Na próxima quarta-feira (7) acontece a eleição para presidente e vice do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Os dirigentes escolhidos comandarão a entidade pelos próximos quatro anos. O período englobará a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021, e a Olimpíada de Paris, em 2024.
O curioso é que o pleito desta quarta será o primeiro desde 1979 com mais de um concorrente. São três chapas. A situação é representada pela “União é Força”, que tem o atual presidente Paulo Wanderley e o vice-presidente Marco La Porta. Duas chapas concorrem pela oposição. Uma delas é a “COB+Forte”, com o presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Rafael Westrupp, e Emanuel Rego, campeão olímpico em 2004 no vôlei de praia. A outra é a “Vem Ser”, formada pelo presidente da Confederação Brasileira do Pentatlo Moderno, Helio Mereilles, e Robson Caetano, recordista sul-americano dos 100 metros rasos e medalhista olímpico e mundial.
Para Katia Rubio, professora da Faculdade de Educação da USP e estudiosa do movimento olímpico, antes mesmo de a eleição, o esporte olímpico já saiu ganhando: “O fato de haver três chapas depois de mais de quatro décadas nas eleições do COB é um indicador de que houve uma mudança no processo. É a primeira eleição que não tem restrição dentro do próprio colégio para a inscrição de chapas. Antes, era necessária a indicação de 10 Confederações, 5 Confederações. Nesse processo atual, qualquer cidadão que conseguisse um companheiro para formar chapa pôde concorrer. Então, dessa forma, acredito que o pleito em si foi bastante diferenciado dos anteriores do próprio Comitê. É um começo. Mas um começo importante”.
Virgilio Franceschi Neto, mestre em Gestão do Esporte pela Universidade de Lisboa e membro da Associação Brasileira de Gestão do Esporte, concorda com a professora da USP: “Estamos longe das condições ideais. Mas essa eleição já marca o início de um caminho para isso. Tudo é parte de um processo. Até então tudo era desconhecido. Ficarão algumas lacunas, que serão preenchidas nas próximas eleições, que gerarão outras. Mas são os primeiros passos de uma caminhada de muito aprendizado”.
Além das três chapas, o pleito poderia contar com mais uma concorrente. O advogado e ex-presidente do Conselho de Ética do COB Alberto Murray foi forçado a abandonar a disputa após o candidato a vice, Mauro Silva, da Confederação Brasileira de Boxe, deixar o pleito. A decisão foi tomada dois dias depois do encerramento do prazo para as inscrições de novas chapas.
Apesar desse revés, Murray concorda que, aos poucos, o processo eleitoral do COB vai se democratizando: “Se voltarmos quatro anos, esse cenário de três chapas disputando o pleito seria impossível. A prisão temporária do Nuzman e o processo penal a que responde foi um marco muito importante para o esporte brasileiro. Claro que a democracia ainda precisa avançar mais, com maior participação dos atletas e clubes. Isso virá com o tempo”.
Colégio eleitoral
O colégio eleitoral para a votação terá 49 votos. São 35 presidentes de Confederações esportivas, dois membros do Comitê Olímpico Internacional (Bernard Rajzman e Andrew Parsons) e os 12 integrantes da comissão de atletas.
Para Katia Rubio, a participação dos atletas pode ser decisiva: “Através da Comissão, eles têm em mãos o poder de desequilibrar uma eleição. Esses 12 votos representam quase um terço do colégio eleitoral. Pudemos observar que, nos últimos dias, houve uma série de reveses no processo. E esperamos que os atletas façam valer o seu direito de voto, e que eles mudem os rumos do COB. Que não sejam apenas um brinquedo nas mãos dos dirigentes. Que eles possam fazer o COB ser uma instância representativa do esporte olímpico no Brasil”.
Yane Marques, bronze no Pentatlo Moderno em Londres 2012 e vice-presidente da Comissão de Atletas, garante que eles têm consciência do peso que terão nessa eleição: “O momento é histórico. Nosso voto será construído em conjunto. Nós votaremos em bloco. Entendemos que a Comissão representa um segmento. (…). Torço para que façamos as escolhas certas”.
Se no primeiro turno nenhuma das chapas chegar a maioria de 25 votos, será realizado um segundo pleito, depois do intervalo necessário para a distribuição de novas cédulas e logística de novo escrutínio. Essa será a primeira vez em mais de 40 anos que os atletas terão uma participação tão destacada na eleição do COB.
Além de eleger o novo presidente e o vice do COB, o colégio eleitoral escolherá os sete representantes de Entidades Nacionais de Administração do Desporto (ENADs), que representarão as modalidades que fazem parte dos programas olímpicos de Verão e de Inverno, e o membro independente no Conselho de Administração no próximo mandato. Esse conselho define a estratégia e as práticas de governança do COB.
O COB foi fundado em 8 de Junho de 1914. Mas, em razão da Primeira Guerra Mundial e de conflitos internos, a entidade passou a atuar oficialmente apenas em 1935. Nesses 85 anos, oito pessoas ocuparam o cargo de presidente: Antônio Prado Júnior (1935/1946), Arnaldo Guinle (1947/1950), José Ferreira Santos (1951/1962), Attila Aché (janeiro a outubro de 1963), Sylvio de Magalhães Padilha (1963/1990), André Gustavo Ritcher (1990/1995), Carlos Arthur Nuzman (1996/2017) e Paulo Wanderley (desde 2017).
Edição: Fábio Lisboa
Fonte: Juliano Justo – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional – São Paulo
Crédito de imagem: © Rafael Bello/COB/Direitos Reservados