O jogo entre Moto Club e Botafogo, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil, vai ter a estreia da primeira narradora do grupo Globo, a Renata Silveira. Ela vai narrar o jogo no SporTV e no Premiere, a partir das 21h30.
Ser pioneiro(a) em alguma coisa é fantástico. Para desbravar um ambiente hiper machista como é o futebol, tem que ter personalidade. Encarar e se colocar como vidraça, sinceramente, não é para qualquer um.
As mulheres devem cada vez mais ir colocando a cara em todos os meios. Não faz muito tempo que as mulheres eram totalmente excluídas do meio do futebol. Estou falando em todos os sentidos.
Renata Silveira, primeira narradora da Globo — Foto: João Cotta / Globo
Virei profissional na Caldense, em 1981, e não fui entrevistado por nenhuma mulher, porque não tinha repórter feminino naquela época. Voltei ao Corinthians em 1982 e peguei toda a entrada e a evolução das mulheres no jornalismo esportivo. Elas foram chegando com muita competência e coragem num ambiente hostil como um todo. Quando uma mulher entrava no estádio e andava para procurar o seu lugar, o desrespeito era nojento. Chamavam a garota de tudo, e elas no campo, fazendo reportagem, também ouviram muitas bobagens, que não vinham só das arquibancadas.
Sempre tratei as repórteres com muita educação e respeito. Não vou citar nomes porque foram tantas que tenho receio de esquecer alguém, mas vou pegar uma representante de todas, talvez a primeira: Regiani Ritter, que trabalhou anos na Gazeta fazendo reportagem e apresentando programas.
Nos jogos, era um problema para repórteres entrarem no vestiário após o jogo para fazer entrevistas. Quem vai dar o primeiro passo? E aí vai o orgulho e a importância de ser pioneiro(a). A Regiani foi a primeira que deu esse passo para entrevistar jogadores no vestiário, algo super normal na minha época. Dei muitas entrevistas debaixo do chuveiro e fui o primeiro jogador a ser entrevistado por ela no vestiário. E foi tudo normal. O importante para que tudo desse certo era o respeito, com ele tudo iria ser tranquilo, e foi assim.
A Renata vai dar um grande chute para o avanço das mulheres na narração esportiva, porque comentarista já tem várias – e ótimas. Adoro trabalhar no mesmo jogo que a Ana Thais Matos, ela é uma ótima comentarista.
Estive no “Bem, Amigos” com a Renata, e ela demonstrou ter segurança e personalidade. E falou uma coisa muito importante, que às vezes alguns esquecem pelo caminho: o jogo é a coisa mais importante, o espetáculo quem vai dar são os jogadores. O narrador passa o desenho para quem está assistindo, ouvindo ou os dois; o comentarista dá sua opinião; e o repórter informa. E isso tem que ter harmonia e cuidado para não passar por cima do espetáculo.
A Renata fala muito bem, e estou torcendo por ela e todas as mulheres que estão lutando para ocupar um espaço em qualquer meio. Como falei no “Bem, Amigos”, se um dia for escalado para trabalhar com ela, será uma realização e um orgulho enorme.
Estou curioso para ver a abertura e a narração do gol da Renata. Ela fez um suspense no programa. Estarei prestigiando sua estreia, Renata. Boa sorte!
Por Walter Casagrande