Registro de peixes no Rio Pinheiros cria esperança, diz especialista

0
128

Imagens de peixes nadando no Rio Pinheiros, no trecho próximo à ponte Cidade Jardim, na capital paulista, foram divulgadas nos últimos dias em redes sociais e pelo governo do estado de São Paulo. A diretora da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, avalia que o aparecimento dos peixes é uma conquista de investimento de longo prazo na recuperação do rio e que a preservação de rios urbanos, como o Pinheiros, deve ser um programa permanente de estado.

“O saneamento, a despoluição dos nossos rios urbanos tem que ser um programa de estado, que não tem começo, meio e fim, tem que ser permanente, porque a dinâmica social na bacia, principalmente em uma cidade como São Paulo, é extremamente complexa”, disse Malu, que é especialista em políticas públicas e gestão de recursos hídricos.

Segundo Malu, uma conquista como essa não é resultado de curto prazo. Ela explica que se está colhendo os frutos agora dos investimentos que começaram na década de 1990, quando um jacaré apareceu no Rio Tietê e despertou nas pessoas a esperança de despoluir o Rio Tietê. “Com esses peixes é a mesma coisa, o ressurgimento de peixes em um rio extremamente poluído, em um ambiente extremamente insalubre como é ainda a margem do Pinheiros, desperta na gente essa esperança”, disse a especialista.

O Rio Pinheiros – que se estende pelas zonas Sul e Oeste da capital paulista – deságua no Tietê. Ele é um dos principais afluentes do Rio Tietê na Grande São Paulo e a melhoria das condições do Pinheiros terá impacto na melhoria da qualidade das águas também do Tietê. Em 2019, foi lançado o Programa Novo Rio Pinheiros, mas existe desde 1992 o Projeto Tietê, que também é um programa de saneamento ambiental.

“Os afluentes que chegam ao Rio Pinheiros e estão nessa bacia já vêm recebendo há vários anos programas de coleta, afastamento, tratamento de esgoto. Eles vêm passando por processo de despoluição nessas duas décadas, então o Pinheiros vai ser reflexo das ações que estão sendo feitas agora e de todo esse processo de saneamento ao longo das últimas décadas”, avaliou a especialista.

A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que o Novo Rio Pinheiros e o Projeto Tietê são complementares “porque as obras executadas no escopo do Novo Rio Pinheiros contribuem para a despoluição do Tietê”. O investimento no Novo Rio Pinheiros totaliza R$ 1,7 bilhão em obras realizadas pela Sabesp, que tiveram início em 2019. As obras do Projeto Tietê são executadas desde 1992 e totalizam desde então U$S 3,1 bilhões.

Desde começo do programa, foram retiradas mais de 30 mil toneladas de lixo flutuante, como plástico, somente das águas do Rio Pinheiros. Por meio do desassoreamento, para aprofundamento e manutenção do rio, as equipes retiraram 256 mil m³ de sedimentos, o que equivale a mais de 16 mil caminhões.

Testes com dois barcos coletores de resíduos flutuantes, os chamados Ecoboats, no rio Pinheiros, em São Paulo.
Testes com dois barcos coletores de resíduos flutuantes, os chamados Ecoboats, no rio Pinheiros, em São Paulo.

Governo do estado prevê que a despoluição do Rio Pinheiros ocorrerá até 2022. – Rovena Rosa/Agência Brasil

Despoluição até 2022

O governo do estado prevê que a despoluição do Rio Pinheiros ocorrerá até 2022. Até lá, as ações incluem expansão da coleta e tratamento de esgotos; desassoreamento e aprofundamento do rio; coleta e destinação dos resíduos sólidos ao longo dos 25 quilômetros do rio; revitalização das margens, além de iniciativas socioambientais.

Até março deste ano, obras realizadas pela Sabesp conectaram 230 mil imóveis localizados na bacia do Pinheiros à rede de esgoto, o que permitiu a coleta e envio para tratamento do esgoto dessas casas. A especialista citou que o acesso da população ao saneamento e à água se reflete na situação dos rios.

“Essa exclusão social é refletida na qualidade da água de rios urbanos. Quanto mais pessoas sem acesso a saneamento, maior o comprometimento da qualidade da água no rio. Então é uma soma de ações que precisam ser feitas”, disse. Entre essas ações, além do poder público, Malu diz que a sociedade pode participar com ações de fiscalização e monitoramento, ou seja, voltar a olhar para o rio, inclusive usando as ciclovias próximas das margens do Rio Pinheiros.

Segundo o governo estadual, a participação da população é fundamental para evitar o descarte irregular de lixo nas vias e córregos. A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado acrescentou que, assim como grandes rios urbanos, a água não será potável nem permitirá a prática de natação e que a expectativa é que o Rio Pinheiros abrigue algumas espécies de peixes, tenha águas claras e limpas para que, sem o odor, a população possa ocupar suas margens e contar com uma nova opção de lazer.

Ainda sem condições

A diretora da SOS Mata Atlântica ressaltou que o aparecimento dos peixes não significa que, neste momento, o Rio Pinheiros tenha condições de abrigar vida aquática ao longo da sua extensão. Ele ainda está poluído e não teria oxigênio para suprir a demanda dessa vida aquática. No entanto, ela disse que o fenômeno é uma prova da possibilidade de o rio abrigar organismos vivos.

“O surgimento desses peixes e a permanência deles vivos no rio, coisa que não acontecia antes, é uma grande esperança para todo o paulistano, para os paulistas inclusive porque, na medida em que despolui um rio como o Pinheiros, se comprova que, fazendo investimento em saneamento básico, a natureza rapidamente se recupera. Eu vejo essa aparição desses peixes e a emoção dos ciclistas, das pessoas que viram esses peixes, como uma grande esperança de que a gente está no caminho certo”, disse Malu.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), responsável pelo monitoramento de qualidade da água, constatou uma melhora no trecho inferior do Pinheiros, que compreende os pontos entre a Estrutura do Retiro e a Usina São Paulo, inclusive próximo à ponte Cidade Jardim, onde foram filmados os peixes.

Edição: Fábio Massalli

Fonte: Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
Crédito de imagem: