O ano que se iniciou na última sexta-feira (1º) promete ser tão ou mais desafiador que o anterior no paradesporto. Ainda sob impacto – sanitário e esportivo – da pandemia do novo coronavírus (covid-19), 2021 marca não só a realização da Paralimpíada de Tóquio (Japão), mas também o começo do ciclo paralímpico dos Jogos de Paris (França) em 2024. Significa dizer que, em uma mesma temporada, comitês e atletas terão de pensar, simultaneamente, na reta final de uma preparação e nos primeiros passos de um projeto de quatro anos.
Let’s celebrate what this new year will bring – another edition of the Olympic and Paralympic Games, marking the starting line for the #Paris2024 Games.
In 2020 we felt its absence, but sport will bring us together again in 2021. pic.twitter.com/3a1wHwLgwK
— Paris 2024 (@Paris2024) January 4, 2021
A instabilidade da pandemia e os ainda poucos eventos agendados (ou remarcados) impactam diretamente na preparação, seja pela segurança de atletas e comissão técnica, seja no planejamento de intensidade nos treinos – para que o competidor atinja a melhor forma física e técnica nas competições mais importantes. Como o foco, hoje, está em Tóquio, Paris só entrará para valer na rotina, possivelmente, após setembro. Ou seja: de forma geral, novos projetos esportivos visando aos Jogos na capital francesa terão um ano a menos para serem colocados em prática.
Há outro detalhe: a Paralimpíada de Inverno de 2022, em Pequim (China), que será a prioridade do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) na sequência de Tóquio. O calendário de eventos voltados a 2024, portanto, possivelmente só tomará forma definitiva após março do ano que vem, após os Jogos na capital chinesa. É plausível concluir que o ciclo paralímpico parisiense, que começa antes mesmo do japonês chegar ao fim, exigirá resiliência de atletas, treinadores e comitês, uma vez que será mais curto e intenso que qualquer outro.
É possível inferir, também, que países e modalidades com maior consistência na formação – o que passa não só por uma boa geração de atletas, mas pela capacitação dos profissionais – saem na frente para 2024. No Brasil, por exemplo, esportes como natação, atletismo, futebol de 5 ou goalball (os dois últimos voltados a pessoas com deficiência visual) têm trabalhos de base e de renovação longevos, com a preparação de talentos visando os Jogos de Paris – e mesmo os de Los Angeles (Estados Unidos), em 2028 – iniciada há bem mais tempo.
O evento em Paris terá os mesmos 22 esportes presentes em Tóquio – apesar de cotado, o futebol de 7 (paralisia cerebral) ficou fora mais uma vez. Em dezembro, o IPC anunciou uma revisão no planejamento dos Jogos na França, com redução de custos e compartilhamento de instalações. Seis modalidades tiveram os locais de disputa alterados, sendo que três (judô, taekwondo e tênis de mesa) serão realizadas na mesma estrutura destinada à versão olímpica do esporte. A Paralimpíada parisiense será entre 28 de agosto e 8 de setembro de 2024.
Dito isso, voltemos as atenções à Tóquio. Falar que a expectativa é grande não é exagero. No último dia 21, chegou ao fim o prazo aberto pelo Comitê Organizador dos Jogos para pedir reembolso do valor pago pelos ingressos, devido ao adiamento. O diário japonês Kyodo News informou que das 970 mil entradas da Paralimpíada vendidas por antecipação, 79% foram mantidas. O percentual se assemelha ao da Olimpíada (82%). Segundo o jornal, o Comitê entende que isso “mostra a confiança da maior parte das pessoas” na realização do evento.
Otimismo dos organizadores
O discurso otimista dos organizadores se dá em meio a mais um avanço da covid-19 no Japão. Na última quinta-feira (31), foram registrados 1,3 mil novos casos em Tóquio, o maior número desde que a pandemia começou, em março. O primeiro ministro japonês, Yoshihide Suga, disse nesta segunda-feira (4) que o governo analisa a possibilidade de decretar estado de emergência na capital já nos próximos dias. A liberação especial para facilitar a entrada de atletas do exterior no país teve de ser suspensa, com a descoberta de variantes do vírus.
Enquanto isso, os organizadores se esforçam para viabilizar os Jogos. No último dia 22, o Comitê anunciou que investirá US$ 900 milhões (R$ 4,7 bilhões na cotação atual) em medidas para que a disseminação do coronavírus seja controlado. Entre as diretrizes que serão adotadas está a limitação de acesso à Vila Paralímpica (entrada liberada entre cinco e sete dias antes das disputas e saída até, no máximo, dois dias após a participação). Mais de quatro mil atletas são esperados em Tóquio na Paralimpíada, entre 24 de agosto e 5 de setembro.
“Minha mensagem é para que todos se concentrem no que podemos realmente fazer, no que podemos alcançar e nos resultados viáveis no que pode ser um ano muito difícil, mas incrível ao mesmo tempo, porque vamos conseguir”, declarou o presidente do IPC, Andrew Parsons, em vídeo divulgado no canal oficial da entidade no YouTube.
Confira a íntegra do vídeo abaixo.
Edição: Gustavo Faria
Fonte: Lincoln Chaves – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional – São Paulo
Crédito de imagem: © ALE CABRAL/CPB