Poucos são os jogadores que conseguem construir uma identidade com um clube e o respeito eterno de uma torcida. Na Chapecoense, Alan Ruschel alcançou o patamar de ídolo e, nesta semana, ampliou a lista de feitos pelo Verdão do Oeste ao garantir a vaga no Brasileirão Assaí em 2021. Recuperando-se de uma lesão, o gaúcho foi titular em 40 partidas na temporada e ergueu a taça do campeonato estadual. Depois de conquistar o acesso, o objetivo na reta final do Brasileirão Série B é levar o título inédito para Chapecó.
Sobrevivente do acidente aéreo de 2016 e presente na campanha de rebaixamento da Chapecoense em 2019, o lateral-esquerdo retornou para a temporada 2020 e assumiu uma posição de liderança dentro da equipe. Em bate-papo para o site da CBF, o capitão do time de Chapecó comemorou o acesso, destacou a boa relação com os funcionários do clube e fez projeções para a carreira.
Mais uma vez você faz parte de um capítulo importante da história da Chapecoense. Em um ano difícil para o clube, qual é a sensação de participar de mais uma conquista do clube?
Está sendo um ano fantástico para mim. Depois de um 2019 turbulento que o clube passou, de novo fazer parte de uma reestruturação e de uma reconstrução de um clube que foi, literalmente, deixado aos pedaços. A gente conseguiu que um time desacreditado, no começo do ano, fosse campeão catarinense e, logo em seguida, dentro de campo, fazer um ano fantástico e conseguir um acesso. O objetivo de todos era brigar pela permanência do clube na Série B e me deixa feliz e orgulhoso de ver o crescimento desse grupo e me sinto responsável também, junto com os funcionários, comissão técnica e grupo de atletas em entrar para a história da Chapecoense.
A Chapecoense viveu um drama com o rebaixamento de 2019. Mas esse ano o clube manteve uma regularidade que o deixou na parte do tempo no G4, sem perigo. Como você explica a mudança de comportamento da equipe?
O grupo entendeu a identidade e a essência da Chapecoense e se engajou em um só objetivo. Deixamos de lado as inúmeras dificuldades que apareceram, principalmente a financeira, e traçamos uma meta maior que era entrar para a história do clube devolvendo a Chape para a Série A. Aqui dentro não existiu vaidade, não existiu nenhum tipo de situação adversa dentro do vestiário, que foi muito forte também e fez com que fossemos felizes em nossos propósitos.
“O grupo entendeu a identidade e a essência da Chapecoense”
Dentro da atual campanha, você está exercendo um papel de liderança, não só por ser o capitão, mas também por toda a história que construiu com a Chapecoense. Como você reage ao fato de ser referência no elenco?
Eu tive uma conversa muito franca com o Paulo Magro (ex-presidente, falecido em dezembro), quando voltei para a Chape, e ele me passou a situação do clube. Ele disse que eu seria um líder do elenco, que contava comigo para a reestruturação e me comprometi junto com ele e com o Neto, que está no cargo de Superintendente de Futebol. No começo, a gente acabou derrapando um pouco porque começar do zero requer esforço e às vezes as coisas acabam não acontecendo. (Eu) me sinto responsável também porque aprendi a lidar com situações adversas, principalmente com o salário. Junto comigo tinham outros caras experientes como o João Ricardo, Anselmo Ramon, Anderson Leite e que também entenderam a essência do clube e foi fundamental para gravarmos o nosso nome aqui.
Capitão da Chapecoense, Alan Ruschel exerce papel de liderança no elenco.
Créditos: Liamara Polli/AGIF
Seu primeiro contrato com a Chapecoense foi em 2013. Na época, você imaginava que poderia se tornar ídolo do clube algum dia?
Sempre que você vai para um clube, busca fazer história e ela é feita com conquistas. Naquela época, eu queria usar a Chapecoense como “trampolim”, era o primeiro clube de Série B que eu estava jogando fora do meu estado, Rio Grande do Sul. Acabei fazendo um ótimo campeonato que rendeu minha contratação para o Internacional. Quando a gente chega, sempre pensa em ficar marcado com conquistas e assim o atleta se torna inesquecível dentro do clube: com títulos ou referências importantes. Não imaginava, mas hoje eu tenho tudo isso. Eu conquistei títulos e o respeito das pessoas que trabalham aqui através de uma história sofrida. Destruir é rápido, mas construir é difícil e eu o fiz com muito trabalho. É a única forma de nos fazer crescer, não tem outra maneira.
Como você definiria o ano de 2020 da Chapecoense?
Um ano impecável dentro de campo. Foi um ano de muita luta, entrega e responsabilidade. Vivemos um pouco de tudo aqui dentro e tivemos que ter discernimento para entender o que o clube precisava, a situação em que ele se encontrava para poder conseguir nossos objetivos.
Agora que garantiram o acesso, o foco está no título?
A gente pensava em degrau por degrau quando a gente estava em busca do acesso. Agora que já conseguimos e vemos que o sonho de conquistar o título está tão próximo, vamos em busca dele. Não escondemos mais de ninguém que o nosso sonho aqui dentro é erguer a taça. Vai ser muito difícil porque tem uma outra equipe brigando junto que é muito qualificada, o América-MG. Mas sabemos que se fizermos o que estamos fazendo durante o ano todo, temos totais condições de sermos campeões.
Alan Ruschel jogador do Chapecoense durante partida contra o Paraná Clube no estádio Durival de Britto pelo campeonato Brasileiro B 2020
Créditos: Robson Mafra/AGIF
Com a pandemia, as arquibancadas da Arena Condá ficaram vazias em um ano em que o apoio era essencial na campanha pelo acesso. Como foi manter o foco sem a interação direta dos torcedores?
No começo, a gente estava desacreditado até mesmo pela nossa torcida, mas depois, quando conseguiu engrenar nas competições, a gente sentiu a falta deles. Principalmente agora no final, em que conquistamos o título estadual e o acesso sentimos a ausência do torcedor na festa. Eles dão um ânimo a mais, trazem uma atmosfera diferente quando o estádio está lotado. Mas sabemos que, de longe, eles estão passando uma energia positiva, muitas coisas boas para que a gente coloque um sorriso no rosto deles. O que conforta é saber que a medida foi necessária para que o mundo melhorasse, a saúde é uma questão muito mais importante. Desejamos que a situação melhore logo para que eles retornem. Não só o torcedor da Chape, e sim que todas as torcidas possam ficar perto dos seus ídolos e times.
“Não escondemos de ninguém que nosso sonho é erguer a taça”
O Atlético Nacional da Colômbia parabenizou vocês pelo acesso mostrando que o carinho continua forte. Como você recebe esse apoio ao redor do mundo?
A gente fica feliz em saber que o clube é adorado por muitos outros clubes e outros países. A Chapecoense conquistou esse carinho depois de tudo que aconteceu e nós só temos que agradecer esse carinho que a gente recebe diariamente por todas as pessoas que acompanham o clube.
O que você espera, profissionalmente, de 2021?
Eu acredito que tenho muita lenha para queimar dentro de campo e provei isso durante este ano. A gente trabalha pelo reconhecimento profissional e pessoal. Eu queria voltar a jogar pela Série A e considero isso bem próximo, se eu ficar aqui na Chape, já está garantido. Ou se eu for para outro, desejo que seja um time de Série A.
Fonte: CBF
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