Em sua quarta final consecutiva de Campeonato Brasileiro Feminino A-1, o Corinthians se consolida, a cada temporada, como uma potência do futebol feminino nacional. Em 2020, o clube paulista não baixou o sarrafo, pelo contrário. Além de ser dono do melhor ataque e defesa da competição, o Timão surpreendeu na maneira de atuar. Deste modo, às vésperas do jogo decisivo da final, o site da CBF conversou com o especialista Felipe Rolim, que destrinchou o esquema tático e analisou as cartas na manga do Alvinegro.
Comentarista do perfil oficial do Brasileiro A-1 no Twitter e analista de desempenho das categorias de base do Nova Iguaçu, Felipe destrinchou a fórmula de jogo com e sem bola do Timão. Além disso, o especialista destacou os trunfos que o clube paulista detém, como a continuidade do técnico Arthur Elias e a saída de bola com o pé da goleira Lelê, que atua como uma ‘jogadora de linha a mais’.
Esquema Tático
Em 2020, o Corinthians passou a adotar o esquema 4-1-4-1 como sua principal fórmula de jogo. De acordo com Rolim, esse ajuste foi realizado para que Andressinha, uma das principais contratações da temporada, se adaptasse ao sistema de forma mais rápida. O time base do Timão, apesar das intensas trocas, tem as 11 iniciais: Lelê, Katiuscia, Poliana, Erika, Yasmim, Andressinha, Gabi Zanotti, Tamires, Crivelari, Adriana e Grazi.
“O módulo de jogo do Corinthians, a plataforma que ele inicia as partidas é o 4-1-4-1. Foi o melhor esquema que o Arthur Elias conseguiu encaixar principalmente para usar a Andressinha. Óbvio que tem todo um coletivo, mas a grande diferença do time de 2018, 2019 para cá, foi ele conseguir juntar na faixa central do campo: Andressinha, Gabi Zanotti e agora com mais frequência a Tamires. Então para encaixar a Andressinha, que era uma jogadora que tinha uma deficiência na marcação, ela joga protegida entre as linhas de defesa e meio campo. Com isso, ele potencializa demais a bola no pé da Andressinha”, comentou Felipe.
Referência na equipe, Andressinha dita o ritmo do meio de campo do Timão
Créditos: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Pressão Sem a Bola
Arthur Elias treina seus times visando a valorização da posse. Sendo assim, quando o Timão está sem a bola, a prática adotada à exaustão é a pressão para recuperá-la o mais rápido possível. De acordo com a análise de Felipe, o Corinthians ainda usa uma tática indutiva para surpreender seus rivais com o ‘abafa’ inicial quando a equipe adversária sai jogando em seu campo de defesa.
“O Corinthians sem bola é um Corinthians de indução, que sobe no seu 4-1-4-1, com sua jogadora de frente, que pode ser Adriana ou Crivelari, para fazer a primeira indução. Quando o time adversário sai curto, e é algo que o Corinthians quer. Corinthians não quer bola longa na sua defesa, ele prefere que o rival saia curto para ele pressionar. Então ele coloca sua jogadora de frente fora da área adversária, mas sem preencher todos espaços. Se o time adversário sair pela direita, a centroavante do Corinthians corre entre a goleira e a zagueira que recebeu para não deixar a bola voltar para a goleira, para não ter esse chute para frente. E a partir daí, sobe o meio campo inteiro para fazer a pressão muito forte e rápida na portadora da bola e em quem vai receber o primeiro passe”, explicou Rolim.
Goleira líbero
Debaixo das traves, Lelê é unanimidade no gol do Corinthians. Mas a arqueira do Timão e da Seleção Brasileira não se atém somente a defender no Campeonato Brasileiro Feminino A-1. Com uma destreza acima da média com a bola nos pés para sua função, a atleta funciona como uma espécie de líbero e inicia as tramas ofensivas do Alvinegro próximo do meio campo, em conjunto com a linha defensiva. Apesar dos riscos, com ‘uma jogadora de linha a mais’, Arthur consegue furar os bloqueios de seus rivais com mais facilidade.
“Primeiro, a Lelê tem muita qualidade com a bola no pé. Segundo que o jogo do Corinthians com bola e quando se organiza de trás, é um jogo muito apoiado. Um jogo de uma saída segura que visa sempre ter mais jogadoras do Corinthians do que da adversária no setor, para fazer essa bola chegar com qualidade na Zanotti, na Tamires. Para que as jogadoras de frente se preocupem em arrastar a zaga rival, em abrir espaço e não em vir no meio buscar bola. Então com isso a Lelê sobe, libera a Yasmim para saltar uma linha e jogar como meio-campista, sem participar dessa saída de bola. Tem qualidade para isso e tem muito a ver com o estilo do Timão” destacou, antes de falar sobre os riscos que essa prática pode gerar.
A saída com os pés de Lelê é um dos trunfos do Alvinegro para impor uma superioridade numérica sobre suas adversárias
Créditos: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
“O Corinthians não joga com chutão, e sim com jogo apoiado. Então ter mais uma jogadora em campo para gerar superioridade, ainda mais sendo a goleira, é bastante útil. Lelê está muito bem nessa função, de vez em quando alguém vai tentar um gol por cobertura, já aconteceu, inclusive. Mas futebol é risco e escolha. Se o time do Corinthians jogasse com chutão, ficasse pouco tempo com a bola, poderia tomar gol no final do jogo por estar cansado de correr atrás do adversário, por exemplo. Então ao mesmo tempo que é um risco, é bacana de ver porque o Corinthians é um time que corre risco para ser mais ofensivo, é assim que o Arthur gosta de jogar”, completou.
Continuidade no Comando
O sucesso do Corinthians não é explicado somente dentro de campo. Fora dele, o Timão conta com o comando de Arthur Elias. No comando da equipe desde 2016, o treinador, mais do que habituado ao ambiente, consegue impor sua filosofia de jogo ao longo das temporadas, independentemente do elenco que tem em mãos.
“O dedo do Arthur Elias é evidente. Mudam as jogadoras, as soluções que ele tem que encontrar em campo, muda o módulo tático de 2016 para cá, mas não muda a convicção dele de controlar o jogo, de ganhar o meio de campo e de querer ser ofensivo sem ser conservador depois de fazer o 1º e 2º gols. A gente vê o Corinthians indo para cima sem deixar a intensidade cair durante os 90 minutos”, exaltou Rolim, antes de explicar a postura do treinador à beira do gramado.
No comando do Corinthians desde 2016, Arthur Elias treinou diversas formações ao longo dos anos, mas sem abrir mão de seu estilo ofensivo e de posse de bola
Créditos: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
“É impressionante como o Arthur ficar ali na beira do campo e não deixa o time parar de jogar, o time não descansa nem com nem sem a bola. Aí a gente entende porque a Lele tá lá em cima, porque o time faz pressão alta lá em cima. E quando tem a bola, troca passes procurando o gol sempre, com o maior número de jogadoras possível”, completou.
Após o empate em 0 a 0 na partida de ida, em Florianópolis, a decisão do Campeonato Brasileiro Feminino A-1 segue em aberto. Neste domingo (6), é a vez do Corinthians receber o Avaí/Kindermann em seus domínios. O confronto final será disputado na Neo Química Arena, em São Paulo, às 20h (horário de Brasília). Para também ficar por dentro do esquema de jogo da equipe catarinense, basta clicar aqui.
Jogo de ida da final do Brasileirão Feminino A-1 2020 – Avaí-Kindermann x Corinthians
Créditos: Mariana Sá/CBF
Fonte: CBF
Crédito de imagem: Créditos: Ronaldo Oliveira / ASCOM Floresta EC