“Eu já quebrei garrafa, já quebrei TV, micro-ondas…” Quem conta é Hilton Marcondes, que é vendedor, mora em São Paulo e anda meio estressado com essa história de pandemia. Mas, antes de sair quebrando tudo, ele foi até a Rage Room, em português, a Sala da Raiva. Um lugar onde a regra é extravasar quebrando tudo.
“A gente ficou meio com raiva, né, e essa sala de raiva veio pra gente extravasar de uma forma eficaz”, ressalta Marcondes.
A sala de 35 metros quadrados fica em Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista. Ela foi preparada para a destruição. No fundo, prateleiras exibem os objetos que podem ser quebrados. Uma espécie de cardápio da casa. Quem explica é Vanderlei Rodrigues, um dos criadores da Rage Room: “Por exemplo, um micro-ondas é R$ 15, uma TV, nós temos a partir de R$ 20, e 15 garrafas, por R$ 10.”
Aí, é só colocar o capacete, os óculos de proteção e luvas, escolher a trilha sonora, pegar o tacos de beisebol, um pé de cabra ou a marreta e, literalmente, descer o sarrafo. A sensação no final: “Muito, muito, muito desestressante. É pra relaxar mesmo”, conta Vanderlei Rodrigues.
A psicóloga Ana Paula Ricarte gosta da ideia de ter um lugar protegido para as pessoas extravasarem a raiva. “A raiva é uma emoção igual a todas as outras, porém, muitas vezes reprimida internamente ou externamente. Se você não tem autorização interna ou externa para expressar a raiva de forma correta, vai acabar disfarçando a raiva em tristeza ou outro disfarce quando a pessoa não tem autorização para expressá-la corretamente, é a vingança.”
Não deve ser por acaso que Vanderlei tem visto crescer o público feminino na Rage Room. Ele diz que, de cada dez pessoas que buscam a sala, oito são mulheres e complementa: “A sociedade sempre proíbe a mulher. Ah, não pode sentar assim, não pode ficar assim, não pode falar desse jeito e aí quando chegam aqui é um lugar livre, né! Me chamam de coach da raiva, que, quando elas chegam ao local, não querem quebrar. Quebram, mas ficam com medo, com receio ainda de não poder e tal e, quando começam a quebrar, elas começam a se animar, e a quebrar mais coisas.”
E depois que tudo virou caco, o roda da sustentabilidade gira. Os produtos que estão na sala vêm de um ferro-velho local ou de catadores que trabalham na região. Depois de quebrados, voltam para o ferro-velho e seguem para reciclagem.
Salas como a Rage Room já existem em outros países desde 2008. Além de São Paulo, existe um espaço semelhante no Recife.
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Edição: Roberto Piza / Beatriz Arcoverde/ Valéria Aguiar
Fonte: Eliane Gonçalves – Repórter da Rádio Nacional – São Paulo
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