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O que é o IFA

© Tânia Rêgo/Agência Brasil

O desembarque de um novo lote do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da CoronaVac na quarta-feira (3) e a chegada do primeiro lote do insumo para a vacina Oxford/AstraZeneca na tarde de hoje (6) vão impulsionar a produção de vacinas contra covid-19 no Brasil, que depende da importação desse componente, fabricado na China.

A partir dos novos lotes de IFA, o Instituto Butantan deve entregar ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) mais 8,6 milhões de doses da CoronaVac, enquanto a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) deve produzir 2,8 milhões de doses da vacina de Oxford.

Enquanto a produção do IFA não é nacionalizada, as próximas doses continuam a depender da chegada de mais remessas do insumo, considerado elemento mais importante na produção de uma vacina.

Para explicar por que esse ingrediente é central, a Agência Brasil conversou com o assessor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Akira Homma, e com o gerente de Garantia da Qualidade do Instituto Butantan, Arthur Nunes.

O que é o IFA?

O ingrediente farmacêutico ativo (IFA) é fundamental na formulação de um fármaco porque está nele a substância capaz de produzir o efeito desejado. Nas vacinas, é o IFA que tem a informação que faz com que o organismo comece a preparar suas defesas contra um micro-organismo invasor.

No caso de imunizantes como a CoronaVac, chamados vacinas de vírus inativado, o IFA é o ingrediente que contém o corpo do micro-organismo “morto”, incapaz de se replicar e provocar uma infecção. Ao receber a vacina, o corpo da pessoa vacinada passa a conhecer a estrutura do coronavírus e produz defesas específicas contra suas formas de ataque.

Outras vacinas usam plataformas tecnológicas diferentes, como as vacinas genéticas da Pfizer/Biontech e da Moderna, que usam o RNA mensageiro do coronavírus para que o corpo humano conheça a proteína S, chamada de spike. Nesse caso, o IFA contém tal RNA, que é produzido sinteticamente.

Já vacinas como a Oxford/AstraZeneca e Sputnik V têm a tecnologia de vetor viral, em que um vírus inofensivo é modificado para transportar informações do coronavírus. A vacina de Oxford usa adenovírus de chimpanzé como vetor de informações da proteína spike, que é inserida dentro do antígeno. O IFA, então, é um concentrado viral que contém esses vírus modificados geneticamente.

No caso da CoronaVac, o IFA é produzido no laboratório chinês Sinovac, desenvolvedor da vacina e parceiro do Instituto Butantan. Apesar de a AstraZeneca e a Universidade de Oxford serem instituições europeias, o IFA da vacina de Oxford também é produzido na China, pelo laboratório Wuxi Biologics, contratado pela AstraZeneca.

Como é produzido o IFA?

Para produzir o IFA, é preciso que uma cepa selecionada do coronavírus (no caso da CoronaVac) ou do adenovírus de chimpanzé (no caso da vacina de Oxford) se multiplique em laboratório até que haja uma quantidade grande o suficiente para a produção de um lote de vacinas. Os vírus precisam de células vivas para infectar e se multiplicar, e esse processo ocorre em ambiente controlado, em biorreatores.

“Essa massa de vírus é purificada, e é feito um concentrado viral. É esse concentrado viral que nós chamamos de IFA”, descreve Akira Homma, de Bio-Manguinhos, que explica que a purificação é necessária para retirar todos os detritos de células que foram destruídas no processo de multiplicação dos vírus em laboratório.

Arthur Nunes, do Butantan, acrescenta que a produção do IFA da CoronaVac inclui o processo de inativação, em que substâncias destroem a capacidade do vírus de se replicar: “inativar, basicamente, é matar esse vírus, porém, sem perder a capacidade dele de promover a produção de anticorpos”.

Com o concentrado viral produzido, é preciso transportá-lo em condições adequadas para que não sofra nenhuma alteração antes de a formulação da vacina ser concluída. O IFA da vacina de Oxford precisa viajar refrigerado a -55 graus Celsius, enquanto o da CoronaVac pode ser transportado na temperatura de uma geladeira comum.

O IFA chegou, e agora?

Por serem importados, esses lotes precisam passar por trâmites burocráticos tanto no país que os exportou quanto no Brasil. O IFA da vacina de Oxford, por exemplo, estava pronto para embarque no mês passado, mas só recebeu a licença de exportação de autoridades da China nesta semana. Ao chegar ao Brasil, é preciso comprovar que as condições de armazenamento foram adequadas e que o produto está dentro dos parâmetros para que se inicie a formulação.

É nesse momento que Bio-Manguinhos e Butantan assumem a produção. Os processos de formulação e envase (separação em frascos) ocorrem no Brasil e também envolvem estruturas industriais complexas e de alta tecnologia, que precisam garantir precisão e evitar qualquer tipo de contaminação do IFA ao ser misturado a outros ingredientes e transferido para os vidros de onde as seringas retirarão as doses. “Há no mundo, hoje, uma grande dificuldade para os laboratórios formularem, envasarem e desenvolverem as etapas finais de produção”, diz Akira Homma, que explica que o próprio laboratório que produziu o IFA da vacina de Oxford não teria condições de concluir o processo e fabricar a vacina a partir dele.

Na formulação, o concentrado viral da vacina de Oxford é misturado a outras substâncias que têm funções como garantir sua estabilização em temperaturas compatíveis com a rede de frio dos postos de vacinação, de 2 a 8 graus. A maior parte dos outros componentes da vacina de Oxford também é importada, segundo Homma, devido aos elevados padrões de qualidade exigidos. Já o IFA da CoronaVac não tem a adição de outros insumos e passa por um processo de homogeneização para que seja preparado para a distribuição nos frascos.

Apesar da complexidade de todo esse processo, a maior parte do tempo que os laboratórios demoram para produzir as vacinas a partir do IFA é gasta com controle de qualidade. Nunes explica que, no Butantan, a formulação e o envase demoram apenas um dia, mas os testes necessários para garantir a segurança e a eficácia da vacina levam mais de duas semanas.

“Isso faz parte da cadeia de produção. Sem os testes, a gente não consegue fazer a liberação dessa vacina”, afirma ele, que destaca que o teste de esterilidade é o mais demorado, exigindo uma metodologia que demora mais de 14 dias para ser concluída. “Para qualquer medicamento injetável, uma das características que ele tem que ter é ser comprovadamente estéril, sem nenhuma carga microbiana”.

Em Bio-Manguinhos, a primeira remessa do IFA, que chega hoje, passará por checagens até a próxima quarta-feira (10), quando iniciará o lento processo de descongelamento do concentrado viral, que dura três dias. No dia 12, terá início a formulação do lote de pré-validação, usado para atestar a adequação dos processos de produção. Esse lote ficará pronto no dia 18.

Depois de concluir a etapa de pré-validação, Bio-Manguinhos vai produzir três lotes de validação, em atendimento às normas regulatórias vigentes. Esses lotes devem ser liberados para distribuição para a população no mês de março, após a análise do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) e do deferimento do registro da vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

IFA nacional

Tanto Bio-Manguinhos quanto Butantan estão em preparação para produzir o IFA no Brasil, garantindo assim a autossuficiência na produção das vacinas. Na Fiocruz, o laboratório que será responsável pela produção já estava construído, precisou ser adaptado e receberá os últimos equipamentos em fevereiro, para que possa passar por uma avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março.

Em seguida, a previsão é que as primeiras operações para a produção do IFA em Bio-Manguinhos comecem em abril. “Vamos começar em abril a fazer localmente, e, no segundo semestre deste ano, teremos a vacina nacionalizada, com a produção do IFA sendo feita aqui e toda a formulação também”, diz Akira Homma.

A expectativa da Fiocruz é de que a validação dos processos do IFA nacional esteja concluída em julho, para que então seja solicitada à Anvisa a inclusão do novo local de fabricação do insumo no registro da vacina.

No Butantan, a produção nacional está prevista para janeiro de 2022, com a primeira produção experimental em dezembro deste ano. O IFA será produzido em uma nova fábrica que começou a ser construída pelo governo do estado de São Paulo em novembro do ano passado e tem inauguração prevista para o fim de setembro deste ano.

Edição: Nádia Franco

Fonte: Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro Atualizado em 07/02/2021 – 08:02
Crédito de imagem: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

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