São Paulo – Em reinauguração da Torre do Relógio, marco da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) nesta terça-feira (15/12), o presidente Jair Bolsonaro reivindicou o órgão na disputa política que tem com João Doria (PSDB).
Em 2019, governos federal e estadual tinham costurado acordo em que a Ceagesp seria privatizada e o terreno, de posse do governo federal, na zona oeste de São Paulo, seria cedido para o governo de São Paulo. A ambição de João Doria era de instalar no lugar um centro tecnológico que se tornaria o “vale do silício brasileiro”.
“Enquanto eu for presidente da República, essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso daqui, pra entregar para os seus amigos”, disse Bolsonaro em discurso inflamado. O presidente e Doria têm protagonizado uma guerra política em relação ao enfrentamento da pandemia de coronavírus. Ambos estão com a mira apontada para as eleições presidenciais de 2022.
“Ninho de rato”
Na Ceagesp, Bolsonaro foi recebido por Ricardo Mello Araújo, coronel da reserva nomeado por Bolsonaro no fim de outubro de 2020 para comandar a central, e por representantes dos vários sindicatos que atuam no local.
“Nós estamos desratizando o Brasil e aqui era um ninho de ratos. Aqui eu levei meses para trocar [o presidente da Ceagesp]. Inclusive extorquiam os mais humildes, quem empurrava carrinho aqui dentro. Máfia de segurança, máfia de lixo. É inadmissível que um entreposto como este tivesse na mão de políticos que se usa disso. Agora, com o trabalho do coronel Mello Araújo, nós estamos transformando isso em um ambiente de negócio sadio que, na ponta linha, diminui o preço da mercadoria”, declarou Bolsonaro.
O presidente se refere a denuncias feitas pelo Sincaesp (Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo) e pela Apesp (Associação dos Permissionários do Entreposto de São Paulo) em 2019. Na ocasião as duas entidades foram até a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reclamar de suposto superfaturamento de contratos durante a gestão de Johnni Hunter Nogueira, ligado ao PSDB, além de demais cargos de direção que ficavam com indicados do PP.
Segundo Raniel Eleutério, que trabalha na Ceagesp com transporte de verduras, a administração do coronel Ricardo Mello Araújo é exemplar. “A gente ouve falar de muita irregularidade. Desde que o cara chegou a polícia está mais presente, pegaram muito traficante, gente que jogava lixo aqui, tinha caso até de prostituição. Tudo isso tá acabando.”
O medo da privatização levou os vários sindicatos a articular lobby para retirar a Ceagesp da lista de Paulo Guedes de empresas estatais a serem estatizadas. Segundo membros dos sindicatos ouvido pelo Metrópoles, em outubro e novembro, o então candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) fez peregrinação em feiras e no próprio Ceagesp ouvindo essa demanda.
A mudança de postura do governo federal aliviou as permissionárias e trabalhadores do local. Além da Torre do Relógio, Jair Bolsonaro também inaugurou um monumento artístico, encomendado pelos permissionários do Ceagesp e que homenageia o presidente.
Aglomeração
A visita do presidente Jair Bolsonaro foi marcada por desrespeito a todos os protocolos de segurança contra a Covid-19. Não houve qualquer intervenção de forças policiais bastante presentes no local.
Presidente da República, assim como seguranças, assessores, presidente da Ceagesp e permissionários que acompanharam a comitiva presidencial, não usaram máscaras, dispensaram álcool gel, trocaram abraços e brindaram com a “famosa vitamina da Ceagesp”. “Tem aditivo? É a cor do Cialis”, declarou Bolsonaro em referência a medicamento que combate disfunção erétil. No palanque onde o presidente discursou, apenas duas crianças usavam máscara.
Por Metrópoles