Os testes clínicos para verificar a eficácia da vacina BCG, usada contra a tuberculose, no combate ao coronavírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, devem durar entre seis e 12 meses, disse hoje (5) a coordenadora da pesquisa, Fernanda Mello, professora de Tisiologia e Pneumologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A cientista detalhou que os 1 mil profissionais de saúde voluntários que participarão da pesquisa devem ser recrutados nos próximos dois meses.
A hipótese que a equipe de pesquisadores busca confirmar é a de que a BCG estimula o sistema imunológico a se defender contra a covid-19, evitando a infecção ou o desenvolvimento de quadros mais graves da doença.
A suspeita surgiu quando foram comparados dados epidemiológicos de países que aplicam a BCG em seus calendários vacinais para prevenir a tuberculose, principalmente na América do Sul, África e Ásia, com os de países que suspenderam esse tipo de vacinação, como Estados Unidos, Espanha e Itália.
Reforço
A professora da UFRJ esclareceu que, apesar de a população brasileira já receber a BCG desde a década de 1970, a revacinação dos voluntários é necessária porque a hipótese estudada é de que o reforço do sistema imunológico ocorre nos anos seguintes à imunização.
“Por que revacinar nesse momento? Sabemos que essa vacina estimula a imunidade inata e pode ter uma ação mais efetiva nos anos subsequentes à aplicação. Temos evidências de que, nesse momento, a revacinação traria um novo estímulo, uma nova carga de estímulo ao sistema imune e para essa imunidade inata de forma que se tornasse mais eficiente para a resposta a outros desafios como o Sars-CoV-2”.
Ministro
O início da testagem foi celebrado em uma cerimônia na UFRJ, com a presença do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes. O ministro ressaltou que, mesmo se a hipótese for confirmada, a vacinação com BCG não substituirá as vacinas específicas contra a covid-19 que estão sendo desenvolvidas e funcionaria apenas como um reforço à resposta imunológica.
Além do início dos testes clínicos com a BCG, a cerimônia também inaugurou um laboratório de campanha na UFRJ para a realização de pesquisas e testes diagnósticos de covid-19. Em seu discurso, Pontes declarou que, além de 12 laboratórios de campanha como o inaugurado hoje, foi feito um esforço para elevar o nível de biossegurança de 14 laboratórios no país, do nível NB-2 para o nível NB-3. Segundo ele, a pasta pretende ainda construir um laboratório NB-4 no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
“É um projeto caro? É. Mas quanto custa uma vida? O recurso para ciência e tecnologia não é gasto, é investimento para o país, para salvar vida, produzir riquezas para o país, melhorar a qualidade de vida e produzir conhecimento”, disse. “Temos que pensar um pouco no futuro. Essa não vai ser a última pandemia. É chato falar, mas é verdade. O quanto preparados estamos para as outras pandemias que virão?”
O ministro afirmou que tem dialogado com o Congresso sobre a importância de reposição de pesquisadores em instituto do país e levado demandas por recursos ao Ministério da Economia.
Ao discursar na cerimônia, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Denise Pires, defendeu a recomposição dos orçamentos dos ministérios da Educação e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A reitora destacou que as universidades públicas realizaram mais de 3 mil ações de enfrentamento à covid-19 no país e citou iniciativas da UFRJ, como a produção de 80 toneladas de álcool em gel e o desenvolvimento de um ventilador pulmonar. “Sem investimento, não conseguiríamos ter feito tudo aquilo que fizemos até agora”.
Edição: Fábio Massalli
Fonte: Vinícius Lisboa – repórter da Agência Brasil – Brasília
Crédito de imagem: © Tânia Rêgo/Agência Brasil