O Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Costa (Inca) estima que sejam registrados neste ano 16.590 novos casos de câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical. Esse tipo de câncer é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV) e, à exceção do câncer de pele não melanoma, é o terceiro mais frequente nas mulheres, depois dos cânceres de mama e colorretal.
O câncer do colo do útero é a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, depois do de mama, do de pulmão e do colorretal. Em 2018, esse tipo de câncer causou 6.526 mortes, segundo dados do Atlas de Mortalidade por Câncer.
Em entrevista à Agência Brasil, o chefe do Hospital do Câncer II, unidade do Inca que trata de cânceres ginecológicos, Daniel Fernandes, destacou que o câncer do colo do útero não deve ser confundido com o câncer do corpo do útero, ou endométrio. “São patologias diferentes.” Para este ano, a estimativa é de 6.540 novos casos de câncer do endométrio, oitava causa de mortes de mulheres no Brasil.
De acordo com Fernandes, os cânceres do colo do útero e do corpo do útero têm correlação direta com o desenvolvimento do país. Em países menos desenvolvidos, como Índia e Brasil, o câncer de colo do útero é mais incidente, enquanto o câncer do útero (endométrio) é mais frequente em nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos e países da União Europeia. A dificuldade no rastreamento e nadetecção de lesões pré-malignas faz a diferença entre os dois tipos de câncer. “Dentro do próprio Brasil, tem situações diferentes”, destacou o médico.
Fatores de risco
O principal fator de risco do câncer do colo do útero é infecção pelo HPV, que pode ser contraída em relações sexuais sem proteção. “Por isso, a campanha de vacinação [contra o HPV] é tão importante”, disse Fernandes, ao destacar que Brasil já tem a vacina contra o HPV, embora ainda não seja grande adesão à vacina – o Ministério da Saúde implementou a tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos no calendário vacinal em 2014.
A partir de 2017, o ministério estendeu a recomendação para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros tipos causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.
O ideal é que as crianças comecem a ser vacinadas antes do início da atividade sexual, ou seja, antes do contato com o HPV, que vão ter ao longo da vida, afirmou o especialista. “O resultado vai ser visto no médio e longo prazos, mas é preciso ter a adesão da população, além de políticas públicas que estimulem as pessoas a se vacinar”, disse Fernandes, que salientou a necessidade de pais e responsáveis se conscientizarem da importância de vacinar os filhos a partir dos 9 anos de idade.
Segundo o médico do Inca, o homem pode ter infecção por HPV sem apresentar lesão no pênis, e isso pode fazer com que ele transmita para sua parceira, sem saber. Fernandes alertou que o HPV é fator de risco para o câncer de pênis no homem.
No câncer do endométrio, os fatores de risco são obesidade, hipertensão e diabetes, não havendo relação com a parte sexual, diferentemente do câncer de colo do útero. No Brasil, o câncer do endométrio geralmente acomete mulheres na fase pós-menopausa. “No colo uterino, são mulheres mais jovens”, explicou Fernandes.
Detecção
O exame preventivo do câncer do colo do útero, chamado Papanicolau, é a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico precoce da doença. No câncer do endométrio, é por meio da histeroscopia com biópsia, procedimento cirúrgico feito por dentro da vagina e do canal do colo uterino, que permite visualizar a cavidade uterina e identificar eventuais doenças ali existentes.
O principal sintoma do câncer do endométrio na mulher que já parou de menstruar é voltar a ter sangramento. Nesse caso, ela deve procurar um ginecologista para fazer o ultrassom transvaginal, que vai mostrar o endométrio aumentado. Aí, ela parte para a histeroscopia com biópsia, que vai dar o resultado, identificando se é ou não câncer do corpo do útero.
No câncer de colo uterino, o Papanicolau detecta lesão precoce. Daniel Fernandes observou que, nesse caso, o câncer pode ser detectado também no exame físico. Ele destacou casos de mulheres que pensam que estão menstruando há mais de um mês, quando o que acontece é que estão com lesão macroscópica que sangra.
O sangramento continuado é um dos sintomas do câncer do colo de útero. “O ideal é detectar na fase precoce, porque o tratamento é menos agressivo”, disse o médico. Segundo ele, nas fases iniciais, esse tipo de câncer não apresenta sintomas. O médico alertou, porém, que sangramentos ou corrimentos podem ser indício de tumor.
Tratamento
O tratamento para os dois tipos de câncer vai depender da fase em que o tumor se encontra. Para o câncer do endométrio, o tratamento, na maioria das vezes, é cirúrgico.
No câncer do colo uterino, vai depender da lesão. Se estiver em fase muito inicial, podem ser feitas cirurgias conservadoras, que retiram apenas parte do colo do útero e conseguem preservar a fertilidade feminina, uma vez que a doença acomete mais mulheres jovens.
Em fase ainda precoce, mas mais avançada, faz-se a retirada do tecido em volta do útero e dos gânglios na pelve e consegue-se tratar. Fernandes lamentou que, no Brasil, infelizmente, são detectados, na maioria das vezes, tumores mais avançados, cujo tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia.
Recomendações
Janeiro é considerado o mês de conscientização sobre o câncer do colo de útero, e o médico Daniel Fernandes recomenda que, para evitar o câncer do endométrio, mulheres na fase pós-menopausa façam exercícios para combater a obesidade. “Combatendo a obesidade, diminuem as chances de ser diabética e hipertensa, que são também fatores de risco. E, ao menor sinal de sangramento, a mulher deve procurar o ginecologista para poder investigar.”
Fernandes lembrou que, na fase bem inicial, em que o tratamento tem grande chance de cura, o câncer do colo uterino é assintomático. Por isso, a mulher precisa fazer o preventivo.
O Papanicolau detecta algumas alterações que são pré-malignas e que, se tratadas, não vão evoluir para a malignidade. “Só que, para isso, tem que ser feito o Papanicolau”, reiterou. Pelas diretrizes brasileiras, mulheres jovens devem fazer esse exame a cada dois anos. O Papanicolau pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados. Sua realização periódica permite reduzir a ocorrência e a mortalidade pela doença.
Edição: Nádia Franco
Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Crédito de imagem: © Tânia Rêgo/Agência Brasil