Em São Miguel das Missões (RS), a fachada do que já foi uma igreja se mantém imponente no meio de uma área verde. Cerca de 300 anos atrás, ela era o ponto principal de um povoado fundado por padres jesuítas e índios guarani. Hoje, as ruínas fazem parte do sítio histórico São Miguel Arcanjo, o único local do sul do país considerado Patrimônio Mundial pela Unesco.
O Descubra o Brasil vai apresentar nos próximos meses destinos que já estão no radar dos viajantes que buscam roteiros diferentes, mas que merecem ser mais conhecidos.
Localizada no noroeste do Rio Grande do Sul, a cidade está mais próxima da fronteira com a Argentina do que da capital gaúcha. São cerca de 500 km de distância de Porto Alegre, em uma viagem que dura quase sete horas, se percorrida de carro.
A principal atração da cidade é o sítio histórico, onde, nos séculos 17 e 18 existiu uma Redução – nome dado pelos jesuítas aos povoados fundados por eles para catequizar indígenas. Como a região, na época, era território espanhol, o lugar foi originalmente batizado de “Misión de San Miguel Arcángel” (em português, “Missão de São Miguel Arcanjo”).
Missão tem show de luz e som — Foto: Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões/Divulgação
Transformado em atração cultural, o local também é Patrimônio Cultural do Mercosul. Além de circular pelo interior da antiga igreja, o turista é apresentado às outras estruturas presentes no povoado: uma sala de aula, onde os jesuítas ensinavam profissões aos índios, um relógio de sol construído em pedra, e o cemitério da época, onde mulheres eram enterradas de um lado e homens, do outro.
Marca registrada dos jesuítas em suas vilas, a cruz missioneira, com seus quatro braços, também chama a atenção no sítio histórico.
Nas ruínas, o visitante pode conhecer de perto a história de como o estado do Rio Grande do Sul nasceu.
Guerra entre índios e europeus deu origem ao RS
Nos séculos 17 e 18, os jesuítas criaram 30 vilas onde índios guarani eram catequizados na América espanhola, em áreas que hoje pertencem ao Brasil, Argentina e Paraguai. A missão jesuíta de São Miguel foi fundada ali para fugir dos bandeirantes do Brasil, que queriam escravizar indígenas.
Fonte antiga é outra atração de São Miguel — Foto: Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões/Divulgação
Mas, em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri, Portugal e Espanha decidiram que aquele pedaço de terra era território português e, por isso, este povoado jesuíta e outros seis deveriam ser transferidos para o outro lado do rio Uruguai. Os mais de 26 mil índios guarani que ocupavam a região há muito tempo, no entanto, se recusaram a abandonar suas terras.
Assim teve início a Guerra Guaranítica ou Guerra dos Sete Povos. Sepé Tiaraju, líder dos índios no conflito, é reconhecido como “herói guarani missioneiro rio-grandense” e tem o nome no Livro dos Heróis da Pátria desde 2009. Uma frase atribuída a ele, inclusive, dá as boas-vindas a quem chega a São Miguel das Missões: “Essa terra tem dono”. A guerra acabou em 1756 com mais de 1.500 índios mortos, incluindo Tiaraju.
Museu das Missões, em São Miguel — Foto: Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões/Divulgação
Espetáculo de som e luz
Diariamente, turistas podem visitar o sítio histórico acompanhados de guias ou ainda usando audioguias que contam a história do lugar em sete idiomas.
Ainda dentro do sítio histórico, o chamado Museu das Missões reúne a maior coleção pública de arte sacra missioneira, com imagens de até 2m de altura.
Na varanda do museu você também consegue ver de perto o antigo e pesado sino de cobre que badalava na torre da igreja de São Miguel.
Pórtico da cidade tem inscrição guarani — Foto: Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões/Divulgação
Uma atração imperdível acontece também nas ruínas, mas à noitinha. O lugar, sob o luar, se transforma em palco para o espetáculo Som e Luz. Com as vozes de atores renomados, como Fernanda Montenegro e Lima Duarte, a exibição de quase 1 hora de duração conta a história de jesuítas e guaranis durante as Missões.
Por conta da pandemia, foram adotados protocolos de distanciamento social e o sítio histórico está funcionando com limite de visitantes diários e horários reduzidos. Os agendamentos devem ser feitos na Secretaria de Turismo, pelos telefones (55) 3381-1299 e (55) 3381-1294.
Veja a seguir outros destaques de São Miguel das Missões:
- Um dos cartões postais da cidade é o Pórtico de São Miguel das Missões. Ela dá as boas vindas ao turista na estrada RS-536 e faz homenagem ao povo guarani e aos jesuítas. Além de esculturas, destaca-se uma frase escrita em guarani: “Co Yvy Oguereco Yara”, que significa “esta terra tem dono” e teria sido dita pelo líder indígena Sepé Tiaraju no conflito com portugueses e espanhóis.
- A cerca de 1 km das ruínas, os visitantes podem conhecer de perto a Fonte Missioneira. A bica de água com mais de 300 anos era o lugar onde os índios buscavam água no período das missões jesuítas.
- Quem visita a cidade no mês de abril consegue acompanhar o Festival Internacional de Balonismo, que dura cinco dias. Além dos voos de balão, há shows, apresentações culturais e outras atrações, incluindo um evento de cerveja artesanal.
- A 30 km do município, a aldeia indígena Tekoa Koenjú recebe visitantes mediante agendamento. É possível conhecer um pouco das tradições e modo de viver dos índios guaranis, além do artesanato local.
- Outra atração da cidade são os benzedores locais. Mistura das influências indígenas e cristãs, eles abrem a casa para receber e benzer turistas.
- Vale visitar também o Museu do Colono, também chamado de Borraio Minhas Origens. Localizado no distrito de Mato Grande e criado pela família Guasso, de origem italiana, reúne utensílios que marcaram gerações, em um ambiente ligado ao trabalho do campo e ao convívio com a natureza.
Museu do Colono, em São Miguel das Missões — Foto: Secretaria de Turismo de São Miguel das Missões/Divulgação
SERVIÇO
A cerca de 500 km de Porto Alegre, para chegar a São Miguel das Missões você pode alugar um carro e fazer uma viagem de sete horas. De Porto Alegre há ônibus que levam até Santo Ângelo. De lá, ônibus e serviços de transporte, como transfers de hotéis, fazem os 60 km finais até São Miguel das Missões.
A cidade tem 3 opções de hotéis e pousadas, com total de 330 leitos, e 8 restaurantes e lanchonetes.
O sinal de celular das principais operadoras de celular funciona bem na região.
A maioria dos estabelecimentos locais aceita cartões como meio de pagamento, mas vale levar dinheiro em espécie. A cidade possui agências bancárias do Banco do Brasil, Bradesco, Banrisul e Banco Sicredi, além de uma lotérica.
Por G1.com.br