Mães em favelas têm pouco tempo para cuidar de crianças na pandemia

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© Tomaz Silva/Agência Brasil

A pesquisa O Brincar nas Favelas Brasileiras, uma parceria do Instituto Locomotiva com o Data Favela, traçou um panorama da criação e da educação de crianças de até 6 anos de idade que moram em favelas, considerando ainda o impacto da pandemia de covid-19.

Para dois terços das mães entrevistadas (66%), o cuidado com as crianças é a atividade que mais ocupa o tempo. Foram entrevistadas 816 mães, moradoras de favelas em São Paulo, Recife e Porto Alegre.

O estudo, divulgado na sexta-feira (28), mostrou que, com a pandemia, a sensação das mães é de que o tempo se tornou ainda mais escasso, especialmente para o cuidado de si próprias, da casa e das crianças ao mesmo tempo, sendo que 86% e 68% das respondentes apontaram, respectivamente, que enfrentam as duas situações no contexto atual.

Além disso, 63% das mães disseram ter dificuldade para ajudar as crianças nos estudos, devido à escassez de tempo; 62%, em conciliar o trabalho remunerado com os cuidados da casa e das crianças; e 50%, em encontrar tempo para brincar com as crianças. Uma mulher poderia apontar mais de uma situação.

“Com a pandemia, tanto para as mães que já ficavam em casa, ou para aquelas que passaram a ficar, o maior tempo de convivência com os filhos não as levou, necessariamente, a participar mais ativamente dos momentos de brincadeiras, já que boa parte desse tempo acabou sendo preenchida por intermináveis tarefas domésticas”, segundo o estudo.

Afazeres

Quando estão ocupadas em outros afazeres, 88% das mães recorrem às telas como um importante apoio. A pesquisa revelou que o acesso à televisão ou a vídeos de internet está permeado por descontrole sobre o conteúdo a que a criança tem acesso e o desejo de consumo despertado pelas telas.

Segundo os dados, 50% das mães de crianças que veem televisão ou vídeos na internet afirmam que o filho pede para comprar várias coisas que viram anunciadas e 33% relatam que ele vê coisas que a família não pode comprar.

Os dados revelaram ainda que o perfil dessas mães é majoritariamente composto de mulheres negras (83%) e solteiras (50%), 78% das mães se declaram chefe de família e 30% das chefes de família estão desempregadas.

Do total da amostra, 35% são donas de casa; 28% estão desempregadas; 18% são autônomas e trabalham por conta própria. A renda média das mães – entre aquelas que têm algum rendimento – é de R$ 827,25. As configurações familiares predominantes são mãe e filhos ou mãe, filhos e marido.

Lazer

As brincadeiras das crianças geralmente ocorrem junto com a mãe e irmãos, dentro de casa. Quando a mãe está ocupada, as crianças brincam sobretudo com irmãos ou sozinhas. Antes da pandemia, a escola e a creche tinham participação importante como espaço de brincar, sendo apontadas por 50% das mães. Após a pandemia, esse percentual caiu para 9%.

A brincadeira dentro de casa e do portão para dentro passou de 63% para 85% nas citações das entrevistadas. O quintal e o corredor lateral da casa passaram de 38% para 58%. Se antes, as brincadeiras ocorriam dentro de casa e na escola, atualmente elas se concentram dentro de casa e no quintal.

Quase metade das mães disse que gostaria que os filhos brincassem na escola ou no parquinho da comunidade. No entanto, em geral, as favelas carecem de estruturas de lazer para as crianças. Somente 29% das mães contam com um parquinho na comunidade.

“Em geral, muitas comunidades contam com pouca ou nenhuma opção de lazer – no máximo, alguma praça onde as crianças podem brincar no escorregador, balanço, gira-gira, trepa-trepa ou, quando muito, uma quadra onde podem jogar bola com outras crianças. Porém, há casos em que nem mesmo essa estrutura pode ser usada porque as mães alegam que há a presença de usuários de drogas”, ressalta o estudo.

Brincar fora de casa também implica medo para as mães. Questionadas sobre o que atrapalha ou impede as brincadeiras fora de casa, os principais motivos citados foram o uso de drogas ao ar livre (72%) e a violência no bairro ou na comunidade (64%).

Na etapa qualitativa da pesquisa, notou-se que, embora os espaços públicos das ruas onde ficam as casas tenham diferentes configurações, eles têm em comum o fato de apresentarem ao menos alguma precariedade. “O espaço da rua tende a ser evitado, quando a percepção de risco e perigo em relação à comunidade é elevada. Quando não é, as brincadeiras na rua são permitidas, desde que na presença de algum adulto observando”, diz a pesquisa.

Edição: Maria Claudia

Fonte: Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
Crédito de imagem: © Tomaz Silva/Agência Brasil