A vacina contra a Covid-19, CoronaVac, fabricada pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, atingiu uma eficácia global de 50,38%. Até então, este dado não havia sido revelado, o que causou estranhamento de especialistas e pesquisadores que, num tom duvidoso, desconfiaram das informações de transparência vindas tanto do Butantan quanto do governo do Estado de São Paulo, principal responsável em fazer ‘dar certo’a aprovação.
Porém, na prática, esse valor significa que quem for imunizado tem 50,38% de chance de não ser infectado pelo novo coronavírus. O índice mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde- OMS e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária- Anvisa para aprovação é 50%.
CoronaVac – eficácia
Vale lembrar que, a taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado, ou seja, a comparação partiu de análises de voluntários que receberam a CoronaVac aos que receberam placebo – uma substância salina sem efeito no organismo.
-->Ao todo, o Instituto Butantan testou a vacina contra a Covid-19 em 9.242 voluntários. Destes, 4.653 receberam a vacina chinesa, e outros 4.599 receberam o placebo. Veja como foi feita a análise do teste da CoronaVac nos voluntários:
O grupo da vacina apresentou 85 infecções por Covid-19, correspondendo a 1,8% (85 infectados / 4.653 voluntários).
O grupo que tomou o placebo, manifestou 167 casos positivos, equivalendo a 3,6% (167 casos / 4.599 voluntários).
Portanto, ao confrontar os percentuais, chega-se ao patamar de 50,38%.
Eficácia Global da CoronaVac
Governador de SP, João Dória é o maior apoiador da CoronaVac no Brasil. (Foto: Governo de SP)Existem quatro tipos de níveis de infecção para analisar a eficácia global da vacina contra a Covid-19, Coronavac:
Muito leve – que não precisa de ajuda médica
Leve – que necessita de assistência médica
Moderada – que precisa de internação
Grave – quando é necessário usar a Unidade de Terapia Intensiva – UTI
Nesse recorte, a eficácia da CoronaVac sobe para um patamar de 77,96%.
Portanto, na somatória para a eficácia geral da vacina, o governador João Dória (PSDB) explorou este percentual, que equivale a 0,15% dos 7 casos registrados dos que tomaram a vacina contra Covid-19, Coronavac – 4.653 pessoas; confrontando com os 31 casos leves registrados no grupo do placebo. Estes correspondiam a um total de 0,70% dos 4.599 voluntários. Ou seja, comparando 0,15% com 0,70% nota-se o aumento de 78% de casos leves do grupo do placebo.
Casos moderados e graves
Dos testes em voluntários da Coronavac que apresentaram manifestações moderadas e graves, apenas 7 registraram internação em hospital ou UTI. Estes ream parte do grupo que tomou o placebo e não do grupo dos vacinados.
Nessa linha, a eficácia da vacina contra Covid-19, CoronaVac nos casos moderados e graves é de 100%.
Contudo, esse número de 100% não é estatisticamente significativo, conforme afirmou Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa do Instituto Butantan e responsável pelos testes. Segundo Palácios, para ter significância estatística, ‘é preciso ter um sinal claro de que os casos graves impedidos supostamente pela vacinação são decorrentes do efeito do imunizante, e não do acaso – esses casos não seriam graves de toda forma, sem a aplicação ou não da vacina’.
Estatisticamente, somente esses 7 casos não atribuem à vacina, ainda, a proteção em 100% dos casos graves de Covid-19.
Afinal, a Coronavac é segura?
Sim, ela é segura. De acordo com o Butantan, não foram registrados eventos adversos graves relacionados à vacinação. Já sobre as reações alérgicas, apenas 0,3% dos participantes reportaram alguma ocorrência, e sem distinção entre os grupos que receberam a vacina e o placebo. E com as reações anafiláticas, onde há alergia intensa e potencialmente fatal — não houve registros.
A maioria dos efeitos reportados, cerca de 40%, foi dor no local da injeção e principalmente na aplicação da segunda dose.
O que dizem os especialistas?
“Para mim o número mais importante continua sendo o 78% [de prevenção nos casos leves]. Porque esse número consegue ter um impacto muito grande na carga da doença no nosso país e na sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde” – Rosana Richtmann, pesquisadora do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas.
“Temos uma boa vacina. Não é a melhor vacina do mundo, não é uma vacina ideal, é uma boa vacina que tem a sua eficácia dentro dos limites do aceitável pela comunidade científica, pela Organização Mundial de Saúde, por parâmetros internacionais (…). É uma vacina que vai nos permitir começar esse processo de controle da pandemia” – Natalia Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.
“Só acho que eles deveriam ter publicado os dados todos em conjunto, inclusive esses 50,4%. (…) Continua sendo uma excelente vacina para a gente acabar com o caos que está acontecendo hoje, principalmente de internações. É uma vacina eficaz, principalmente para casos graves e moderados, vai reduzir pra caramba o número de internações. O que se tem que fazer é urgentemente começar a vacinação, a mais ampla possível” – Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto.
O que falta para a Coronavac ser aprovada?
Falta pouco. O Instituto Butantan protocolou na última sexta-feira (08) na Anvisa, o pedido de uso emergencial do uso da CoronaVac no Brasil. Porém, a agência tem até 10 dias para analisar os documentos. Entretanto, no sábado (09), após a conclusão da triagem da documentação, a ag6encia enviou ofício ao instituto pedindo informações complementares.
Durante coletiva desta terça-feira (12), o Butantan informou que as pendências estão sendo solucionadas e que a troca de documentos é comum visto que o trâmite emergencial nunca havia sido realizado no país. Vale lembrar que até o fim dessa semana, o órgão repassará à Anvisa os documentos que faltam.
Em nota, a Anvisa reforçou que até domingo (17), terá uma resposta sobre a autorização da vacina contra Covid-19, CoronaVac no Brasil.