Coluna – Olimpíada Biônica

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© EMA-UnB/Divulgação

Uma competição com diferentes provas de corrida, reunindo grupos que desenvolvem tecnologias para aprimorar a mobilidade de pessoas com deficiências físicas. Também chamado de “Olimpíada Biônica”, o Cybathlon 2020 foi disputado, de forma online, entre sexta-feira (13) e sábado (14), por equipes de 23 países. Entre eles, estava o Brasil, único da América Latina, representado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e pelo atleta paralímpico Estevão Lopes.

Estevão ficou paraplégico em 2012, atingido por uma bala perdida em um Riacho Fundo, cidade-satélite de Brasília. No hospital Sarah Kubitschek, teve contato com o esporte adaptado, passando por vela (chegando a disputar Mundiais entre 2016 e 2018), remo e paracanoagem. Em 2015, conheceu a equipe EMA (Empoderando Mobilidade e Autonomia), da UnB, que o apresentou à tecnologia da eletroestimulação.

Apesar da deficiência nos membros inferiores, a tecnologia desenvolvida pelo grupo de pesquisadores (que reúne professores e estudantes dos cursos de Educação Física, Fisioterapia e Engenharia) permite que Estevão pedale um triciclo adaptado. Esse triciclo tem um aparelho eletroestimulador acoplado, cuja interface funciona como um cérebro. A interface manda informações ao aparelho, que, por sua vez, reage em forma de choques programados no músculo, fazendo com que a perna conectada aos eletrodos se movimente.

“Com esta técnica de eletroestimulação funcional, fazemos um atalho entre o cérebro e o membro paralisado da pessoa. Fazendo isso de uma forma coordenada e com um sistema elaborado, juntando sensores, computação e algoritmos bem avançados, a gente consegue ativar os músculos de forma coordenada e produzir uma pedalada”, explicou Roberto Baptista, professor e coordenador do grupo, em comunicado divulgado pela UnB.

Estevão e a equipe EMA já haviam participado da Cybathlon há quatro anos, na Suíça. Devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), o evento deste ano foi adaptado. Ao invés de disputas presenciais em uma pista de ciclismo, os participantes competiram de forma online. Os brasileiros realizaram a prova “Corrida de Bicicleta por Estimulação Elétrica Funcional” no espaço de treinamento da Capital do Remo, em Brasília, alcançando o sexto lugar – duas posições a frente da participação anterior.

“O fato do evento ter sido remoto foi um grande desafio, mas ficamos à frente de centros de pesquisas renomados, como a Universidade de Lyon, na França, que é referência na área de reabilitação; e da Politécnica de Milão, na Itália, que é referência em todas as engenharias. O principal objetivo era participar e mostrar o nosso domínio pela tecnologia”, disse Baptista, em  nota divulgada pela organização do Cybathlon.

A evolução do paradesporto tem relação direta com a qualidade de vida de pessoas com deficiência. O aprimoramento de próteses para corrida, por exemplo, que deem mais firmeza e performance às passada dos atletas, sai do âmbito esportivo e também pode impactar positivamente na rotina de quem depende delas para o dia a dia. Não é diferente com a tecnologia desenvolvida na UnB. Ela permite que paraplégicos exercitem o músculo paralisado, melhorando a circulação sanguínea e não o atrofie – além, claro, da sensação de liberdade.

“É um resgate da autoestima ver que a minha perna não perde músculos como geralmente acontece com outros cadeirantes”, concluiu Estevão, em depoimento à UnB.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

Fonte: Lincoln Chaves – Repórter da TV Brasil e Rádio Nacional – São Paulo
Crédito de imagem: © EMA-UnB/Divulgação