Maio Cinza chama atenção para o câncer de cérebro

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© Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima que serão diagnosticados este ano, no Brasil, 11.090 novos casos de câncer cerebral, sendo 5.870 homens e 5.220 mulheres. Atualmente, esse tipo de câncer ocupa a décima posição entre os tumores mais frequentes nas mulheres brasileiras e a décima primeira posição entre os homens. Com o impacto da doença na vida dessas pessoas, o Maio Cinza vem conscientizar a população sobre o tipo de câncer.

Esses números tendem a ser muito maiores se forem considerados, também, os tumores benignos do sistema nervoso central (SNC), que compreende o cérebro e a medula espinhal. Cerca de 88% dos tumores de SNC são no cérebro. A estimativa é que os tumores do SNC representem 3,1% do total de casos de câncer.

O cirurgião e chefe da Seção de Neurocirurgia do Inca,  Antonio Aversa, disse hoje (19) à Agência Brasil que a exposição à radioterapia prévia, em anos anteriores, pode aumentar o risco de tumor intracraniano, ou seja, no cérebro. O neurocirurgião oncológico e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), Victor Vasconcelos, concordou que radioterapia e a exposição à radiação, como raios-X e tomografias em excesso, são fatores que aumentam o risco para o desenvolvimento de tumores cerebrais. Os dois especialistas ressaltam a importância do Maio Cinza  para a conscientização da população para a prevenção dos tumores do cérebro.

Doença multifatorial

O câncer cerebral é uma doença multifatorial. “Fora a radioterapia, não tem nenhum outro fator ambiental ou familiar que aumente a chance da pessoa desenvolver um tumor cerebral. Sabe-se que tem algumas alterações moleculares genéticas que acontecem nesses tumores, mas em sua grande maioria não tem nenhuma causa identificada”, afirmou Aversa. Segundo o cirurgião do Inca, o Maio Cinza é importante para que a pessoa, ao notar algum sintoma diferente, possa procurar o médico e começar o tratamento precoce. Victor Vasconcelos destacou, também em entrevista à Agência Brasil, que é importante estar atento aos sintomas de alarme para se buscar um especialista.

Dor de cabeça persistente e progressiva, vômito, convulsão, alterações visuais, motoras, da fala, formigamento são sintomas comuns em adultos e crianças, disse Victor Vasconcelos. “Esses são sinais de alarme, principalmente associados à dor de cabeça”, explicou. Antonio Aversa salientou que também crise epiléptica pode ser sintoma de tumor no cérebro. “Principalmente em adultos na faixa etária de 40 a 50 anos de idade, se aparecer crise epiléptica deve investigar logo, porque pode ser um tumor cerebral”, indicou. Os tumores cerebrais costumam ocorrer em pessoas adultas, em especial adultos mais velhos, embora sejam comuns na infância. “Os tipos de tumor sólido mais comuns na infância são os tumores cerebrais. Só perdem para as leucemias”.

Nos menores de idade, esses sinais devem alertar os país para procurar logo o médico para pedir exame, indicou Antonio Aversa. O neurocirurgião oncológico Victor Vasconcelos acrescentou que em crianças na faixa etária de 5 a 12 anos de idade, esse é o câncer mais comum. Na rede primária de saúde, o atendimento é feito por um clínico ou neurologista; se for comprovada a alteração, o paciente é encaminhado para um atendimento neurocirúrgico e submetido a exames de tomografia e ressonância magnética.

Sobrevida

Segundo o chefe da Seção de Neurocirurgia do Inca, o tumor maligno mais comum no cérebro é o glioblastoma. Esse é o tumor cerebral mais comum nos adultos e também o mais agressivo. “Quase sempre é fatal”. Mesmo com tratamento, consegue-se, no máximo, de dois até três anos de sobrevida, mas a cura é quase impossível, assegurou Aversa. Já alguns tumores menos agressivos, considerados de baixo grau de malignidade, podem ser tratados com sobrevida longa. Victor Vasconcelos salientou que mesmo esses tumores podem ter sequelas graves para o paciente na área da visão, da fala e do movimento. Na infância, o médico do Inca informou que há tumores malignos que podem ser curados e apresentam taxa de cura de 70% a 80%.  “O panorama nas crianças é bem melhor”, destacou Aversa.

Antonio Aversa explicou que quanto mais profundo no cérebro e se, principalmente, envolver uma região chamada tronco cerebral, é muito mais difícil, o tratamento e a evolução são pior. Não se consegue remover toda a lesão. As lesões superficiais são mais fáceis de serem removidas em sua totalidade e indicam necessidade de fazer depois radioterapia e quimioterapia. Nos tumores benignos chamados meningiomas, que aparecem nas membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, a maior prevalência é em mulheres. Nos tumores malignos, a incidência entre os sexos é semelhante. É muito comum, por outro lado, que pessoas que têm câncer em outras regiões do corpo, como os cânceres de pele, mama e pulmão, darem metástese no cérebro, gerando tumores cerebrais secundários, que não entram na listagem de tumores intracranianos primários.

Victor Vasconcelos lembrou também a relevância de se falar no tema do tumor cerebral na véspera do Dia Mundial da Cefaleia, que se celebra amanhã (20). Aludiu ao caso das enxaquecas. “Dor de cabeça pulsátil, de forte intensidade, podendo ser acompanhada de náuseas e vômitos ou intolerância à luz ou ao som, incômodo com barulho ou cheiro forte, sugere uma dor de cabeça benigna e que merece algum tratamento, mas não nos alarma com relação ao tumor de cérebro”. Segundo o neurocirurgião oncológico, o que diferencia a enxaqueca do tumor cerebral é a progressão. “Ou seja, uma dor de cabeça que está piorando com o tempo ou pessoas que nunca tiveram dor de cabeça e começaram a ter crises. A mudança desse padrão é o que se deve frisar”, aponto Vasconcelos.

Edição: Aline Leal

Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Crédito de imagem: © Tânia Rêgo/Agência Brasil