Quem recebe a famosa homenagem do Google Doodle hoje (06/01), que cria um logotipo para celebrar feriados, conquistas e figuras históricas, é Juliano Moreira, o médico negro que revolucionou a psiquiatria brasileira. Ele é considerado o fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil, segundo artigo do Brazilian Journal of Psychiatry.
No dia em que o baiano completaria 149 anos, além de personalizar sua página para o cientista, o Google escreve: “ao longo de sua carreira no início do século 20, revolucionou o tratamento de pessoas com transtornos mentais no Brasil e lutou incansavelmente para combater o racismo científico e a falsa ligação de doença mental à cor da pele”.
Quem foi Juliano Moreira, homenageado pelo Google?
Em 1872, filho de uma mulher negra que trabalhava em uma casa de aristocratas na Bahia, nascia Juliano Moreira na cidade de Salvador. Na época, a Lei Áurea (1888) ainda não havia sido aprovada — alguns relatos apontam que a mãe do médico era escrava e outras biografias a descrevem como descendente de escravos.
Em meio às condições de pobreza de sua família, Moreira venceu improváveis obstáculos com poucos anos de vida. Graças a sua inteligência excepcional, o então menino conseguiu se matricular na Escola Bahiana de Medicina com apenas 13 anos. Aos 18 anos, ele estava formado e era um dos primeiros médicos negros do país, segundo a Academia Brasileira de Ciências.
Cinco anos depois, era professor substituto da seção de doenças nervosas e mentais da faculdade em que se formou. Em 1985, Moreira dedicou sua vida a viajar pelo mundo a fim de fazer cursos e visitar asilos com diversas abordagens psiquiátricas.
Moreira implementa tratamento humanizado
Após anos de estudos em variados países da Europa, Moreira volta ao Brasil em 1903, quando foi nomeado para dirigir o Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro, para pacientes com doenças mentais.
Moreira é um dos grandes nomes de estudiosos negros relevantes na história do Brasil e que muitas vezes são ignorados por instituições de ensino. Um tema recorrente na obra de Juliano Moreira foi sua explícita discordância quanto à relação imposta que de a miscigenação estaria relacionada às doenças mentais, especialmente a uma suposta contribuição negativa dos negros na miscigenação. Na primeira década do século XX, Moreira era uma exceção na academia de Medicina brasileira, e sua posição de era minoritária entre os médicos.
Em seu discurso de aprovação no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, em maio de 1896, Moreira descreveu com palavras marcantes o preconceito de cor na sociedade brasileira: “(…) a quem se arreceie de que a pigmentação seja nuvem capaz de marear o brilho desta faculdade (…) em dias de mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de conta. Ver-se-á, então que só o vício, a subserviência e a ignorância são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (…)”
Morte e legado de Juliano Moreira
O revolucionário morreu em 1933, em Petrópolis, após ser internado para tratamento de tuberculose. Para homenagear o legado de Juliano Moreira, um hospital em sua cidade natal, Salvador, foi rebatizado de Hospital Juliano Moreira em meados dos anos 30. Suas ações marcaram a história da psiquiatria e contribuíram para a diminuição do estigma ruim de pessoas com doenças psiquiátricas. Não é a toa que 88 anos depois de sua morte, Juliano Moreira está sendo homenageado pelo Google, o maior site de buscas do mundo.
Fonte: CDI
Informação de imagem: (Foto: Reprodução/Domínio Público)