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Aline Pellegrino projeta trabalho no futebol feminino da CBF: ‘Não vamos dar passo atrás’

Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Quem encontrou Aline Pellegrino em seus primeiros dias na CBF já notou uma de suas principais marcas: a inquietude. De uma sala para a outra, entre os corredores, a nova Coordenadora de Competições Femininas chegou arregaçando as mangas, ciente da responsabilidade e do trabalho que lhe aguardam à frente do futebol feminino do país.

Mas nada disso a assusta. Acostumada a encarar adversidades dentro e fora dos gramados, Aline chega ao novo cargo, criado a partir de sua contratação, com objetivos, desafios e planos bem definidos. Afinal, pouca gente conhece tanto do assunto quanto ela. Em entrevista exclusiva ao site da CBF, a ex-capitã da Seleção Brasileira dissecou as ideias que servirão como norte para o seu trabalho e garantiu: o futebol feminino só vê caminho para frente. Para trás, nunca mais.

“Significa um olhar que vai além da fala do presidente. É real. As coisas estão acontecendo, a atenção para o futebol feminino. E a CBF cuida de competições e de seleções, então você tem a Duda olhando Seleções e a Aline olhando competições. Acho que é um tripé que se fecha bem e eu acredito que, olhando esse cenário, mostra que não vamos dar passo atrás com o futebol feminino. Vamos seguir muito alinhados com as diretrizes da FIFA e da CONMEBOL, em relação ao desenvolvimento do futebol feminino. Tenho certeza que os frutos vão vir para a gente pensar em um planejamento de longo prazo”, constatou Pellegrino.

 

A chegada de Aline Pellegrino ao comando do futebol feminino do país era um momento esperado por muitos. Sua trajetória como jogadora, coordenadora técnica e gestora a credenciava para ocupar um cargo deste porte. E quando ela foi anunciada pelo Presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi como se voltasse aos tempos de atleta, recebendo uma convocação para defender o seu país.

Das mãos de Caboclo, recebeu uma camisa da Seleção, ao lado de Duda Luizelli, que assumia, no mesmo dia, o posto de Coordenadora das Seleções Femininas. Uma imagem que, mais do que qualquer palavra, mostra nas mãos de quem está o futebol feminino brasileiro.

“A gente avançou muito nos últimos anos. É a mesma casa, com muitas pessoas que eu convivi lá no passado, então é muito bom também reencontrar essas pessoas. Mas, apesar de tudo, é uma casa nova, uma casa reformulada,  com outra visão de futebol brasileiro. E as mulheres fazem parte desse futebol brasileiro. Isso passa uma confiança muito grande para mim, sem dúvida nenhuma. É a mesma casa, mas está totalmente diferente, totalmente renovada, com outro ar, com outro espírito e é muito perceptível isso nessa minha chegada, depois de tantos anos. Eu fico muito feliz que eu tenha chegado nesse momento”, frisou.



Aline Pellegrino foi anunciada ao lado de Duda Luizelli.
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Durante a conversa de mais de meia hora com a CBF TV, Aline falou sobre a sensação de voltar a representar seu país, os principais obstáculos para fazer crescer o futebol feminino no Brasil, se posicionou sobre temas sensíveis da modalidade e muito mais. Chegou a hora de saber mais sobre como pensa a mais nova gestora do futebol feminino brasileiro.

Como você chega para ocupar esse novo cargo?

Com muito desejo de entregar, de trabalhar, de me dedicar, de chegar mais cedo, sair mais tarde. De no final de semana estar olhando as coisas acontecendo, de acordar de madrugada fazendo anotação, porque lembrou de alguma coisa. Com certeza é a chegada de uma Aline muito otimista, de todas as possibilidade, de tudo que é possível fazer em um cenário nacional. Mas também sabendo  que nesse mesmo patamar tem um desafio muito grande. Eu sei que o desafio é muito grande e acho que o meu otimismo tem que ser do mesmo tamanho ou maior que o desafio.

E como foi a conversa antes de aceitar o convite do Presidente Rogério Caboclo?

Foi muito positiva, muito produtiva, no sentido de começar a entender um pouco o que a entidade máxima do futebol brasileiro imagina, pensa e espera do futebol feminino. Tudo que eu ouvi do Presidente Rogério Caboclo naquele momento me fez acreditar que era a hora de fazer essa mudança, de entrar nesse desafio junto com a Confederação, de colocar o futebol feminino brasileiro em um outro nível, de desenvolver ainda mais, de avançar o que foi feito. Muita coisa foi feita e o Presidente quer que a gente faça ainda mais.

Temos percebido você bem elétrica, inquieta mesmo, nesses primeiros momentos. É um pouco de como funciona o seu trabalho?

Isso vai ser a Aline sempre, andando por aí, em todos os corredores, batendo em todas as portas, sempre elétrica mesmo, sempre ali querendo aproveitar qualquer oportunidade de resolver alguma coisa ou de criar alguma possibilidade. Mas óbvio que no começo, com muita coisa acontecendo, o celular não para, o e-mail começa a bombar também. Tem muita coisa que eu ainda preciso entender, conhecer e quanto mais rápido eu conseguir fazer isso, melhor, porque eu começo a despachar e ter um pouco mais de autonomia nesses processos. É o trabalho, o dia-a-dia, é normal, é natural e tem muita coisa para ser feita.

“O meu otimismo tem que ser do mesmo tamanho ou maior que o desafio”

Como você definiria o cargo de Coordenadora de Competições Femininas?

As pessoas estão tão acostumadas com a competição, em ter a competição, mas talvez não entendam o que está por trás da operação, da realização do jogo, de um campeonato. Quantos departamentos são envolvidos ali? Como é que se constrói um regulamento? A partir do quê? Você vai ter um regulamento específico, um regulamento geral. No caso das competições femininas, às vezes, você ainda tem a licença de clubes. Tem muita coisa envolvida por trás dessa competição que as pessoas só ligam a televisão e assistem. A Aline está por trás dessa operação, tentando realmente mapear todas as possibilidades positivas e negativas. Tentando realmente diminuir o risco da competição em todos os sentidos, e ver o que ela tem de potencial que a gente possa focar naquilo e ter uma visibilidade maior.

E o que significa a criação dessa pasta pela CBF?

Significa um olhar que vai além da fala do presidente. É real. As coisas estão acontecendo, a atenção para o futebol feminino. E a CBF cuida de competições e de seleções, então você tem a Duda olhando Seleções e a Aline olhando competições. Acho que é um tripé que se fecha bem e eu acredito que, olhando esse cenário, mostra que não vamos dar passo atrás com o futebol feminino. Vamos seguir muito alinhados com as diretrizes da FIFA e da CONMEBOL, em relação ao desenvolvimento do futebol feminino. Tenho certeza que os frutos vão vir para a gente pensar em um planejamento de longo prazo.

Quais são seus principais objetivos?

Precisamos entender como a Confederação chegou nesse momento, que é um momento bom, sólido, com número de clubes que aumentou nas duas competições. O número de jogos é muito maior, as competições de base… No primeiro momento, é entender como chegamos aqui e o que a gente tem de margem para melhorar e evoluir. A gente precisa aceitar que a transformação faz parte do processo de desenvolvimento. Tem que construir isso, obviamente, junto com as federações, junto com os clubes para que a gente tenha, em um período curto, um calendário que seja mais próximo do ideal, um número de competições que seja mais próximo do ideal, de torneios de base que seja mais próximo do ideal.

Qual o maior desafio para conseguir isso?

O grande desafio é lidar com as diferenças locais. A gente tem estados em momentos diferentes de desenvolvimento e cada um, dentro do seu momento, é importante para o resultado final. É importante ter momentos em que estados que estão mais parecidos possam se desenvolver em equilíbrio. E momentos em que todos esses estados, mesmo com níveis diferentes, possam caminhar juntos também. Essas são as estratégias que vão ser criadas, discutindo com eles. Não adianta querer, em um estado que, hoje, está em um nível um pouco abaixo, que você tenha nove meses de calendário. Vamos trabalhar para que tenham estados com, no mínimo, três… seis… nove… até chegar em 12. Eu acredito que é possível construir isso juntos.



Coordenadora de competições femininas da CBF Aline Pellegrino
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Mas como fazer para equilibrar essa evolução, sem depender de casos isolados?

A gente já tem alguns cases de que é possível, sim, descentralizar e ter um bom resultado. Temos exemplos de estados que conseguem, não só com os ditos “clubes de camisa”. Pelo contrário, no caso de São Paulo, muitos clubes do interior acabam tendo uma história no futebol feminino maior e até resultados maiores. É possível construir juntos. É preciso que esse clube, dentro daquele estado, que é campeão há dez anos, se incomode. É preciso que ele tenha não só um time para fazer frente, mas dois, três, quatro, porque aquilo eleva o nível do campeonato. Atrai mais visibilidade, patrocínio, investimento. O estado cresce, ele melhora no ranking, vai para a competição nacional mais forte. Na conversa, mostrar para cada um deles ali que, para a gente evoluir enquanto futebol feminino brasileiro, a gente vai precisar de cada um.

Qual sua avaliação sobre o momento da base do futebol feminino?

Temos competições que acontecem há mais de uma década na categoria adulta. Na categoria de base, não. Faz parte, nesse primeiro momento, que você tenha formatos menores. Temos que ter a preocupação também da escola, como dividir essa calendário delas com relação ao ano escolar. Mas entendendo que, se a gente não fortalecer a base, a gente não fortalece o nosso campeonato adulto, a gente interfere na qualidade das atletas para a Seleção Brasileira. A base é extremamente importante. As próprias comissões técnicas das Seleções vão ajudar muito a gente a entender quais são os melhores formatos. É melhor jogar menos perto da competição ou mais perto? É preciso construir uma estratégia que atenda a todo mundo, porque são objetivos diferentes, mas eles estão muito ligados. O calendário é muito importante. Ter um calendário que a gente consiga falar: “as competições de base serão no primeiro semestre, no segundo semestre”. A base, sem dúvida, é uma dificuldade maior, mas é extremamente importante. Nós vamos conseguir construir, amarrar e valorizar quem vem fazendo. Valorizar aquelas federações que tenham competições de base, os clubes que investem nas categorias de base para que os outros vejam e falem: “olha, se eu não fizer, eu vou ficar para trás”.

“É um momento em que todo mundo pode aprender muito”

Falando em Seleção, é possível imaginar o reflexo que o bom trabalho nas competições pode causar na Amarelinha?

Quanto mais a gente ouvir, vai agregar melhor e vale o mesmo da minha parte com as comissões, com a Bia Vaz que é uma grande amiga, com a Simone Jatobá, que foi uma grande companheira de Seleção Brasileira, com o Jonas Urias, que eu convivi bastante em São Paulo e com a Pia que é fora da caixinha, tá acima de qualquer suspeita ali. É um momento em que todo mundo pode aprender muito.

Como deve ser o trabalho ao lado da Duda?

Estive na Granja semana passada também… Não cheguei a jogar com a Duda, mas por conta das competições lá em São Paulo e competições da CONMEBOL também, a gente acabou se aproximando. É como se a gente se conhecesse há mais tempo que realmente a gente se conhece. Então é muito bom, uma relação que começou também de muita aproximação, de muita verdade. A gente tem trocado bastante mensagem. Vou estar à disposição, as vezes vou encostar na Bia, na Pia. Mas eu acho que é característica dessas comissões técnicas a troca de informações. Todo mundo ganha com isso.

Qual o papel do Brasil no desenvolvimento do futebol sul-americano?

A gente precisa trazer os outros países para esse desenvolvimento, para essa evolução. Para que a gente possa chegar a uma Copa do Mundo, enquanto América do Sul, muito forte. No ano passado, a gente teve o Chile batendo na trave de quase se classificar, a Argentina também conseguindo os melhores resultados que já teve na história das Copas do Mundo. Porém, nas quartas de final a gente não tinha nenhum Sul-Americano ali representado. É extremamente importante que a gente avance enquanto continente para chegar mais forte e até para, dentro desse cenário mundial do futebol feminino, se posicionar, ser mais propositivo.

Olhando para trás, o que mudou na Aline jogadora para a Aline gestora de futebol?

São gritantes as diferenças. São quase 15 anos, da minha chegada na Granja até aqui. Eu não imaginava, naquele momento, me manter na Seleção Brasileira, jogar uma Olimpíada, ser medalhista. Tudo foi uma surpresa, mas uma surpresa que vem com muito trabalho, muita dedicação. Meus nove anos de Seleção Brasileira foram dessa forma e isso, obviamente, me moldou no dia a dia. Essa perseverança, persistência, resiliência. É uma Aline com uma visão muito mais ampla do todo mesmo. O sentimento é quase o mesmo, sem dúvida, porque é uma chegada, é muito importante, porque tem muita coisa para caminhar, para conquistar. Espero que seja uma jornada muito vitoriosa com foram os meus anos como atleta da Seleção Brasileira.

E o que mudou no futebol feminino do Brasil desde então?

São cenários totalmente diferentes. A gente avançou muito nos últimos anos. É a mesma casa, com muitas pessoas que eu convivi lá no passado, então é muito bom também reencontrar essas pessoas. Mas, apesar de tudo, é uma casa nova, uma casa reformulada,  com outra visão de futebol brasileiro. E as mulheres fazem parte desse futebol brasileiro. Isso passa uma confiança muito grande para mim, sem dúvida nenhuma. É a mesma casa, mas está totalmente diferente, totalmente renovada, com outro ar, com outro espírito e é muito perceptível isso nessa minha chegada, depois de tantos anos. Eu fico muito feliz que eu tenha chegado nesse momento. Fico feliz de estar chegando agora com essa casa diferente e espero que esses bons ares tragam muito sucesso para nós e para o futebol feminino brasileiro.



Aline Pellegrino: dos campos para o escritório, sempre pelo futebol feminino.
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

Fonte: CBF
Crédito de imagem: Créditos: Lucas Figueiredo/CBF

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