Um dos destaques do Sesi-Bauru, que encerrou a Superliga Feminina de vôlei 2020/2021 na quarta colocação, Tifanny Abreu parece estar perto de mudar de clube. Após quatro anos na equipe paulista, a décima maior pontuadora da temporada revela que foi procurada por quatro clubes e admite que adoraria jogar no Flamengo e ser comandada pelo multicampeão Bernardinho.
“Ele é um gênio do esporte. Amaria jogar com o Bernardo”
– Foi minha quarta Superliga, sempre na mesma cidade. Bauru me acolheu, tenho muito carinho por ela. É uma cidade que dá muito respeito para mulheres trans. Lá é muito difícil ver atos de violência contra mulheres trans como eu, ou mesmo na comunidade LGBT. Como atleta, tive uma evolução muito boa nesta temporada, principalmente na parte defensiva. Também errei menos na parte ofensiva, aproveitei muito essa Superliga – conta a jogadora.
Para ela, as diversas propostas são reflexo não só do bom desempenho nas quadras, mas da queda da barreira do preconceito por ser uma atleta trans, especialmente nos dois primeiros anos na Superliga.
– Vou ser muito verdadeira. Ano passado houve algumas especulações de outros clubes, mas o preconceito ainda existia. Este ano estou muito feliz porque consegui receber convites de outras quatro equipes. Isso quer dizer que a atleta trans não é mais um bicho de sete cabeças. Vou seguir minha intuição, não sei onde vou parar, tenho muito amor pelo Bauru, mas tenho certeza de que vou jogar com muita paixão aonde quer que eu vá.
Um sonho chamado Bernardinho
Bernardinho estreia no comando do Sesc-Flamengo — Foto: Paula Reis/CRF
Nos bastidores, os rumores mais fortes são de que a ponteira esteja muito perto de fechar com o Sesc-Flamengo. Questionada sobre trabalhar com Bernardinho, que já teria dito que Tifanny tem “golpe de homem“, ela fala com tranquilidade.
– Acho que não só atletas brasileiros, mas muitos estrangeiros sonham jogar com o Bernardo. Ele é um gênio do esporte. Tive o prazer de jogar este último ano com o Rubinho, que tem um jeito muito parecido no modo de trabalhar – apesar de ser mais calmo, mais tranquilo, enquanto o Bernardo é um pouco mais agitado. Quanto ao passado, não senti em nenhum momento tristeza ou raiva porque leram os lábios dele e eu senti que ele falou “o golpe é foda”, mas transformaram em “o homem é foda”. Sempre tivemos um contato muito bom e sempre fomos muito respeitosos um com o outro e amaria jogar com o Bernardo – explica.
Quanto ao balanço dessas quatro temporadas disputando a Superliga de vôlei, Tifanny garante que não poderia estar mais feliz.
– Cada ano que passa eu conheço novas atletas, novas pessoas, e elas veem qual é a realidade sore a Tifanny, a mulher trans. Elas vão me conhecendo e vendo que estou lutando, batendo e apanhando como elas. Cada ano que passa a gente vê as coisas estão mudando e que está acontecendo a inclusão. A Tifanny fez a diferença não por ser a mulher trans, mas porque ela jogou bem naquele momento – como muitas vezes a Tandara faz a diferença no Osasco, a Thaísa sempre faz a diferença no Minas. Cada uma tem seu diferencial. Hoje não fico incomodada quando alguma jogadora fala que eu fiz a diferença, me incomoda quando uma atleta fala que eu jogo diferente porque tenho uma força masculina – uma coisa que não tenho.
Tiffany Abreu, primeira atleta trans a jogar na elite do vôlei no Brasil — Foto: Divulgação
Por GE / Erica Hideshima — São Paulo