Neste domingo (27.09) é celebrado o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Mato Grosso está entre os Estados de referência no transplante de córnea e rim. O transplante renal foi reativado em janeiro deste ano pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT), após mais de uma década paralisado.
Apesar da referência, ainda é baixo o número de doadores no próprio estado, pois há famílias que não são conscientes sobre a importância desse gesto e resistem em decidirem em prol do amor e solidariedade, situação que desafia o Sistema Único de Saúde (SUS) no âmbito estadual.
Conforme dados da Gerência de Acompanhamento e Controle de Transplantes da SES, em 2019 foram realizados 131 transplantes de córneas. Desses, apenas três eram doadores de Mato Grosso. Neste ano, devido à pandemia pela Covid 19, a redução no número de doações foi ainda mais acentuada. Dados mostram que foram realizados 73 transplantes, sendo 71 de córneas e dois de rim. Do total de transplantes ocorridos neste ano, somente um doador era de Mato Grosso.
Além da baixa taxa de autorização da família do doador falecido e a negativa de doadores vivos, também está entre os fatores que limitam a doação de órgãos e tecidos a subnotificação dos casos suspeitos de morte encefálica, pois a demora na notificação por parte dos hospitais ocasiona a impossibilidade de concluir o diagnóstico ou inviabiliza os órgãos/tecidos para doação.
A secretária adjunta de Regulação, Controle e Avaliação da SES, Fabiana Bardi explica que a captação de órgãos e o transplante podem ser realizados durante a pandemia. “Tivemos no início, quando havia muitas dúvidas relacionadas ao coronavírus, uma paralisação em todo o país. Porém, com a ampliação do conhecimento por parte dos profissionais da saúde, hoje o transplante pode ser retomado”, informou.
Novos protocolos
A retomada da captação e transplante em Mato Grosso segue os critérios estabelecidos pelo Sistema Nacional de Transplante (SNT). Para que o processo seja seguro e tenha os resultados esperados, a nova conduta exige que o doador, o paciente receptor e a equipe médica que irá realizar o procedimento façam exames a fim de detectar ou não a Covid-19.
Conforme a coordenadora de Acompanhamento e Controle de Transplantes da SES, Anita Ricarda da Silva, a Central de Transplante articula junto à Superintendência de Vigilância em Saúde e ao Laboratório Central do Estado (Lacen-MT) a garantia do teste RT-PCR para os envolvidos no processo ambulatoriais e cirúrgico.
“Estamos concluindo um fluxo de trabalho de acordo com as orientações do Ministério da Saúde e Anvisa. Vamos apresentar o fluxo ao Sistema Nacional de Transplante para proteger tanto as pessoas que receberão os órgãos e tecidos e os doadores, assim como também os profissionais envolvidos durante o processo”, acrescenta Anita.
Segundo a coordenadora, as unidades hospitalares credenciadas para realizar o transplante de córnea são: Instituto Da Visão/Visionare; Hospital dos Olhos e Centro Cuiabano de Excelência em Oftalmologia, além do Banco de Olhos de Cuiabá, que é parceiro para captação, preservação, armazenamento e avaliação de córneas. Já o hospital credenciado para realizar transplante de rim é o Hospital Santa Rosa, em Cuiabá.
O transplante
Um único doador pode beneficiar até 25 pessoas de outras localidades do país com o transplante de órgãos e tecidos. Se for morte encefálica confirmada e a equipe médica tem a autorização da família para que ocorra a retirada dos órgãos, o hospital entra em contato com a Central Estadual de Transplantes, que por sua vez inicia o processo de avaliação e validação do doador e a realização de testes de compatibilidade entre o potencial doador e os potenciais receptores da lista nacional de espera, além de exames de coronavírus.
Tipos de doação
Em janeiro de 2020, quando foi retomado o transplante de rim em Mato Grosso, as irmãs Glacelise Bettini da Silva Medrado, receptora do órgão, e Carmem Regina da Silva Medrado, doadora, foram as primeiras pacientes a serem atendidas via SUS após mais de 10 anos de paralisação do serviço no Estado. Elas se enquadram na doação entre pessoas vivas, mas existe também doação de pessoa falecida.
O doador vivo pode ser qualquer pessoa saudável que concorde com a doação. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela Lei, parentes até quarto grau e conjugues podem ser doadores; não parentes, somente com autorização judicial. Para isso, é necessário que o voluntário tenha sido submetido a uma rigorosa investigação clínica, laboratorial e de imagem, e esteja em condições satisfatórias de saúde, possibilitando que a doação seja realizada dentro de um limite de risco aceitável.
O único cadastro de doadores existente no Brasil é o Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), realizado nos Hemocentros públicos. O interessado poderá se cadastrar como doador voluntário de medula óssea na sede do MT Hemocentro, em Cuiabá.
Doador falecido é um paciente com morte encefálica, geralmente vítima de lesões cerebrais, como traumatismos cranianos ou AVC (derrame cerebral). O doador falecido pode doar coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córneas, veias, ossos e tendões. Portanto, um único doador pode salvar inúmeras vidas.
Não existe muitas restrições à doação de órgãos para nenhum dos dois tipos de doadores, mas a doação pressupõe alguns critérios mínimos como causa da morte, doenças infecciosas ativas, dentre outros. Também não poderão ser doadoras as pessoas que não possuem documentação ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis. A família do doador, para casos de doação após a morte ou em vida, não paga nada e tampouco recebe qualquer pagamento pela doação.
Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo SNT.
Fonte: Fernanda Nazário SES-MT
Crédito de imagem: Registro da retomada do transplante de rim em Mato Grosso, em janeiro de 2020 – Foto por: Assessoria Hospital Santa Rosa