O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Lucchesi, foi reeleito por unanimidade para o cargo e será, depois do imortal Austregésilo de Athayde, o acadêmico que conquistou mais eleições consecutivas para a presidência da instituição. Lucchesi vai iniciar seu quarto mandato em 2021.
Antes de assumir, pela primeira vez, em 2018, a academia considerou importante estender a presidência de dois para quatro anos. “Eu sou o primeiro presidente dessa nova fase que a academia decidiu. Só que, a cada ano, é como se houvesse uma espécie de consulta para verificar se é possível continuar com aquela presidência ou não”, disse Marco Lucchesi à Agência Brasil.
Participam também da chapa eleita o secretário-geral, Merval Pereira; o primeiro-secretário, Antônio Torres; o segundo-secretário, Edmar Bacha; e o tesoureiro, José Murilo de Carvalho. A cerimônia de posse está marcada para a próxima sexta-feira (11), às 17h, de forma digital, devido às medidas de isolamento social impostas pela pandemia do novo coronavírus.
Resistência
O presidente da ABL avaliou que a prorrogação do mandato de dois anos para quatro anos permite rever todo o processo em curso e inaugurar novas formas de atuação. Lucchesi acredita que uma das prioridades para o próximo ano é contribuir para que as associações culturais resistam bravamente à incerteza econômica que se coloca atualmente, não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, com a pandemia.
Lucchesi pretende dar continuidade à refundação administrativa da academia. “Talvez tenha sido a tarefa mais difícil e importante, sem a qual as vicissitudes hoje teriam sido muito maiores e muito mais intensas”. O trabalho deverá ser aperfeiçoado no ano que vem.
A ABL anunciou, recentemente, o relançamento do Prêmio Machado de Assis, graças a patrocínio da distribuidora de energia Light. Marco Lucchesi pretende, em sua última gestão na presidência da ABL, aprofundar o setor de lexicologia e lexicografia e preparar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Terá continuidade também a captação de palavras novas que ficam flutuando no espectro do noticiário, para inserção no site da instituição. Outro trabalho que será ampliado, e que a pandemia tornou urgente, é a digitalização dos arquivos e bibliotecas da casa.
Esperança
Marco Lucchesi destacou que as atividades presenciais da ABL serão retornadas “só e quando for possível”. Ele disse que quer voltar a promover encontros presenciais e visitas a aldeias indígenas, periferias e terras quilombolas, porque acredita que não basta incluir um livro na cesta básica. “Tudo isso nós fizemos com bastante intensidade. Mas não é o fato de distribuir livros e de auxiliar no processo dessa malha de cultura; mas é presentificar-se; é retomar a ida aos cárceres e prisões, às unidades sócio-educativas, porque eu tenho uma grande esperança, que é materializável e muito bela”.
Lucchesi narrou que em visita, antes da pandemia, ao Centro Dom Bosco, antigo Instituto Padre Severino, situado na Ilha do Governador, zona norte do Rio, onde ficam os menores em conflito com a lei, ele viu uma grande cidade feita de Lego por adolescentes infratores.
“Essa cidade tem acessibilidade, vigilância, cuidado com o meio ambiente. Tudo foi feito por adolescentes de distintas facções. No entanto, apesar das diferenças das facções, que não são pequenas, eles conseguiram, juntos, construir essa cidade para o futuro, essa cidade para a qual eles jamais tiveram acesso porque foram sempre, praticamente, colocados à revelia da modernidade, do que a modernidade tem de melhor”.
Edição: Denise Griesinger
Fonte: Alana Gandra – Repórter do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Crédito de imagem: © Michel Jesus/Câmara dos Deputados