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Scheidt quer estar pronto para brigar entre melhores em Tóquio

© COB/Divulgação

 

No dia 23 de julho de 2021, quando o Estádio Olímpico de Tóquio receber a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, o velejador Robert Scheidt iniciará a sétima participação olímpica da carreira, um recorde na história do esporte brasileiro. Porém, o atleta quer mais. “Claro que estou ciente de tudo que alcancei. Sete Olimpíadas, posso conseguir a sexta medalha, ser recordista aos 48 anos. Mas não quero só participar dos Jogos de Tóquio. Quero chegar lá sendo competitivo, em condições de brigar pelo pódio. Se vou conseguir, não sei, mas quero me preparar da melhor forma”, declarou o velejador à Agência Brasil.

E para este objetivo se concretizar, o veterano precisa fazer alguns ajustes nos treinos: “Durante toda minha carreira, sempre fui o primeiro a entrar na água e o último a sair. Sabia que tinha que fazer mais do que os outros. Mas, desde o ciclo da Rio 2016, precisei usar mais a experiência. A vela não é só um esporte físico. É uma espécie de jogo de xadrez. Sei o que preciso fazer. E vou tentar colocar em prática”.

Nesse jogo de xadrez, Scheidt traçou uma espécie de caminho inverso da imensa maioria dos velejadores: “Eles começam em barcos menores e mais velozes como os da classe Laser. E, com o passar do tempo, vão para os barcos maiores, que exigem mais da parte técnica, como os da classe Star. Esse é o processo natural. E eu estava nele até os Jogos de Londres 2012”.

Scheidt fez três olimpíadas na classe Laser, com um barco mais veloz e que exige mais da parte física, com três medalhas (ouro em Atlanta e Atenas, e prata em Sydney). Depois partiu para duas olimpíadas na classe Star, um barco maior que exige bem mais da parte técnica, e conseguiu duas medalhas ao lado de Bruno Prada (prata em Pequim e bronze em Londres). Na sequência, a Star saiu do programa olímpico e Scheidt teve que regressar à Laser para o ciclo da Rio/2016, conquistando a quarta posição. “O sonho olímpico falou mais forte. Sabia dos cuidados que precisava tomar nos treinos, alimentação e sono”, afirma.


Scheidt (esquerda) e Bruno Prada conquistaram o bronze nos Jogos de Londres – Pascal Lauener/Reuters/Direitos Reservados

E agora, dando mais uma mostra de que pode ser longevo em alto nível, depois de quase três anos ausente da classe Laser, Scheidt confirmou a vaga para Tóquio em fevereiro desse ano na etapa de Melbourne do Mundial. “Em 2017, já tinha anunciado o final da minha carreira olímpica. Em 2018, um grupo de amigos veio velejar aqui perto de casa e me chamaram. Depois, os caras começaram a falar que eu deveria voltar. Foi aí que aquela chama reacendeu. Passei a virada de ano de 2018 para 2019 no Brasil pensando nisso. E decidi que ia me dar mais uma chance. Sabia que o índice não era fácil, tinha que ficar no mínimo em 18º no Mundial. Fui 12º e confirmei a vaga agora em 2020 no torneio da Austrália. Cá estamos nós. Vamos para mais uma”, comemora.

O brasileiro afirma que o fato de o ciclo olímpico estar sendo atípico pode ter sido bom para ele: “Comecei a velejar, praticamente, no meio do ciclo. Mas, com o adiamento, ganhei mais um ano. Estou animado. Faço aquilo que gosto. Adoro competir, ter um objetivo. Tenho prazer em representar o Brasil e tentar ser competitivo”.

Retorno às competições em setembro

Scheidt já tem a primeira competição confirmada para depois do período crítico da pandemia do novo coronavírus (covid-19) na Itália, onde reside. Será a Semana de Vela de Kiel (Alemanha), que acontece de 5 a 13 de setembro. Para isso, o atleta intensifica a preparação no Lago di Garda, na Lombardia. “Fiquei de dois a três meses longe da água. Por isso, no reinício, lá em maio, tive a preocupação de fazer uma volta gradual”, afirmou o velejador. A partir de junho ele passou a apostar em um intercâmbio maior com atletas de outros países durante a preparação: “Na vela, é muito importante você ter esse contato, testar e verificar a velocidade e a regulagem do barco. É bem mais produtivo”. O brasileiro destaca a parceria com o francês Jean-Baptiste Bernaz: “Ele é um dos melhores do mundo, foi quarto no mundial desse ano, na classe laser, e ter esse parâmetro da minha atual velejada é muito importante. Encerrei alguns treinos andando perto dele. Tenho coisas a melhorar. Claro que aqui é lago, o ideal seria fazermos trabalhos no mar com ondas maiores, simulando a situação do Japão. Mas, para o atual momento, é claro que foi uma preparação boa”, diz.

E para retornar às competições, a Semana de Kiel é uma das melhores provas possíveis: “É um dos torneios mais tradicionais da vela. Existe há mais de 125 anos. É uma surpresa acontecer nesse ano, nesse contexto de pandemia. Já estive lá diversas vezes. E conquistei muitas vitórias lá. Nesse ano, serão várias restrições. Teremos 120 velejadores, com os melhores da Europa. Um termômetro excelente para ver se o que fiz até agora foi correto. Estou bem animado”. Na sequência, existe a possibilidade de o brasileiro partir para o Campeonato Europeu, previsto para outubro em Atenas. “O torneio ainda não está confirmado. A classe laser não tem as inscrições confirmadas. Espero que possa estar lá. Seria demais voltar a Atenas, onde ganhei o ouro olímpico em 2004”, encerra com esperança.

Edição: Fábio Lisboa

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