O Museu Casa do Pontal, uma referência em arte popular brasileira, reabriu hoje (3), após mais de seis meses fechado, por causa da pandemia. Quem visitar o local, poderá ver a exposição permanente, com mais de duas mil obras, Até Logo, Até Já. A exposição marca a despedida do museu da atual sede, no Recreio dos Bandeirantes. Em 2021, o museu reabrirá suas portas em nova sede, na Barra da Tijuca.
O percurso da exposição foi dividido em oito temas, com as obras de grandes artistas como Mestre Vitalino, Manuel Galdino, Zé Caboclo e Luiz Antonio, do Alto do Moura e Caruaru, Pernambuco; Noemisa Batista, Maria Assunção e João Alves, do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais; Celestino e Nino, de Juazeiro do Norte, do Ceará.
Outras obras incluem a instalação cinética Escola de Samba, de Adalton Fernandes Lopes, com mais de 300 personagens em cerâmica que se movimentam ao ritmo do samba; além das obras dos mineiros Antonio de Oliveira (1912-1996), e Dadinho, que viveu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.Para a diretora curadora do Museu, Angela Mascelani, a arte popular se correlaciona com a natureza e o meio ambiente como pode na obra de Dadinho. “Esse artista fez Cidades Tentaculares entalhadas em raízes mortas que ele encontrou em andanças que fez no entorno em que morava. São obras de grande formato que falam dessa natureza recuperada, de como as coisas se transformam e de como a arte é um agente reformador dentro do mundo”, contou em entrevista para a Agência Brasil.
Despedida
A escolha do nome da exposição Até Logo, Até Já não foi à toa. A volta do público agora é também uma despedida das instalações atuais, na zona oeste do Rio, onde o museu funciona há 44 anos. O motivo da mudança é uma série de enchentes que o espaço cultural enfrenta há dez anos, inclusive uma no início deste ano. A nova sede, na Barra, deve ser inaugurada entre abril e junho do ano que vem.
Segundo a diretora, a reabertura neste sábado é quase um ritual de passagem para as novas instalações, um momento muito importante diante das dificuldades pelas quais a Casa do Pontal passou. “Esse novo prédio foi inteiramente construído para ser o Museu e vai receber este acervo precioso do Brasil todo, que pega o século XX quase que inteiro. Conta um século de história da arte feita pelas camadas populares”, observou.
Impacto
As frequentes inundações provocaram impacto no acervo de quase dez mil obras de 300 artistas brasileiros. Angela lembrou que as obras de arte popular são feitas com matéria prima mais frágil, como a madeira disponível e não um material trabalhado especificamente para obras.
“Nos últimos três anos nós tivemos quase mil obras impactadas. Isso não é perda de acervo. Tivemos impacto no acervo, significa que se uma obra fica submersa durante dois, três dias, até a madeira se recuperar fica muito vulnerável à ação de bicho, traça, porque ficou úmida. Uma cerâmica da década de 40 que ficou submersa vai perder pigmento e saturação de cor. Vai precisar de restauro”, exemplificou.
Segurança sanitária
O Museu adotou protocolo para evitar contaminação pelo novo coronavírus como a higienização do local a cada hora, distanciamento entre as pessoas e uso obrigatório de máscaras. Haverá aferição de temperatura e tótens com álcool gel espalhados pelo circuito expositivo, e controle de quantidade de visitantes na área interna.
Na área externa, só poderão se agrupar núcleos familiares. Os funcionários usarão máscaras e protetor de rosto (face shield). O horário de funcionamento é das 9h30 às 17h, todos os dias da semana. A entrada é gratuita, mas o espaço cultural aceita contribuições voluntárias.
Novas instalações
Depois de dois anos paralisadas, as obras da sede nova foram retomadas após campanhas de financiamento coletivo, que receberam recursos de entusiastas do Museu. “No período do financiamento coletivo a gente viu que tem muita gente que quer participar para manter essa arte viva. Agora é pensar o novo e o novo é um centro cultural gratuito e tendo pessoas que queiram suportar o projeto, vamos ajudar, vamos construir”, disse o diretor-executivo do Museu do Pontal, Lucas Van de Beuque, neto do fundador do espaço cultural o francês Jacques Van de Beuque.
A futura sede será na Barra da Tijuca, também na zona oeste, em local de acesso mais fácil, com possibilidade de usar transporte público com ônibus do BRT e metrô. De acordo com Van de Beuque também haverá uma van na estação do BRT para facilitar o deslocamento dos visitantes.
A construção da nova sede tem a participação dos arquitetos que desenvolveram o projeto do Instituto Inhotim, museu a céu aberto em Brumadinho, Minas Gerais. A ideia é repetir o conceito com uma grande extensão de área livre de 14 mil metros quadrados (m²) e vista para o maciço da Tijuca. Ele espera que o museu possa ser frequentado de forma descontraída até por quem saiu da praia. “Vai ter um chuveiro para as pessoas poderem tomar banho e tirar a areia e depois verem as exposições. Queremos também que possam fazer piquenique”, completou.
As obras da exposição só serão transferidas para as novas instalações após 8 de novembro, quando será encerrado este período de visitação, de celebração e de despedida do histórico Museu. As outras sete mil peças, guardadas na reserva técnica do acervo, começarão a ser levadas para o novo espaço neste mês, além das que estão em itinerância pelo SESC Santos.
Edição: Denise Griesinger
Fonte: Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Crédito de imagem: © Museu Casa do Pontal