Nour Alshaer tem 21 anos e nasceu em Gaza, na Palestina. Ela está de volta há um ano, após passar três anos cursando uma universidade em Washington, nos Estados Unidos, e seus planos de retornar à América para concluir os estudos foram repensados com a nova crise entre Israel e seu país.
“Se eu sobreviver, acho que vou terminar a faculdade de Medicina aqui. Eu agora não me vejo mais saindo daqui e deixando meu povo”, diz, por telefone, ao G1. Apesar do tom tranquilo em sua voz, não deixa de chamar atenção a condição que ela mais tarde voltará a mencionar – se sobreviver.
Segundo Alshaer, o local onde sua família mora não é exatamente um alvo de ataques, mas é impossível se sentir segura vivendo em Gaza atualmente. “Estamos sempre preparados para morrer. É horrível viver assim, mas nenhum lugar é seguro”, afirma. Ela diz que, ao contrário dos israelenses, os civis em Gaza não contam com abrigos, e por isso ficam em suas próprias casa durante os bombardeios.
Sua maior revolta na atual situação, diz, é ver o povo palestino retratado internacionalmente como “vilão”, quando apenas se trata de uma população desarmada tentando sobreviver, garante.
Alshaer diz que o povo não deve ser questionado quanto às ações do Hamas – autor dos disparos de foguetes contra Israel – e que não é justo que o país vizinho use seu enorme e desproporcional poder de fogo contra eles, a população desarmada. Para ela, trata-se de “um estado colonial usando seu poder para apagar a população de outro estado”.
Israel, porém, garante que ataca apenas alvos do Hamas. No domingo, por exemplo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que o ataque ocorrido ao prédio que hospedava as agências de imprensa Associated Press e Al Jazeera foi legítimo porque o também abrigava um escritório pertencente ao grupo palestino, considerado terrorista por Israel e pelos EUA.
A jovem diz que os piores momentos são durante a noite, quando os bombardeios se intensificam. Além do medo provocado pelo barulho constante das explosões, um grande número de drones sobrevoa o espaço aéreo, e até mesmo os sinais de internet sofrem interferência, dificultando a comunicação.
Ela não prevê um fim próximo para os atuais ataques, e diz que, mesmo quando isso acontecer, a situação não vai melhorar muito. “Porque já não estávamos vivendo bem antes. A situação não era boa, com bloqueios e acesso restrito a tanta coisa. E agora também teremos muitas coisas destruídas, ainda por cima”, ressalta.
Alshaer afirma também que esse tipo de conflito não serve para resolver nada e que a questão entre Israel e Palestina é muito mais ampla do que as hostilidades que provocaram a atual crise. “O que está acontecendo não vai nos levar a nenhum tipo de solução, temos certeza disso”, diz.
Ela acredita, porém, que uma forte pressão internacional pode ajudar a melhorar a situação. “Temos visto protestos, apoio no resto do mundo como nunca tivemos antes”, destaca. No entanto, isso não funciona se continuar existindo apoio financeiro internacional para o armamento de Israel, acrescenta.
“Os Estados Unidos, por exemplo, mudam seu presidente, mas continua a mesma coisa. Obama nos enviava coisas, mas dava dinheiro ao exército de Israel. De que adiantava então?”, questiona.
Segundo ela, a maneira de ajudar seria pressionar Israel de maneira efetiva, de forma a reduzir o poder militar desproporcional. “Estamos cansados de caridade. Não estamos pedindo por dinheiro”, diz.
Por Fabiana de Carvalho, G1