A medalha de bronze alcançada pela seleção feminina na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, foi a primeira do voleibol sentado brasileiro. Nos Jogos de Tóquio (Japão), o país espera marcar presença nos dois pódios, entre homens e mulheres, e os resultados nos principais eventos do ciclo indicam que o desejo não é da boca para fora.
O time masculino é o segundo colocado do ranking da World Paravolley, a federação internacional de vôlei sentado, atrás somente do Irã, campeão paralímpico no Rio. Os brasileiros estão à frente, por exemplo, de Bósnia (quarta), prata em 2016, e Egito (terceiro), bronze há cinco anos. Em 2018, a equipe nacional ficou em terceiro no Mundial disputado em Arnhem (Países Baixos), caindo para os bósnios na semifinal e batendo a Ucrânia no duelo valendo o pódio. Em 2019, o Brasil fez jus ao favoritismo e levou o tetracampeonato dos Jogos Parapan-Americanos de Lima (Peru).
“Nosso trabalho, desde o início, é para chegarmos à tão esperada e merecida medalha paralímpica, visto que até agora nossos resultados foram positivos. Com toda a dedicação, esforço e superação dos atletas, tenho certeza que chegaremos ao nosso objetivo, a medalha de ouro”, afirmou à Agência Brasil o técnico da seleção masculina, Célio César Mediato, que trabalha, no momento, com 14 dos 12 jogadores que pretende convocar para Tóquio.
A equipe feminina também desponta entre as candidatas a pódio. No ranking mundial, aparece em terceiro, ficando só atrás de Estados Unidos (primeiro) e China (segundo), os dois últimos campeões paralímpicos. Prata no Parapan, superadas pelas norte-americanas na decisão, as brasileiras chegaram às quartas de final do Mundial de 2018, sendo eliminadas pela Rússia, que ficou com o título. Inclusive, para o técnico José Antônio Guedes, o adiamento dos Jogos de Tóquio acabou sendo benéfico para o time nacional.
“China e Estados Unidos vêm mantendo uma organização tática desde 2012. As norte-americanas, aliás, desde 2008 ou 2004. É um time previsível taticamente, mas tecnicamente excelente. A Rússia teve uma mudança tática importante no Mundial e foi campeã pegando todo mundo de surpresa. E nós mudamos nosso sistema totalmente. Então, ganhamos tempo para aperfeiçoar o que mudamos e amadurecer a compreensão dos conceitos de jogo”, explicou o técnico da seleção feminina, que terá em Tóquio um time experiente, também limitado a 12 jogadoras.
“Temos atletas que estão [na seleção] desde [a Paralimpíada de] Londres [Reino Unido] 2012. No vôlei sentado feminino, a gente não tem uma grande quantidade de jogadoras disponíveis, então há uma preocupação de trazer as jovens à seleção o mais cedo possível. Em 2016, por exemplo, eram pelo menos quatro jovens. A Eduarda Dias tinha 16 anos, foi nossa líbero titular e se tornou uma das melhores do mundo. Hoje, com 21 anos, ela é uma das líderes da equipe, com experiência em dois Mundiais e de ser medalhista paralímpica. A [atacante] Pâmela Pereira é outra que esteve no Rio, ganhou bagagem internacional e agora joga entre as titulares”, descreveu Guedes.
Preparação
Por outro lado, a pandemia do novo coronavírus (covid-19) forçou o adiamento da Paralimpíada e impacta desde o ano passado a preparação em diversas modalidades. Não foi diferente no vôlei sentado. As equipes nacionais só conseguiram se reunir novamente em janeiro desde ano, com a primeira fase de treinamentos em Itabaiana (SE). A segunda e a terceira, em fevereiro e março, foram realizadas no Centro de Treinamento Paralímpico (CTP), em São Paulo.
“O impacto [maior da pandemia] acredito que tenha sido de não treinar todo o grupo junto [ao longo de 2020], pois em se tratando de um esporte coletivo, isso faz falta”, avaliou Mediato.
“Minha maior preocupação não era apenas com os encontros da seleção, mas que as atletas se mantivessem treinando em seus clubes. A fase de treinamento é o resultado desses treinos. Na seleção, a gente lapida e organiza taticamente a equipe de acordo com o material humano que temos”, completou Guedes.
A quarta fase seria em abril, mas o recrudescimento dos casos e internações por covid-19 em território paulista levou a Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (CBVD) a suspender as semanas de treino. A previsão é que novos encontros mensais ocorram entre maio e junho, com uma preparação intensiva em julho antecedendo a viagem para o Japão, em agosto.
Também em função da pandemia, o ritmo de competição pode chegar afetado em Tóquio. A Copa do Mundo de vôlei sentado – inicialmente na China e transferida para o Egito e que seria disputada antes da Paralimpíada – foi adiada para dezembro. Os campeonatos nacionais masculino e feminino, marcados respectivamente para maio e junho, foram suspensos e podem ser remarcados para o segundo semestre, após os Jogos.
“Mandamos convites para Rússia e Canadá, para vermos a possibilidade de intercâmbio com eles, que seria interessante para o Brasil antes dos Jogos. Caso não aconteça, temos um plano B, que é fazermos uma série de amistosos contra times masculinos do Brasil, que são de alto nível e condição física parecida com a de seleções europeias ou a dos EUA: fortes, altas, que atacam bastante, pesado. Temos que nos aproximar desse conceito de jogo”, explicou Guedes, avaliando que, a princípio, a ausência de competições impacta a maior parte dos rivais de maneira semelhante.
“Tirando as seleções europeias que estarão em Tóquio [Rússia e Itália], que devem disputar uma competição local, as demais que brigam em cima estão na mesma condição que o Brasil, que são China e EUA. Creio que essas duas, nós e a Rússia disputarão o pódio nos Jogos”, concluiu o técnico da equipe feminina.
Conforme Mediato, a seleção masculina teria um intercâmbio com o Egito e torneios na Bósnia e nos Países Baixos entre maio e junho, que foram cancelados por conta da pandemia. “Resumo em uma única palavra sobre driblar as dificuldades: superação”, finalizou o treinador do time masculino.
Edição: Gustavo Faria
Fonte: Lincoln Chaves – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional – São Paulo
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