Coluna – Dois em um

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© ALE CABRAL/CPB

O ano que se iniciou na última sexta-feira (1º) promete ser tão ou mais desafiador que o anterior no paradesporto. Ainda sob impacto – sanitário e esportivo – da pandemia do novo coronavírus (covid-19), 2021 marca não só a realização da Paralimpíada de Tóquio (Japão), mas também o começo do ciclo paralímpico dos Jogos de Paris (França) em 2024. Significa dizer que, em uma mesma temporada, comitês e atletas terão de pensar, simultaneamente, na reta final de uma preparação e nos primeiros passos de um projeto de quatro anos.

A instabilidade da pandemia e os ainda poucos eventos agendados (ou remarcados) impactam diretamente na preparação, seja pela segurança de atletas e comissão técnica, seja no planejamento de intensidade nos treinos – para que o competidor atinja a melhor forma física e técnica nas competições mais importantes. Como o foco, hoje, está em Tóquio, Paris só entrará para valer na rotina, possivelmente, após setembro. Ou seja: de forma geral, novos projetos esportivos visando aos Jogos na capital francesa terão um ano a menos para serem colocados em prática.

Há outro detalhe: a Paralimpíada de Inverno de 2022, em Pequim (China), que será a prioridade do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) na sequência de Tóquio. O calendário de eventos voltados a 2024, portanto, possivelmente só tomará forma definitiva após março do ano que vem, após os Jogos na capital chinesa. É plausível concluir que o ciclo paralímpico parisiense, que começa antes mesmo do japonês chegar ao fim, exigirá resiliência de atletas, treinadores e comitês, uma vez que será mais curto e intenso que qualquer outro.

É possível inferir, também, que países e modalidades com maior consistência na formação – o que passa não só por uma boa geração de atletas, mas pela capacitação dos profissionais – saem na frente para 2024. No Brasil, por exemplo, esportes como natação, atletismo, futebol de 5 ou goalball (os dois últimos voltados a pessoas com deficiência visual) têm trabalhos de base e de renovação longevos, com a preparação de talentos visando os Jogos de Paris – e mesmo os de Los Angeles (Estados Unidos), em 2028 – iniciada há bem mais tempo.

Mundial de Atletismo de 2019 foi um treino para os paradesportistas se prepararem para Tóquio.
Mundial de Atletismo de 2019 foi um treino para os paradesportistas se prepararem para Tóquio.

Mundial de Atletismo de 2019, em Dubai, foi o último grande evento do paradesporto antes da Paralimpíada de Tóquio. – Daniel Zappe/EXEMPLUS/CPB

 

O evento em Paris terá os mesmos 22 esportes presentes em Tóquio – apesar de cotado, o futebol de 7 (paralisia cerebral) ficou fora mais uma vez. Em dezembro, o IPC anunciou uma revisão no planejamento dos Jogos na França, com redução de custos e compartilhamento de instalações. Seis modalidades tiveram os locais de disputa alterados, sendo que três (judô, taekwondo e tênis de mesa) serão realizadas na mesma estrutura destinada à versão olímpica do esporte. A Paralimpíada parisiense será entre 28 de agosto e 8 de setembro de 2024.

Dito isso, voltemos as atenções à Tóquio. Falar que a expectativa é grande não é exagero. No último dia 21, chegou ao fim o prazo aberto pelo Comitê Organizador dos Jogos para pedir reembolso do valor pago pelos ingressos, devido ao adiamento. O diário japonês Kyodo News informou que das 970 mil entradas da Paralimpíada vendidas por antecipação, 79% foram mantidas. O percentual se assemelha ao da Olimpíada (82%). Segundo o jornal, o Comitê entende que isso “mostra a confiança da maior parte das pessoas” na realização do evento.

Otimismo dos organizadores

O discurso otimista dos organizadores se dá em meio a mais um avanço da covid-19 no Japão. Na última quinta-feira (31), foram registrados 1,3 mil novos casos em Tóquio, o maior número desde que a pandemia começou, em março. O primeiro ministro japonês, Yoshihide Suga, disse nesta segunda-feira (4) que o governo analisa a possibilidade de decretar estado de emergência na capital já nos próximos dias. A liberação especial para facilitar a entrada de atletas do exterior no país teve de ser suspensa, com a descoberta de variantes do vírus.

Enquanto isso, os organizadores se esforçam para viabilizar os Jogos. No último dia 22, o Comitê anunciou que investirá US$ 900 milhões (R$ 4,7 bilhões na cotação atual) em medidas para que a disseminação do coronavírus seja controlado. Entre as diretrizes que serão adotadas está a limitação de acesso à Vila Paralímpica (entrada liberada entre cinco e sete dias antes das disputas e saída até, no máximo, dois dias após a participação). Mais de quatro mil atletas são esperados em Tóquio na Paralimpíada, entre 24 de agosto e 5 de setembro.

“Minha mensagem é para que todos se concentrem no que podemos realmente fazer, no que podemos alcançar e nos resultados viáveis ​​no que pode ser um ano muito difícil, mas incrível ao mesmo tempo, porque vamos conseguir”, declarou o presidente do IPC, Andrew Parsons, em vídeo divulgado no canal oficial da entidade no YouTube.

Confira a íntegra do vídeo abaixo.

Edição: Gustavo Faria

Fonte: Lincoln Chaves – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional – São Paulo
Crédito de imagem: © ALE CABRAL/CPB