Um novo pico da Covid-19 se aproxima

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O governo do Estado de São Paulo divulgou dados nesta segunda-feira, 16, sobre o aumento em internações por covid-19 em cidades paulistas. Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, o epidemiologista Eliseu Waldman pondera que ainda é cedo para constatar se o novo pico de covid-19 está caracterizado. “Provavelmente, esse aumento se deu por uma abertura muito rápida, sem que a população obedeça os protocolos estabelecidos, como uso de máscara ou lavar as mãos. Hoje, você vê shoppings e restaurantes, que são ambientes fechados, cheios”, afirma. “Precisamos acompanhar com cuidado e esperar uns 14 dias para ver qual curva se mantém e se ela sugere um aumento exponencial.”

Na hipótese de segunda onda de covid-19, pesquisadores avaliam que há circunstâncias mais e menos favoráveis no País em relação ao início da pandemia em fevereiro. Por um lado, existe maior disponibilidade de equipamentos nas unidades de saúde, a exemplo de respiradores que foram adquiridos por municípios e Estados, e do conhecimento médico sobre a doença. Por outro, hospitais teriam de lidar com demandas simultâneas de procedimentos que foram suspensos por causa do coronavírus e dificilmente poderiam ser adiados de novo.

“Os serviços, hospitais e equipes de UTI estão melhor preparados e não teríamos muito problema, por exemplo, com EPIs (equipamentos de proteção individual)”, afirma Waldman. “Mas tenho dúvidas se teríamos a mesma capacidade de aumentar o número de leitos para covid neste momento. Na pandemia, procedimentos médicos e cirúrgicos ficaram represados e estão sendo realizados agora. Há uma série de quadros graves, como pacientes de neoplasia ou diabetes descompensada, que não podem ser postergados indefinidamente.”

O médico sanitarista Walter Cintra Ferreira, que é professor de gestão em saúde da FGV-SP, também analisa que há maior conhecimento técnico sobre tratamento do coronavírus. “As equipes de saúde estão atendendo melhor, tanto que a mortalidade está caindo”, diz. “Agora, se houver uma segunda onda é um fato muito crítico, porque a gente nem sequer conseguiu sair da primeira.”

“A questão é se vai haver recurso disponível nas redes pública e privada”, diz o sanitarista. “Hospitais particulares, por exemplo, tiveram queda de receita muito grande por causa da suspensão das cirurgias eletivas. Não adianta só ter conhecimento.”

Tanto Waldman quanto Ferreira afirmam que impedir uma nova guinada da covid-19 passa por estratégias que não foram implementadas no início da pandemia. “Se atuar bem na testagem e rastreamento de contatos, pode evitar que o crescimento seja exponencial”, afirma Waldman. Segundo explicam, isolar os casos ativos ajuda a diminuir a transmissão, o que consequentemente reduz o número de pessoas infectadas e de quadros graves da doença que precisam de internação.

Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Leonardo Weissmann concorda que os tratamentos médicos evoluíram, mas prevê dificuldades para retomar a estrutura do primeiro semestre. “A equipe multiprofissional está melhor preparada hoje do que no início da pandemia. Os profissionais estão aprendendo a lidar com as manifestações do vírus durante o enfrentamento da doença”, diz. “É necessário avaliar também as condições estruturais e financeiras. Os profissionais estão exaustos, desgastados. Muitos ficaram doentes.”

Ele avalia, no entanto, que não seria possível falar em “segunda onda”, mesmo com aumento considerável de casos, porque a “pandemia nunca acabou no País”. “O planejamento de flexibilizações deve ser revisto com urgência. A população deve se conscientizar sobre a gravidade do problema, evitando aglomerações, usando máscara sempre e higienizando frequentemente as mãos”, diz Weissmann.