“Ela o denunciou, mas acabou por ser morta” é a mensagem que acompanha as fotomontagens do artista italiano aleXsandro Palombo. O autor pretende “denunciar, consciencializar e chamar a atenção” sobre a agressão às mulheres, criticando a falta de proteção real. As representações de Letizia Ortiz e de Kamala Harris com nódoas negras, ou o nariz em sangue de Ursula von der Leyen, correspondem a reflexões e alertas para a existência de vítimas de abusos em qualquer setor da sociedade.
São todas mulheres proeminentes da vida política e social internacional. Todas são representadas como vítimas de violência doméstica, espancadas, com rostos inchados, nódoas negras, lábios e nariz em sangue.
Para esta campanha internacional contra a violência, aleXsandro Palombo utilizou as imagens de: Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, Kate Middleton, duquesa de Cambridge, Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, Marine Le Pen, líder do partido francês União Nacional de extrema direita, Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, Letizia Ortiz, rainha da Espanha. Trata-se do último trabalho do artista italiano que, além de chamar a atenção para o fato de os abusos serem transversais na sociedade, também critica as instituições e autoridades por darem uma falsa segurança às vítimas.
“Por que é que uma mulher deve denunciar a agressão se depois da denúncia ela não é protegida pelas instituições e acaba por ser morta? Como pode uma mulher vítima de abuso e violência ainda ter fé nas instituições? Vejo apenas a política a convidar mulheres a denunciar os casos, mas sem assumir a responsabilidade de dar proteção e apoio às vítimas. Um Estado que não protege e deixa as mulheres sozinhas nas mãos do agressor, torna-se cúmplice silencioso” disse aleXsandro Palombo, citado na publicação Il Giorno de Milano.
“São muitas as associações de voluntários que, com pouquíssimos meios, procuram apoiar as vítimas, mas cabe à política, às instituições e ao Estado assumir essa responsabilidade”, acrescentou.
Em Paris, os pôsteres com o rosto da Anne Hidalgo coberto de hematomas e o nariz de Marine Le Pen cheio de sangue, em frente do Hôtel de Ville, desafiam e surpreendem as pessoas que passam.
Na Espanha, a exposição das fotomontagens é protagonizada pela rainha Letizia “maltratada”.
A Plaza del Ayuntamiento de Los Alcázares, em Múrcia, é o local onde o artista italiano faz o lançamento global da última campanha, que marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
“AleXsandro Palombo lembra-nos, com força e nitidez, a verdade nua e crua da violência sofrida pelas mulheres na Europa e no mundo”, dizem os organizadores da exposição espanhola. Eles destacam que “os rostos a sangrar mostram, ao mesmo tempo, a urgência da situação para todas as mulheres, mas também para as mais “poderosas” que, como outras, podem morrer sob os golpes de um homem”.
“A responsabilidade recai sobre nós”, afirma a historiadora francesa Christelle Taraud, especialista em história da mulher, género e sexualidade e professora na Universidade de Columbia, em Nova York. Citada no El Periodico de Aragon, Taraud diz que o trabalho de aleXsandro Palombo é também “um apelo à resistência e à luta, bem como uma forma de relembrar aquelas mulheres que dispõem de meios políticos para tornar o sistema eficaz.
A campanha internacional começou nesta semana com inúmeros pôsteres colocados nas ruas de várias cidades europeias, acompanhados do texto: “Ela o denunciou. Mas ninguém acreditou nela . Mas ela foi deixada sozinha. Mas ela não foi protegida. Mas ele não foi preso. Mas ela foi morta de qualquer maneira”.
Fonte: RTP – Lisboa
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