Do amor pelo ofício e o desejo de continuidade do segmento, nasceu o coletivo Ceramistas do Mato, em 2016. O coletivo reúne 23 ceramistas que neste ano, com financiamento via edital MT Nascentes da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), realiza a “III Mostra Cerâmica do Mato”.
A exposição “Pantanal: das águas, das matas, do barro”, idealizada no formato virtual, entra em cartaz no dia 10 de junho, no site www.ceramistasdomato.com.br. Graças ao projeto, o coletivo pode criar a plataforma digital que consolidará a presença da cerâmica no cenário cultural e econômico de Mato Groso.
Mato Grosso possui uma produção efervescente que aposta nos modos tradicionais, mas que também ousa por sua subjetividade. Temos muitos artistas a serem celebrados neste dia 28 de maio, o Dia Nacional do Ceramista.
O profissional que se dedica a uma das mais antigas linguagens artísticas, que remonta o período neolítico, conserva nos dias atuais, uma prática intrínseca ao desenvolvimento humano. Ao dominar o fogo o homem passou a criar seus próprios utensílios, misturando a argila com água e depois a queimando.
Na atualidade, além de utensílios utilitários, as mentes criativas dos artesãos dão asas à imaginação, gerando novas formas e peças inspiradas por culturas diversas: da tradicional à pop.
Os ceramistas que compõem o coletivo são de origens diversas, sotaques diversos e formações variadas, todos dotados de habilidade artística. De uma sensibilidade, que ao que parece, têm o coração nas mãos e cada uma de suas peças guarda um pouco de sua alma.
Os artistas que compõem a mostra representam várias regiões de Mato Grosso, com ateliês em Cuiabá, Várzea Grande, Chapada dos Guimarães, Sorriso e Tangará da Serra. Conheça abaixo:
1. Anailde Gomes (Cuiabá)
Anailde Gomes começou a produzir na década de 1990. Autodidata, sua produção é 100% artesanal, modelagem manual, com matérias primas mais naturais possíveis, acabamento feito com óleos vegetais e pedra. Na produção das peças em cerâmica, busca incorporar materiais que não encarecem a peça. Aí vai fazendo misturas e criando as próprias técnicas. No processo de queima, usa o mesmo utilizado para fazer tijolos pretos de requeima para as panelas.
2. Cleide Rodrigues (Cuiabá)
Reconhecida como uma das principais ceramistas da comunidade São Gonçalo Beira Rio, Cleide Antunes Rodrigues cresceu em meio à produção de cerâmica. Desde pequena via sua mãe, tias e avó produzindo peças utilitárias, como: potes, moringas, cumbucas. Ainda na infância, por volta dos 10 anos, começou a criar suas próprias peças. Mais tarde, ao adotar moldes para produção das peças em cerâmica e também o forno elétrico, teve suas famosas galinhas de angola de tauá expostas nas lojas da Tok Stok e comercializadas também pelo Grupo Pão de Açúcar.
3. Domiciano Marques Dos Santos (Cuiabá)
Domiciano Marques Dos Santos, também conhecido como Edu, conheceu a arte da cerâmica aos 7 anos, em Corumbá. Aprendeu a fazer o barro, amassá-lo, moldando-o e dando vida às figuras de animais símbolos do Pantanal, como pássaros, jacaré e onça. Com o tempo e a prática, o ceramista foi aperfeiçoando suas obras em cerâmica e, inclusive, expandindo as temáticas com as quais trabalha. Além das obras que remetem ao bioma local, Edu também passou a fazer santos. Um dos diferenciais de seu trabalho é o material, pois ele mesmo fabrica sua própria argila.
4. Irani Laccal Gomes (Cuiabá)
Irani aprendeu a arte da cerâmica, aos 7 anos. Quando ia visitar seu avô, que tinha uma olaria, já moldava de maneira intuitiva e ainda sem técnica suas galinhas, panelinhas e bonequinhas de argila. O tempo foi passando e o apreço pela arte manual, também: ela costura, faz crochê, borda e pinta porcelana. Avançando, logo adquiriu um forno Jung, para a queima de peças de porcelana. Foi então que surgiu a vontade de produzir arte em argila. Com todas essas vivências, hoje se dedica à produção de peças figurativas e utilitárias em cerâmica, pintura em porcelanas, fotos em porcelanas e também na venda de produtos para cerâmica.
5. Jac Barroso (Cuiabá)
Jac Barroso iniciou nas artes manuais com sua mãe, cozinhando, costurando e mais tarde, desenhando e pintando. Logo, dedicou-se ainda mais, aprendendo técnicas de pintura a óleo, acrílica, bico de pena, aquarela e cerâmica. A princípio seu trabalho focava na estampa em peças prontas de cerâmica biscoito, porcelana e vidro, mas logo, passou a modelar suas próprias peças. Hoje, além das pinturas em telas, dá vida ao barro, que resulta em peças decorativas como placas, bandejas e azulejos.
6. Lenadro da Silva Oliveira (Cuiabá)
O cuiabano que viveu entre Cuiabá e Chapada, reformatou sua arte ao ter contato com a cerâmica do distrito de Jangada Roncador, em Chapada. Suas primeiras peças foram panelas de barro, mas depois, passou a fazer também pequenos animais do Pantanal. Hoje, as araras e capivaras predominam no conjunto da obra, assim como figuras coloridas que após a queima de peças, pinta com tinta PVA e dá acabamento com verniz. Muitas vezes, coleta o barro na região da zona rural em Chapada e queima em forno à lenha.
7. Leonice da Silva, a Nice Aretê (Cuiabá)
Quando desempenhava função em uma empresa de telefonia, Nice deu os primeiros passos rumo à produção de cerâmica, iniciando aprendizado no berço da cerâmica cuiabana, a comunidade de São Gonçalo Beira Rio. Seu trabalho é voltado para a produção de máscaras, esculturas, totens e painéis, especialmente com temática indígena. Apesar disso, também teve uma fase em que intensificou a produção de potes, mas sem deixar de lado a inspiração dos grafismos indígenas, especialmente dos Kadiwéu, da região do Pantanal.
8. Lucileicka da Silva David (Chapada dos Guimarães)
Há 20 anos Lucileicka da Silva David se dedica à cerâmica. Dos diversos cursos realizados, desenvolveu cada vez mais as técnicas a ponto de criar seu próprio esmalte a partir de cinzas de elementos naturais, típicos da região do Cerrado. Por isso, utiliza cinzas de taboca do Cerrado, casca de buriti, casca de pequi e casca do baru para produzir seus próprios esmaltes. O resultado é uma tonalidade única e que já é uma “assinatura artística” dos trabalhos de Lucileicka, além, dos grafismos indígenas. A habilidade artística rendeu convite para exposição coletiva na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Estados Unidos.
9. Ludmila Brandão (Cuiabá)
Foi na década de 1990 que Ludmilla deu seus primeiros passos rumo à produção artística. A vida acadêmica acabou lhe exigindo tempo, mas recentemente retomou o contato com a cerâmica, orientada por importantes profissionais das artes, como Claudio Casares, Rosylene Pinto e Irani Laccal. Aumentou a caixa de ferramentas, comprou esmaltes e acumulou conhecimento assistindo a aulas online. Por fim, comprou seu forno e torno. Para arrematar, teve algumas aulas com o mestre Osmar Virgílio.
10. Maria Oliveira (Várzea Grande)
Maria começou a atuar como ceramista há aproximadamente seis anos. Na infância, se dedicada ao desenho e na adolescência, a relação íntima com a arte se estendeu para a pintura. Foi fortemente influenciada pela arte indígena ao trabalhar com pigmentos a partir do barro e das cinzas da madeira, utilizados para grafismos no corpo. Dentre as temáticas que mais caracterizam sua arte nas telas está a natureza, mais especificamente as árvores. Seu conhecimento foi ampliado quando teve contato também com a xilogravura e, enfim, a cerâmica.
11. Mariza Mendes Fiorenza (Cuiabá)
Na infância, em uma chácara em São Gonçalo Beira Rio, enquanto as crianças brincavam no rio, ela observava ceramistas da comunidade. Nem imagina que voltaria anos mais tarde para aprender com eles. Antes, Mariza fez aulas de pintura clássica em porcelana e pintura moderna até que em 2017, passou a conciliar a pintura em porcelana e em vidro com aulas de cerâmica da mestra Juracy. As flores de cerâmica, assim como elementos e ícones relacionados à cultura local, são peças que descrevem sua produção.
12. Osmar Virgílio (Cuiabá)
Há 35 anos dedica-se à arte da cerâmica, mas não se considera artista. Denomina-se um “profissional da cerâmica”. Apesar de sua modéstia, entre seus colegas ceramistas, é considerado um artista e uma referência na cerâmica e, especialmente, no torno. Com muita habilidade, em poucos minutos produz um item utilitário. Com uma produção média de 1000 peças ao ano, é uma lenda na arte do torno. Mas Osmar também criou uma técnica própria para fabricação da argila. O ceramista considera que sua “assinatura artística” está na fusão entre utilitário com formas, símbolos e/ou temáticas regionais, como os vasos com rosto indígena e negro.
13. Patty Wolff (Cuiabá)
A artista visual estreou na modelagem em argila, em 2015. O estímulo foi que com o tato da argila suas criações em papel ou tela tomavam vida tridimensional. Há seis anos, a cerâmica tornou-se um dos caminhos de expressão da sua arte. Ela tem se dedicado a criar modelagens e esculturas, que formam corpos orgânicos femininos que recebem pinturas com engobes e esmaltação. Os rostos que nascem das modelagens são um dos diferenciais de seu trabalho. As pinturas com esmalte também têm seguido esse caminho de trazer um diferencial da “marca”, além da aproximação das pinturas em tela que a artista também cria.
14. Regina Lucia Ortega Calazans (Cuiabá)
Regina sempre se envolveu com a arte, seja o teatro, a pintura ou a escrita. Ao se aposentar, passou a se enveredar também pela arte da cerâmica. Primeiro começou com pesquisas na internet e depois, passou a fazer cursos com artistas da terra, como Junne Fontenele. Uma temática presente em sua produção é a cultura local, especialmente o Boi à Serra. Outros temas presentes em seus trabalhos são o negro e a figura feminina.
15. Rhori Pereira (Cuiabá)
Rhori Pereira é um apreciador de histórias em quadrinho (HQ) e cinema, que passou a dedicar-se à sua arte em 2013, quando começou a pintar e depois, produzir peças com barro. Desde esse início, o artista já gostava de trabalhar com o realismo, bem como de anatomia. Porém, a argila não era o material ideal para as peças relacionadas à anatomia. Foi então que conheceu o oil clay. Atualmente, o artista também trabalha com outros materiais, como: cera, argila, ou melhor massa cerâmica e resina.
16. Rosangela Maria de Jesus (Sorriso)
Há seis anos, em um encontro com a artista Nice Aretê, muita coisa mudou na vida de Rosangela. Ela morava na comunidade do Quilombo de Mata Cavalo, à época. Nesse processo, fez uma imersão por sua história: sua família materna produzia seus próprios utensílios na cerâmica. Tendo como referência a cultura do povo negro, a ceramista gosta de coletar sua própria matéria prima (a argila) nos vales, nas encostas e nos córregos. Sua produção também tem como característica a valorização do lado rústico e, ao mesmo tempo, a funcionalidade da peça. Outra característica marcante no trabalho de Rosangela é o desenho em alto relevo.
17. Rosylene Pinto (Cuiabá)
A artista cresceu em um ambiente de entusiastas da arte e dotada de muita sensibilidade, sonhava aprender cerâmica. A partir da década de 1990 vivenciou uma escalada pela produção artística, pintando e produzindo esculturas em argila até operar seu forno e construir seu próprio Torno Educativo Teles. Dentre algumas inspirações para suas peças estão a temática indígena e divindades, que compõem a sua série Santos. O Cerrado também foi tema de algumas de suas peças, assim como às figuras femininas.
18. Tula Kirst (Cuiabá)
Nascida e criada em um ambiente extremamente fértil para a produção artística, Tula Kirst Romani sempre gostou de desenhar. O primeiro curso rumo à produção de cerâmica foi nos Estados Unidos: fez modelagem de figura humana em argila. Foi o primeiro contato com o barro. Sempre dedicada à arte, em sua produção atual há de tudo um pouco: peças em estilo utilitário, bijuterias de cerâmica e esculturas. Aliás, Tula considera os bustos e as faces sua “assinatura” na cerâmica. Mas não quer que esse seja seu mote principal. Pois quer continuar expandindo sua produção.
19. Maria Sebastiana de Jesus Pinheiro, Dona Fia (Tangará da Serra)
Dona Fia integra o Núcleo Arte da Terra, o Assoarte. De Tangará da Serra, já se dedicou ao corte e costura. Mas depois do curso de cerâmica, sua principal motivação passou a ser essa produção artesanal. Pelas dificuldades que há em qualquer profissão, eventualmente, a ceramista pensou em desistir, mas no coletivo, uma apoia a outra. A essência colaborativa move o dia a dia de Dona Fia e suas companheiras.
20. Valéria dos Santos Menezes (Tangará da Serra)
Antes de integrar o coletivo e fazer da cerâmica sua profissão, Valéria conta que já era “meio artesã desde pequena”. Fazia e ainda faz crochê, tricô, bordado, pintura em tecido e é costureira. Foi em 2005 que, de fato, começou a mexer com o barro. Desde então, conciliava a costura com cerâmica. Mas há três anos vem se dedicando exclusivamente em produzir, de modo coletivo, peças em cerâmica. No Arte da Terra elas fabricam a própria argila.
21. Maria da Penha Dias (Tangará da Serra)
Penha despertou para a cerâmica ao participar de um curso, no projeto Viva Progresso, fruto de uma parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) Mato Grosso com a Prefeitura de Tangará da Serra. O professor foi Domiciano Marques do Santos (o Edu), que hoje, ela tem como referência. Mesmo tendo tido contato com barro e realizando sua produção de “panelinhas” na infância, foi com o convite de Dona Fia que Penha começou a se dedicar à cerâmica e conseguiu, inclusive, superar uma fase depressiva.
22. Rosane Fagundes Kraemer (Tangará da Serra)
Rosane também sofreu com um período de depressão, quando se mudou para Tangará e depois para o distrito de Progresso, em 2005. Foi nessa época que ela foi “apresentada” à cerâmica. E desde esse primeiro contato, ela já se identificou com esse ofício. Hoje, as companheiras de cerâmica a consideram como “a cabeça do Arte da Terra”. Atualmente, ela está como Presidente da Assoarte, ao lado de Penha, que é vice-presidente.
23. Orlinda Meiato Gonçalves (Tangará da Serra)
A exemplo de algumas das colegas, Orlinda já fez vários cursos, como: bordado, crochê e outros tipos de artesanato. Apesar disso, ela optou pela cerâmica e vem se dedicando a esse ofício há 13 anos. A associação não só fabrica a própria argila como tem seu próprio forno e loja. Além da dedicação à cerâmica, as artesãs têm algo em comum: antes de se dedicarem a essa arte, trabalhavam com serviços do lar, inclusive cozinhando para trabalhadores em fazendas ou desenvolvendo trabalhos como costureira. Hoje, todas têm na sua arte a fonte de sua renda.
No site www.ceramistasdomato.com.br estão disponíveis informações sobre o coletivo Ceramistas do Mato, sobre o projeto da exposição coletiva virtual e ainda, biografias e mais fotos dos ceramistas listados aqui.
Fonte: Assessoria
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