesmo nas cordas divisórias da Polícia Militar.
“A minha geração cresceu entendendo que o Morumbi era o palco dos clássicos, era como se fosse o Maracanã de São Paulo. Então, ter um clássico no Morumbi não era um problema. Não existia essa sensação de ‘estou indo jogar na casa do São Paulo’. Para a minha geração, a lembrança era de estádio dos clássicos. Aquela sensação de chegar no estádio e, se o seu time era mandante, você entrava pelo lado esquerdo do portão principal, se era visitante na tabela entrava pelo lado direito do portão principal. A torcida era dividida com a corda da Polícia Militar. O Morumbi tem 12 gomos, desses 12 gomos ficam, em teoria, nos clássicos, seis para cada lado. Só que a medida que ia chegando mais gente, a polícia ia abrindo, 7 gomos pra um 5 pra outro. Então tinha sempre essa disputa de quem ganharia até em número de gomos, ‘está 7 a 5 pro Palmeiras,’ relembrou.
Fonte: CBF