O faturamento do mercado editorial no ano passado caiu 8,8% em relação a 2019, atingindo um total de R$ 5,2 bilhões. Os dados foram divulgados, pela Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro ano-base 2020, realizada pela Nielsen Book, com coordenação da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).
O presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira, disse à Agência Brasil que a queda decorreu, entre outros fatores, do fato de que o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) não conseguiu ser executado em 2020.
Marcos Pereira disse que em função da pandemia do novo coronavírus (covid-19), “apesar de todo o esforço de sua equipe, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) não conseguiu selecionar os acervos, mandá-los para as escolas, não obteve o quantitativo total, não pôde negociar com as editoras, nem fazer os contratos no ano passado. Tudo foi feito no primeiro trimestre de 2021”.
Em 2020, segundo Marcos Pereira, o governo foi responsável por agregar R$ 1,4 bilhão ao faturamento do setor editorial, contra R$ 1,6 bilhão em 2019.
Marcos Pereira disse que “uma queda grande e muito surpreendente” foi registrada no segmento de livros religiosos, representada por um canal importante que é o sistema porta a porta, afetado pelo distanciamento social.
No mercado de educação, que engloba os subsetores de livros didáticos e científico, técnico e profissional, o presidente do Snel disse que a mudança já vem ocorrendo há muito tempo. “Você tem uma migração para ferramentas virtuais e, aí, a pandemia deve ter acelerado isso”.
Ele lembrou que as aulas na rede privada de ensino passaram a ser pela internet, com os estudantes dentro de suas casas. “A pandemia, de várias formas diferentes, impactou o resultado do setor”.
A pesquisa mostra que o subsetor Religiosos foi o mais afetado em termos de faturamento nas vendas das editoras ao mercado, apresentando retração de 14,2%. Já o faturamento do subsetor Didáticos caiu 10,9%, enquanto o de Científicos, Técnicos e Profissionais caiu 6,7%.
O único subsetor que mostrou aumento nominal no faturamento, com as vendas ao mercado, foi o de Obras Gerais, que encerrou 2020 com R$ 1,3 bilhão, alta de 3,8% comparativamente ao ano anterior.
Leitura
Marcos Pereira disse que a leitura espontânea foi a tônica do ano passado. “Houve a redescoberta das pessoas com o livro e, curiosamente, também por conta da pandemia. Aí é o efeito contrário, de ter tempo, com a coisa da pessoa voltar àquele momento com ela mesma que a leitura proporciona. Faz parte do ato de ler você ter o seu espaço”.
Combinado a esse retorno à leitura, Marcos Pereira disse que ocorreu o fato de o varejo online ir se preparando ao longo da pandemia para atender essa demanda. As vendas das editoras para o canal de livrarias exclusivamente virtuais cresceram 84%, com faturamento de R$ 923,4 milhões em 2020. Marcos Pereira estimou que o crescimento das vendas das livrarias online aos consumidores, por sua vez, deve ter superado em muito esses 84%.
A pesquisa mostra ainda que as vendas para as livrarias físicas, por sua vez, caíram 32% em relação a 2019. O presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares, acredita em recuperação, apesar do ano difícil que a pandemia representou para o setor. “Acreditamos nessa recuperação, pois elas [livrarias físicas] são fundamentais para a descoberta de novos títulos pelo leitor e para o bom desempenho do mercado como um todo”, disse.
Lançamentos
As editoras brasileiras produziram, no ano passado, 46 mil títulos, dos quais 24% foram lançamentos (11.295), enquanto 76% foram reimpressões. O número de lançamentos caiu 17,4% em 2020, no comparativo com 2019.
O presidente do Snel, Marcos Pereira, prevê que este ano as vendas de livros didáticos para o mercado deverão apresentar grande queda também, porque “a volta às aulas foi ainda no ambiente de pandemia, no auge da crise [de saúde] no Amazonas e, depois, no resto do Brasil, com escolas e livrarias fechadas”.
O segmento de obras gerais, por outro lado, segundo Marcos Pereira, começou o ano crescendo a dois dígitos em relação a 2020. Ele reconhece que “é um desafio enorme a gente manter a leitura nos níveis atuais, porque não se sabe o que vai acontecer no momento em que a população estiver vacinada e as pessoas começarem a voltar a circular”.
“Será que elas vão manter o hábito de leitura como está hoje? Acho que isso depende até de nós mesmos”.
Mas com a reabertura das livrarias físicas, ele aposta em crescimento grande.
Edição: Fernando Fraga
Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Crédito de imagem: © Gui Maia/Cultura RJ