Crianças se tornam “colecionadoras de memórias” em roteiro poético pelo Centro Histórico de Cuiabá

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- Foto por: Divulgação

Reconstituir os passos de crianças que vivenciaram uma Cuiabá de outrora e assim, enxergá-la de uma perspectiva jamais imaginada. Essa é a proposta de pesquisadores do projeto Cribiás 300+ a um grupo de cinco crianças de uma mesma família que fará um roteiro poético pelo Centro Histórico neste sábado (13). Protocolos de biossegurança rigorosos serão seguidos, como uso de álcool gel durante todo o trajeto, máscara e distanciamento. 

Às 8h elas saem da Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, munidas de uma lupa, máquina fotográfica e um vidrinho como aqueles usados pelas crianças que colecionavam ouro do córrego da Prainha, nestes, elas  metaforicamente vão guardando as memórias dos lugares.

O ponto de partida do roteiro é um marco importante. No passado, pepitas de ouro brotavam da terra e a criançada podia pegá-las na mão. Então, nessa brincadeira atual, o ouro é outro: é assim que se tornam, colecionadoras de memórias.

Esta é a terceira parte do projeto que visa defender a metodologia participativa como importante aliada no contexto da Educação Patrimonial. Essa experiência, – assim como relatos dos pequenos, fotografias e registros em vídeo colhidos na oficina-piloto -, vai compor as páginas do livro “Cribiás 300+: Por uma educação patrimonial toda nossa”.

Quem as conduz por esse passeio é Bugrinho, personagem que representa o poeta Silva Freire. Quando criança, morou em uma casa no entorno da Praça da Mandioca. Durante todo o percurso, quem assume o papel de Bugrinho é Jeysson Ricardo, que integra o grupo de pesquisadores.

Edição passada do projeto Cribiás

“Lá embaixo, onde hoje passam carros, havia o Córrego da Prainha, mas agora ele virou esgoto e passa por baixo da área central que divide as duas pistas de carro. Mas bem antigamente, quando era um córrego límpido a céu aberto, sabem o que acontecia quando chovia? Pepitas de ouro brotavam da terra”, dirá ele às crianças já no começo dessa viagem fantástica pelo Centro Histórico.

De acordo com a professora doutora Daniela Freire Andrade, proponente do projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc, as crianças vão conhecer a história de vários locais da cidade e também, quem morou nestes lugares, como o Museu da Imagem e Som de Cuiabá, Casa Barão, Escadaria do Beco Alto e o prédio do Iphan, um excelente exemplo de como eram as antigas casas cuiabanas.

“O diálogo começa sempre com uma informação relevante para elas e então, a história é introduzida. Por exemplo, quando chegam à Residência dos Governadores, a primeira coisa que ficam sabendo é que ali está foi construída a primeira piscina da cidade, mas também descobrem que ali, foram tomadas importantes decisões políticas para nosso Estado”.

A Igreja de São Benedito é ponto de partida para o grupo de colecionadores de memórias

Já na Mandioca, por exemplo, Bugrinho fala que era um local onde ele soltava muitas pipas com seus amigos, Os Meninos de São Benedito, mas que não foi sempre assim, já que muitos anos antes, escravos foram torturados naquele local.

“Personagens importantes da nossa cultura também são apresentados para o diálogo com as crianças, como a poetisa Luciene Carvalho, interpretada por Naiana, outra pesquisadora do grupo, que as esperará na Casa Barão, a atual Academia Mato-Grossense de Letras. Já na Catedral, elas encontrarão Zé Boloflô, representado por Mateus Elias, quando então conheceram a história da Catedral e sua demolição”. 

Pesquisa

Os responsáveis por pensar todo o projeto integram o Grupo de Pesquisa em Psicologia da Infância da Universidade Federal de Mato Grosso, em conjunto com o coletivo Cribiás. Desde 2010 eles se debruçam sobre o estudo de metodologias de educação patrimonial com crianças.

Na primeira fase se dedicaram a debater os princípios sobre o desenvolvimento infantil como processo cultural, articulado com os estudos sobre memória social e produção de identidades sociais. Já na segunda, que também baseará o conteúdo do livro, objetiva relatar a experiência do projeto Cribiás, crianças sabidas, definido como um projeto cultural para a infância de Cuiabá e por fim, vem a fase 3, a oficina-piloto.

Ao longo dos anos, diversas atividades foram desenvolvidas com crianças de escolas públicas e particulares e agora, essa nova experiência arremata o conteúdo do livro.

O secretário de Estado de Cultura, Esportes e Lazer, Beto Machado, diz que é bastante animador ver os frutos do edital, que nesse caso, estimula novas ações do grupo de pesquisa.

“O edital vem fortalecer essa jornada pelo conhecimento, contribuindo com os estudos acadêmicos e apresentando novas possibilidades para ações de políticas públicas neste segmento. Quando a criança é envolvida de maneira lúdica, ela aprende muito mais. Ao vivenciar essa experiência, passará a olhar a cidade de um outro jeito, valorizando ainda mais sua cultura”.

O livro – que relata as três etapas de pesquisa – será lançado em abril, nos formatos impresso e digital. O projeto Cribiás 300+ foi selecionado no edital MT Nascentes, realizado pelo Governo de Mato Grosso via Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer (Secel-MT) em parceria com o Governo Federal via Secretaria Nacional de Cultura do Ministério do Turismo. 

Equipe

O projeto é coordenado por Daniela Barros da Silva Freire Andrade, Larissa Silva Freire Spinelli, Regina Pouchain, Jeysson Ricardo Fernandes da Cunha, Paula Figueiredo Poubel, Naiana Marinho Gonçalves, Natália Salomé Poubel, Ângela Cristina Lisboa Costa, Clécia Lino Silva, Pâmella Fernandes, Mateus Elias Cruz Antunes, Lidiane Freitas de Barros e Fred Gustavo da Sillva. A historiadora Leila Borges Lacerda auxilia a equipe com a pesquisa historiográfica.

 

Fonte: Assessoria
Crédito de imagem: – Foto por: Divulgação